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130 Drogas no Brasil – Entre a saúde e a justiçae resolver confl itos sociais, sejam estes de maior ou menor amplitude, determinantes dosdestinos do mundo ou episódicos 26 .A reprodução da cultura do medo na atualidade, embora não de forma exclusiva,deve muito à ideologia do proibicionismo, uma vez que tal ideologiaalimenta a ideia de um inimigo que perturba a “ordem social e democrática”,e como tal, pela lógica conservadora, deve ser eliminado. A produção ideológicade inimigos (internos e externos) é uma estratégia recorrente de controlee dominação no interior da sociabilidade burguesa 27 . Desse modo, não é casualque a ideologia do proibicionismo tenha se fortalecido num contexto dearrefecimento da “ameaça comunista”, muda-se o inimigo, mas preserva-seo poder das armas. Às causas da barbárie cotidiana experimentada pela classetrabalhadora empobrecida se atribui quase que exclusivamente a violênciaassociada ao narcotráfico e, do ponto de vista dominante, ignora-se tanto ocaráter violento e desumano da mercantilização da vida quanto o fato de estaser uma forma necessária aos domínios da ordem do capital.Com essas indicações, nos aproximamos de um dos aspectos da real funçãoque o proibicionismo e a legislação brasileira de drogas vêm desempenhandono interior da totalidade social. Ao promover no imaginário social a ideia deque o traficante é um inimigo da “ordem e da democracia”, um “câncer” queprecisa ser “extirpado do organismo social”, forja uma base de legitimidadesocial que aceita, aplaude e reivindica o recrudescimento da intervenção repressorado Estado. Dialeticamente, legitima que o uso de psicoativos ilícitosseja tratado em primeiro lugar como uma questão de polícia, relegando àsaúde coletiva atribuições menos prioritárias e subalternizadas no âmbito daassistência e da prevenção. O prioritário e o subalterno, aqui mencionados,podem ser medidos pelo montante de recursos públicos destinados à repressãoe aqueles destinados à saúde, especialmente para os dispositivos de saúdemental previstos na Reforma Psiquiátrica.Assim, o proibicionismo tem cumprido um papel ideológico ao alimentaro círculo vicioso da cultura de guerra, do medo e da insegurança, dando le-26LUKÁCS, G. Para uma ontologia do ser social, 2. 1ª Edição. São Paulo: Boitempo, 2013,p. 467. Grifos nossos.27Na verdade, no interior das sociedades de classes.

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