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As religiões ayahuasqueiras do Brasil 259tradição de uso da ayahuasca, espalhada em diferentes regiões da Amazônia,quanto a outras tradições, não necessariamente vinculadas a esse uso. Nessesentido, é importante notar a presença, na UDV, de narrações míticas nasquais os seres humanos se transformam em vegetais. O mito principal daUDV, designado de a “História da Hoasca”, por exemplo, consiste num extensorelato sobre a história da criação e da origem das plantas que compõemo vegetal. Um dos pontos centrais desse relato é, justamente, a transformaçãode um homem e de uma mulher, respectivamente, no cipó e na folha utilizadospara a confecção do vegetal.Conforme já coloquei (Goulart, 2004), essa temática da metamorfose deseres humanos em espécies vegetais, e vice-versa, é própria de vários gruposindígenas e caboclos amazônicos, fazendo parte, inclusive, de uma culturaseringueira de certas regiões brasileiras. Com relação às tradições de uso daayahuasca, é comum encontrar, entre povos indígenas que utilizam a bebida,histórias nas quais personagens humanos se transformam no cipó ou nas folhas.Luna e Amaringo (1993) constatam narrações desse tipo entre diferentesgrupos, como os Záparo do Equador e alguns povos indígenas do Peru. Portanto,nesse ponto, é visível a proximidade dos conteúdos cosmológicos daUDV com temas de um universo cultural amazônico.É possível, ainda, estabelecer relações entre várias expressões e noções recorrentesna UDV e concepções dos curadores ayahuasqueiros mestiços peruanos,os “vegetalistas”. É o caso das expressões “mariri” e “chacrona”, palavrasde origem quíchua, que, segundo Luna (1986), são termos utilizados pelosvegetalistas. Na UDV, esses termos também são usados, “mariri” se aplica aocipó Banisteriopsiscaapi e “chacrona” às folhas da Psychotriaviridis 29 , as duasplantas utilizadas para a elaboração do vegetal.Essas palavras, inclusive, possuemum forte teor simbólico para os fiéis desta religião, e o seu significado éexplicado no mito principal da UDV, a “História da Hoasca”. A própria designaçãovegetal, aplicada à bebida consumida ritualmente na UDV, é utilizada,também, por várioscuradores peruanos, de acordo com Luna (1986). Eles a29No contexto peruano ayahuasqueiro, estudado por Luna (1986), maririé uma espécie defleuma que atua como imã mágico localizado no peito dos curadores e que serve para extrairo “mal” do corpo dos doentes. Já chacrona, como na UDV, é a designação dada às folhasusadas para a elaboração da bebida ayahuasca.

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