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240 Drogas no Brasil – Entre a saúde e a justiçagrupos. Edward MacRae, assim, argumenta que, no caso do grupo do SantoDaime, ocorre uma utilização de uma droga psicoativa com efeitos completamentecontrários aos geralmente enfatizados pelos “propagandistas da guerraàs drogas” (MacRae, 1992, p. 16). Nesse trabalho e em outros mais recentes(2005), MacRae parte das reflexões do pesquisador Norman Zinberg (1984),o qual distingue entre padrões de uso de drogas que envolvem “controles sociaisinformais” e outros, que não possuem esses controles e que, por isso,tenderiam à compulsão.Neste artigo, me inspiro nessa argumentação. Sustento que o caso das religiõesayahuasqueiras envolve o uso de uma substância psicoativa, mas, queesse uso só pode ser compreendido quando relacionado a todo um conjuntode fatores de distinta ordem. Assim, determinadas tradições, manifestaçõesreligiosas e certos cenários históricos, sociais e culturais fundamentam o usoda bebida psicoativa ayahuasca entre os fiéis desses cultos. Esse conjunto defatores orienta a construção dos efeitos desta bebida nos contextos específicosde cada uma destas religiões. Nesse sentido, o caso das religiões ayahuasqueirasé bom para despertar nossa atenção para o fato de que o uso de drogas nãopode ser reduzido a explicações farmacológicas. Ao contrário, ele é mediadopor processos culturais, históricos, políticos, identitários, bem como por subjetividadesparticulares.Essa posição pode parecer, para alguns, demasiada culturalista e, nesse sentido,ir contra a corrente atual, em boa parte das ciências sociais, em especialda antropologia, que valoriza uma perspectiva que destaca a interligação deobjetos naturais e sociais, de agências humanas e não humanas. A perspectivaanalítica a que me refiro é, sobretudo, inspirada nos argumentos desenvolvidospor Bruno Latour (1994) que enfatizam a importância de se desconstruira noção da “macrossociedade”, fechada em si mesma. Na ótica de Latour osocial não pode ser reduzido ao social, pois ele é constituído por uma redeheterogênea, formada de humanos e humanos.Entretanto, os estudos sobre drogas, historicamente, e não apenas no Brasil,têm privilegiado uma abordagem das ciências biomédicas, as quais tendema ressaltar a ação de fatores farmacológicos sobre os sujeitos que utilizamessas substâncias. A partir deste tipo de visão, se disseminaram argumentoscomo aqueles da “droga má”, “perversa”, “invencível”. Nesse sentido, nesse

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