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As percepções dos brasileiros sobre drogas, justiça e saúde 79Os percentuais de respostas encontrados na pergunta 13 estão bastanteaproximados do percentual da pergunta 11, na qual 65% apoiam políticasde saúde aos usuários e 30% apoiam que as políticas públicas destinadas aosusuários de drogas sejam relacionadas parcial ou integralmente com o sistemade justiça criminal (p. 300).O dado relevante trazido à tona por essa pergunta é que, cada vez mais,cresce a rejeição da abordagem do sistema de justiça criminal em relação aouso de drogas. Mais ainda, pode-se pensar numa mudança de mentalidadeda sociedade que começa a apoiar cada vez mais o uso de drogas como sendoassunto de intervenção do sistema de saúde e menos do sistema de justiça criminale, portanto, rejeita opções de políticas relacionadas às criminalizaçõesdos usuários de drogas.Contudo, cabe observar que somente 12% dos entrevistados defendemque é o próprio usuário de drogas que deve decidir sobre as políticas públicassobre drogas. Pode dizer que o usuário ainda é representado pela maioriados entrevistados como um indivíduo sem potencial de decisão e que deveser tutelado ora pelo saber médico, ora pelo saber penal/criminal, mas quequase nunca é visto como um sujeito de direitos. Os dados, por conseguinte,refletem o próprio caráter desigual, contraditório e político de todo o sistemasociocultural que permite entender esses comportamentos 20 .O “drogado” transita entre uma acusação desviante (ora criminal, ora médica),mas que assume explicitamente uma dimensão política sendo tambémuma acusação totalizadora que contamina, muitas vezes, toda a vida dos indivíduosacusados estigmatizando-os de forma, talvez, definitiva como um“doente” ou “criminoso” (Velho, 1977, 2004).Assim sendo, se por um lado a pesquisa aponta que a opinião pública avançaem relação à rejeição da intervenção do sistema criminal – o que é um claroavanço em termos de direitos humanos mediante a quantidade de pessoas quejá foram presas no Brasil pelo simples uso de drogas – por outro lado há dese ter muita cautela em não trocarmos a tutela do saber criminal pelo médico20A teoria interacionista do desvio, ao focalizar, especialmente através de Howard Becker, oproblema da acusação de desvio como forma de conflito político aponta para os mecanismosde poder envolvidos na negociação da realidade, desmistificando os modelos funcionalistasde patologia social (Becker, 1963).

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