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92 Drogas no Brasil – Entre a saúde e a justiçalegislar sobre as “tecnologias de si”, que permitem aos indivíduos efetuarem“um certo número de operações em seus próprios corpos, almas, pensamentos,conduta e modo de ser, de modo a transformá-los com o objetivo de alcançarum certo estado de felicidade, pureza, sabedoria, perfeição ou imortalidade”(Foucault, 2004).Carneiro (2008, p. 66) reflete que se na antiguidade clássica a filosofiaocidental nasce a partir de um postulado de autoconhecimento – o lema délfico“conhece-te a ti mesmo” – esta atitude torna-se posteriormente, na épocaalexandrina, “um princípio de gestão de si por meio de diversas técnicas quedefiniriam a noção de um ‘cuidado de si’, onde um modelo médico, de cuidadospermanentes consigo, substitui o modelo pedagógico socrático anterior”.Posteriormente, com o advento do cristianismo, caminha-se para uma “apropriaçãoclerical dessas técnicas de matriz estoica”, tornando-as públicas, pormeio da confissão e da penitência, “e baseando-as totalmente no princípio daobediência a um outro (um mestre ou diretor de consciência), o que significou,portanto, a emergência de um modelo de renúncia de si como ideal éticoe moral” (Ibidem). Do cuidado de si, passa-se para o sacrifício de si.“O modelo cristão da renúncia de si acompanhar-se-á de um modelo dasaúde como salvação da alma, onde o uso de fármacos é condenado, no lugardos quais, se prescreverá, além da confissão e da penitência, o uso de recursospios: orações, relíquias, peregrinações etc.”, e o conhecimento de si passa a sera obrigação de dizer a verdade sobre si não mais para si mesmo, mas para umoutro, um confessor ou diretor.Mais do que a preservação, manutenção e conservação da força de trabalho,o que está em jogo são os efeitos econômico-políticos da acumulação doshomens (Foucault, 1982), é o controle das populações. “Os traços biológicosde uma população se tornam elementos pertinentes para uma gestão econômicae é necessário organizar em volta deles um dispositivo que assegure nãoapenas a sua sujeição, mas o aumento constante de sua utilidade”, sintetiza ofilósofo francês (Ibidem, p. 198).Deriva daí o atual estágio do que João Biehl (2008) qualifica como “biocapitalismo”,um cenário no qual, na interface entre discursos do capitalismoe da ciência, constitui-se “um novo tipo de proletariado” formado por“psicobiologias hiperindividualizadas, fadadas a consumir diagnósticos e tra-

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