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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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99<br />

FORMAS E OBJETOS.<br />

UM EXAME DAS INSTRUÇÕES CIENTÍFICAS PORTUGUESAS DE VIAGEM DO<br />

SÉCULO XVIII<br />

Fre<strong>de</strong>rico Tavares <strong>de</strong> Mello Abdalla<br />

Mestran<strong>do</strong> em História pela<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Paraná<br />

f_tma@bol.com.br<br />

RESUMO: De acor<strong>do</strong> com um movimento geral <strong>de</strong> corrida científica das principais potências<br />

européias, as Viagens-Filosóficas foram empreendimentos patrocina<strong>do</strong>s pelo Esta<strong>do</strong> português na<br />

segunda meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XVIII com o intuito <strong>de</strong> alavancar as investigações científicas nos<br />

<strong>do</strong>mínios coloniais. Nesse quadro, a História Natural tornou-se campo privilegia<strong>do</strong> <strong>do</strong> saber, uma<br />

vez que a empreitada teve como objetivo principal a coleta <strong>de</strong> espécimes naturais para o<br />

enriquecimento <strong>de</strong> um Museu <strong>de</strong> História Natural em Lisboa. Antes <strong>de</strong> serem <strong>de</strong>spacha<strong>do</strong>s para<br />

as colônias, os viajantes-naturalistas <strong>de</strong>veriam ser submeti<strong>do</strong>s a uma etapa preparatória <strong>de</strong><br />

viagem, em que seriam instruí<strong>do</strong>s para uma melhor observação da natureza a fim <strong>de</strong> obterem<br />

maior aproveitamento das expedições. Para isso, foram redigi<strong>do</strong>s manuais <strong>de</strong> instruções que,<br />

constituí<strong>do</strong>s enquanto gênero literário, estavam filia<strong>do</strong>s a uma tradição <strong>de</strong> manuais <strong>de</strong> viagem<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XVII. Contu<strong>do</strong>, é possível perceber o incremento que sofreram conforme as<br />

exigências teóricas próprias que a ciência vinha <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong>. Nas instruções estão contidas<br />

todas as orientações imprescindíveis para a operacionalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> viajante e o seu olhar para a<br />

natureza. A tarefa, por ora proposta, consiste em examinar formas e objetos nas instruções<br />

científicas portuguesas <strong>de</strong> viagem <strong>do</strong> século XVIII, atentan<strong>do</strong> para suas estruturas, seções e<br />

tratamentos temáticos, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> arte <strong>de</strong>sse gênero em sua tradição<br />

literária.<br />

PALAVRAS-CHAVE: viagem-filosófica; instruções <strong>de</strong> viagem; viajante-naturalista<br />

AS VIAGENS-FILOSÓFICAS<br />

No século XVIII, o interesse generaliza<strong>do</strong> das principais potências européias pelas ciências<br />

da natureza traduz o projeto enciclopédico <strong>do</strong> iluminismo <strong>de</strong> realizar um extenso inventário <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> natural. França, Inglaterra e, a seguir, a Espanha empreen<strong>de</strong>ram expedições em escala<br />

global para coletar espécimes da natureza nos mais remotos cantos <strong>do</strong> planeta. O objetivo era<br />

enriquecer os Museus <strong>de</strong> História Natural e fomentar o <strong>de</strong>senvolvimento da ciência, próprio motor<br />

<strong>do</strong> progresso humano. De acor<strong>do</strong> com esse movimento geral <strong>de</strong> corrida científica, as Viagens-<br />

Filosóficas foram empreendimentos patrocina<strong>do</strong>s pelo Esta<strong>do</strong> português na segunda meta<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

século XVIII com o intuito <strong>de</strong> alavancar as investigações científicas nos <strong>do</strong>mínios coloniais. 1 Com<br />

o reformismo pombalino das instituições <strong>de</strong> ensino, a Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra tornar-se-ia um<br />

pólo <strong>de</strong> fomento ao saber e à ciência mo<strong>de</strong>rna logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> concluída sua reforma em 1772.<br />

Nesse contexto, o italiano Domenico Van<strong>de</strong>lli foi nomea<strong>do</strong> lente <strong>do</strong>s cursos <strong>de</strong> História Natural e<br />

Química daquela instituição, além <strong>de</strong> lhe ser atribuída a responsabilida<strong>de</strong> pela direção <strong>do</strong> Jardim<br />

da Ajuda em Lisboa e pela criação <strong>de</strong> um Museu <strong>de</strong> História Natural e um Jardim Botânico em<br />

1 Sobre as expedições portuguesas, ver SIMON, W. J. Scientific expeditions in the portuguese overseas<br />

territories (1783-1808). Lisboa: Instituto <strong>de</strong> Investigação Tropical, 1983.

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