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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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369<br />

Assim consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>, através da força das obras <strong>do</strong> poeta, e por causa <strong>de</strong>las, o gênio<br />

nacional po<strong>de</strong>ria florescer; sua linguagem possuía um alcance original formativo, comparável ao<br />

trabalho <strong>do</strong> legisla<strong>do</strong>r e próximo <strong>do</strong> visionário místico e profético. A linguagem <strong>do</strong> poeta<br />

transcen<strong>de</strong>ria a especulação <strong>do</strong> filósofo, a ativida<strong>de</strong> política e a ciência que ela possibilita, elucida<br />

e perpetua (NUNES, 2008; p. 62). No trabalho acima cita<strong>do</strong>, não apenas nesta passagem, como<br />

também em outro momento, Shelley realça o papel <strong>do</strong> poeta afirman<strong>do</strong> ser ele o ―autor da mais<br />

alta sabe<strong>do</strong>ria, prazer, virtu<strong>de</strong> e glória‖ e conclui este pensamento dizen<strong>do</strong>: ―<strong>de</strong>ixemos que o<br />

tempo seja <strong>de</strong>safia<strong>do</strong> a <strong>de</strong>clarar se a fama <strong>de</strong> qualquer outro institui<strong>do</strong>r da vida humana seja<br />

comparável à da <strong>de</strong> um poeta‖. 23 O homem i<strong>de</strong>al <strong>de</strong>ixou então <strong>de</strong> ser o filósofo <strong>do</strong> século das<br />

luzes, passan<strong>do</strong> a ser o artista. 24<br />

Na visão classicista, a produção <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> arte era fruto da habilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> artista, que era<br />

visto como um homem engenhoso que busca aproximar-se da perfeição, seguin<strong>do</strong> para tanto as<br />

regras <strong>do</strong> bem dizer e <strong>do</strong> bem fazer e imitan<strong>do</strong> também os mestres que se aproximavam <strong>de</strong>ssa<br />

concepção <strong>de</strong> perfeição. No romantismo, o objetivo não foi alcançar a perfeição estética e<br />

racional, pois conforme afirmou Blake em seus provérbios <strong>do</strong> inferno, ―O Progresso constrói<br />

estradas retas; mas as estradas tortuosas, sem o Progresso, são estradas da Genialida<strong>de</strong>‖. 25<br />

Dessa forma a obra <strong>de</strong> arte já nascia completa, ela não po<strong>de</strong>ria, nem <strong>de</strong>veria ser retocada pelos<br />

critérios <strong>de</strong> perfectibilida<strong>de</strong>.<br />

Levan<strong>do</strong>-se em conta essas afirmações, po<strong>de</strong>-se dizer, com Hobasbawm, que o artista,<br />

aparta<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma função antes reconhecida e apoiada por patronos e por um público restrito,<br />

encontrou-se só, e <strong>de</strong>sse mo<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>rou-se um gênio, que criava somente aquilo que levava<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si, e que tinha como <strong>de</strong>safio um público cujo único direito em relação a ele era aceitá-lo<br />

da maneira como era ou rejeitá-lo completamente. (HOBSBAWM, 2005; p. 362). Notamos também<br />

outra transformação, através da ampliação das ativida<strong>de</strong>s da imprensa, na qual arte ao ser<br />

encarada como um <strong>de</strong>ntre vários tipos <strong>de</strong> produção, <strong>de</strong>notou que o fator econômico adquiriu um<br />

status ―[...] autônomo e <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>r em relação ao conjunto das instituições sociais apontan<strong>do</strong>,<br />

simultaneamente para a primazia <strong>do</strong> lucro.‖ (LÖWY; SAYRE, 1995; p. 76).<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> ser reconheci<strong>do</strong> enquanto artista, Blake <strong>de</strong>senvolveu sua arte literária e<br />

visual, pautada nesse conceito <strong>de</strong> genialida<strong>de</strong> peculiar, buscan<strong>do</strong> formas próprias para expressar<br />

sua arte. E através <strong>de</strong>la po<strong>de</strong>mos perceber a forma como ele foi capaz <strong>de</strong> lançar um olhar crítico<br />

sobre a vida <strong>de</strong> pessoas que, como ele, estavam sofren<strong>do</strong> os <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramentos da ―dupla<br />

revolução‖ na Inglaterra.<br />

23<br />

SHELLEY, Percy Bysshe, 1792-1822. Uma Defesa da Poesia e Outros Ensaios/ Edição bilíngüe:<br />

português/inglês. Tradução <strong>de</strong> Fabio Cyrino e Marcella Furta<strong>do</strong>. São Paulo: Landmark, 2008. (p. 118).<br />

24 BAUMER, Franklin L. ―O Mun<strong>do</strong> Romântico‖. In: O Pensamento Europeu Mo<strong>de</strong>rno, 2º volume.<br />

Tradução <strong>de</strong> Maria Manuela Alberty. Lisboa: Edições 70, Lda., 1990. (p. 40).<br />

25 BLAKE, William (1757-1827). William Blake: poesia e prosa selecionadas/ Edição bilíngüe. Introdução,<br />

seleção, tradução e notas Paulo Vizioli. São Paulo: Nova Alexandria, 1993. (p. 95).

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