14.10.2014 Views

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

493<br />

priva<strong>do</strong> <strong>de</strong> homens ou seres com a mesma capacida<strong>de</strong> intelectual, seria um mun<strong>do</strong> priva<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

tempo, on<strong>de</strong> não encontraríamos relógios, calendários, ou construções <strong>do</strong> gênero.<br />

Há uma diversida<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> construções e concepções temporais como<br />

há em números os grupos e socieda<strong>de</strong>s que se distinguem uns <strong>do</strong>s outros. Assim,<br />

compreen<strong>de</strong>mos o tempo também como ―representação‖ <strong>do</strong> grupo social que o forja. Olhemos<br />

para o Oci<strong>de</strong>nte, especialmente para a socieda<strong>de</strong> industrial, e encontraremos uma forma muito<br />

difusa <strong>de</strong> se conceber e contar o tempo. O tempo <strong>do</strong> Oci<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong>ntre outras formas <strong>de</strong><br />

representações menos difusas, po<strong>de</strong> ser visto como o tempo <strong>do</strong> relógio, o tempo cronometra<strong>do</strong><br />

que, como tal, exerce uma função quan<strong>do</strong> pensa<strong>do</strong> socialmente:<br />

Sabe-se que os relógios exercem na socieda<strong>de</strong> a mesma função que os<br />

fenômenos naturais – a <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> orientação para homens inseri<strong>do</strong>s numa<br />

sucessão <strong>de</strong> processos sociais e físicos. Simultaneamente, sevem-lhes, <strong>de</strong><br />

múltiplas maneiras, para harmonizar os comportamentos <strong>de</strong> uns para com os<br />

outros, assim como para adaptá-los a fenômenos naturais, ou seja, não<br />

elabora<strong>do</strong>s pelo homem. 9<br />

Além <strong>de</strong> situar o indivíduo nos eventos naturais, o tempo <strong>do</strong> relógio ajuda-o a se<br />

organizar perante o meio em que vive. É por meio <strong>de</strong>le que se convencionam os horários <strong>de</strong><br />

entrada e saída <strong>do</strong> trabalho, os horários <strong>do</strong>s encontros, <strong>do</strong>s cultos, <strong>de</strong> lazer, a duração das<br />

ativida<strong>de</strong>s, entre outros. A rigor, o tempo <strong>do</strong> relógio para as socieda<strong>de</strong>s oci<strong>de</strong>ntais industriais,<br />

configurou-se com o passar <strong>do</strong>s anos, como uma construção essencial para a sobrevivência,<br />

tornan<strong>do</strong>-se uma representação <strong>de</strong> tempo muito eficaz para o meio em que se concretizou, isto é,<br />

o meio capitalista.<br />

Entre os principais aspectos, o tempo apresenta-se socialmente como regula<strong>do</strong>r,<br />

pois estabelece os tempos das tarefas, <strong>do</strong>s eventos; é também cognitivo, pois por meio <strong>de</strong>le<br />

sabemos em que época estamos, quantos anos temos, quantos anos se passaram <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> evento ou referência, o que <strong>de</strong>terminada época significa para nós e o que significa<br />

para o próprio curso da história. O tempo, assim, é uma ―instituição‖ 10 que acompanha a<br />

socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma que o indivíduo não forja seu tempo sozinho, mas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto,<br />

respeitan<strong>do</strong> uma visão <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> que apren<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascimento até sua morte; o tempo é uma<br />

―instituição regula<strong>do</strong>ra‖.<br />

Pensar o tempo como construção social, atribuin<strong>do</strong>-lhe a característica <strong>de</strong><br />

instituição capaz <strong>de</strong> transformar as visões <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s indivíduos, conforme nos apresenta<br />

Norbert Elias, faz-nos cair em um problema capital para a concepção temporal <strong>do</strong> Oci<strong>de</strong>nte,<br />

especialmente das socieda<strong>de</strong>s industriais: o problema da serialida<strong>de</strong> <strong>do</strong> tempo 11 ; este, nos remete<br />

para a questão da irreversibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> tempo, apontan<strong>do</strong> para uma visão <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> linear e<br />

9 Ibid. p. 8.<br />

10 Ibid. p. 15.<br />

11 BOSI, Alfre<strong>do</strong>. O tempo e os tempos. In: NOVAES, Adauto (org.). Tempo e História. São Paulo: Cia<br />

das Letras, 1992. p. 20, para uma análise da questão da serialida<strong>de</strong> <strong>do</strong> tempo <strong>do</strong> oci<strong>de</strong>nte.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!