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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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361<br />

O ROMANTISMO INGLÊS COMO FENÔMERO HISTÓRICO NA TRANSIÇÃO ENTRE OS<br />

SÉCULOS XVIII E XIX NA POESIA DE WILLIAM BLAKE<br />

Flavia Maris Gil Duarte<br />

Mestranda em história social (UEL)<br />

flavitaduarte@hotmail.com<br />

RESUMO: Este trabalho preten<strong>de</strong> analisar a literatura romântica inglesa como parte constitutiva<br />

da experiência histórica na transição entre os séculos XVIII e XIX. Essa experiência é<br />

representada, por exemplo, nos trabalhos <strong>de</strong> William Wordsworth, S. T. Coleridge, P. B. Shelley e<br />

William Blake. Através da literatura romântica percebemos a forma como os literatos se<br />

posicionaram frente às gran<strong>de</strong>s transformações que ocorriam na Inglaterra naquele momento,<br />

suscitadas principalmente pelas revoluções francesa e industrial. Po<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r o<br />

romantismo como um fenômeno plural, no qual os autores valorizavam o sentimento e a<br />

expressão individual, apresentan<strong>do</strong> também um gosto por para<strong>do</strong>xos. O romantismo transformouse<br />

numa visão <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> entre as últimas décadas <strong>do</strong> século XVIII e fins da primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

século XIX. Analisan<strong>do</strong> a poesia <strong>de</strong> William Blake percebemos como ele pensou o romantismo e a<br />

socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>limitan<strong>do</strong> seu pensamento em relação a outros poetas românticos <strong>do</strong> mesmo<br />

perío<strong>do</strong>.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Romantismo, Literatura, História.<br />

Durante a vida <strong>de</strong> William Blake não foram poucos aqueles que suspeitaram da luci<strong>de</strong>z <strong>do</strong><br />

artista, suas idéias incomuns geraram comentários controversos a seu respeito, principalmente<br />

em relação a sua luci<strong>de</strong>z. Blake afirmava ter visões <strong>de</strong> anjos, <strong>de</strong>mônios e diversos espectros que<br />

povoaram sua obra sempre alheia a convencionalismos e afeita a um universo fantástico. As<br />

origens <strong>do</strong> pensamento <strong>de</strong> Blake po<strong>de</strong>m ser encontradas em sua concepção <strong>de</strong> arte, a partir <strong>do</strong><br />

conceito <strong>de</strong> ―Alegoria Sublime‖. 1 Nesta concepção, as analogias e metáforas utilizadas pelo autor<br />

não são imediatamente reconhecidas ou interpretadas pelo leitor <strong>de</strong> seus poemas ou observa<strong>do</strong>r<br />

1 Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir alegoria como ―[...] a metáfora continuada como tropo <strong>do</strong> pensamento, e consiste na<br />

substituição <strong>do</strong> pensamento em causa por outro pensamento, que está liga<strong>do</strong>, numa relação <strong>de</strong> semelhança<br />

a esse mesmo pensamento‖. HANSEN, João A<strong>do</strong>lfo, Alegoria, Construção e Interpretação da Metáfora.<br />

São Paulo: Atual Editora, 1986. (p. 1). Des<strong>de</strong> a antiguida<strong>de</strong>, existiam regras fornece<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> lugarescomuns<br />

e vocabulário para essa substituição <strong>de</strong> pensamentos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> campo temático.<br />

A alegoria é um procedimento intencional <strong>do</strong> autor <strong>do</strong> discurso e a sua interpretação, um ato <strong>do</strong> receptor,<br />

também existin<strong>do</strong> regras que estabelecem maior ou menor clareza <strong>do</strong> discurso. (HANSEN, 1986; p. 2).<br />

Essas regras sobre como construir um discurso a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>, ou sobre como empregar bem as figuras <strong>de</strong><br />

linguagem, estavam sen<strong>do</strong> repensadas pelos autores românticos. William Blake <strong>de</strong>sprezou a alegoria que<br />

classificou como ―filha da memória‖, diferencian<strong>do</strong> a poesia que empregava esse tipo <strong>de</strong> linguagem<br />

baseada em lugares-comuns da poesia que, para ele, seria ―filha da inspiração‖. A memória ou<br />

―entendimento corpóreo‖, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Blake, corrompe a arte, produzin<strong>do</strong> um tipo <strong>de</strong> poesia inferior que<br />

diz indiretamente o que po<strong>de</strong>ria simplesmente ser dito diretamente. O caráter indireto da linguagem<br />

permanece na Alegoria Sublime, porém, sobre o exercício da imaginação ou das ―faculda<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Intelecto‖<br />

esta expressava o que não po<strong>de</strong>ria ser dito <strong>de</strong> nenhuma outra forma ao abordar assuntos conceituais<br />

poéticos ou espirituais. (ALVES, 2007; p. 44-45). Numa carta en<strong>de</strong>reçada a Thomas Butts em 06 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />

1803, na qual <strong>de</strong>screveu seu poema Milton também <strong>de</strong>finiu o conceito <strong>de</strong> ―Alegoria Sublime‖ da seguinte<br />

maneira: ―Espero (...) falar a gerações futuras através <strong>de</strong> uma Alegoria Sublime que agora está<br />

perfeitamente integrada em um Poema Grandioso. Eu <strong>de</strong>vo louvá-lo pois não ouso aspirar a ser ninguém<br />

mais senão o Secretário; os Autores estão na Eternida<strong>de</strong> (...) Alegoria dirigida às faculda<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Intelecto,<br />

ao mesmo tempo que ocultada completamente ao entendimento Corpóreo, esta é Minha Definição da Mais<br />

Sublime Poesia.‖ Tradução em: ALVES, 2007; p. 44-45.

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