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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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nacional, mesmo que passem <strong>de</strong>sapercebi<strong>do</strong>s e sejam senti<strong>do</strong>s apenas como uma presença<br />

oculta 35 .‖<br />

A cultura judaica por ser tão antiga e ter se dispersa<strong>do</strong> em diferentes tempos e espaços,<br />

possuí uma imensa varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> costumes e mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> comportamento nas socieda<strong>de</strong>s em que<br />

se estabeleceu, para, além disso, todas as socieda<strong>de</strong>s que interessam ao historia<strong>do</strong>r tem um<br />

passa<strong>do</strong> 36 . Recentemente, a trajetória <strong>do</strong>s cristãos-novos no Brasil colonial tem atraí<strong>do</strong> à atenção<br />

<strong>de</strong> estudiosos que tentam compreen<strong>de</strong>r não só como os ju<strong>de</strong>us se percebiam, mas também como<br />

eram percebi<strong>do</strong>s na socieda<strong>de</strong> em que estavam inseri<strong>do</strong>s. Instituições como a família, a religião, o<br />

trabalho, a forma <strong>de</strong> organização das comunida<strong>de</strong>s espalharam-se por todas as regiões on<strong>de</strong> se<br />

fixaram. Nelas os valores e as representações coletivas, a ação <strong>do</strong>s indivíduos, as relações entre<br />

eles e com a socieda<strong>de</strong> em que estão, revelam diferenças que <strong>de</strong>finem a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s grupos<br />

fronteiriços 37 .<br />

Ao conceber a multiplicida<strong>de</strong> das realida<strong>de</strong>s sociais, poucas são as socieda<strong>de</strong>s nas quais<br />

tenhamos vivi<strong>do</strong>, seja em que tempo for que não subsistam, ou que pelo menos não tenham<br />

<strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> algum traço <strong>de</strong> si mesmas nos grupos mais recentes on<strong>de</strong> estamos mergulha<strong>do</strong>s 38 .<br />

Em relação ao saber produzi<strong>do</strong> nos livros didáticos, especialmente os <strong>de</strong> hoje, pelo menos<br />

no que se refere à história <strong>do</strong>s cristãos-novos e sua presença no Brasil colonial, não passa <strong>de</strong><br />

uma ―presença esvaziada‖ 39 . A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> recuperar o passa<strong>do</strong> da nossa história - composto <strong>de</strong><br />

―memórias esquecidas‖ - questionan<strong>do</strong>-o é também, uma forma <strong>de</strong> darmos um senti<strong>do</strong> maior para<br />

o presente, sensibilizan<strong>do</strong>-o, aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> <strong>de</strong> fato aquela antiga concepção <strong>de</strong> que história não<br />

passa <strong>de</strong> um relato.<br />

Devi<strong>do</strong> às condições históricas, as quais os cristãos-novos estavam submeti<strong>do</strong>s no Brasil<br />

Colonial – como a ameaça <strong>de</strong> perseguições, torturas e con<strong>de</strong>nações por parte da Igreja Católica -<br />

a memória <strong>de</strong>sse grupo foi <strong>de</strong> certa forma apagada, ainda que houvesse meios <strong>de</strong> mantê-la no<br />

interior <strong>de</strong> seus lares.<br />

Ainda assim, qualquer lacuna na história <strong>do</strong>s ju<strong>de</strong>us converti<strong>do</strong>s <strong>de</strong>corrente das<br />

dificulda<strong>de</strong>s que aqui enfrentaram, não parece ter <strong>de</strong>sestimula<strong>do</strong> o trabalho <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res.<br />

Ao contrário, a to<strong>do</strong> o momento nota-se um esforço muito gran<strong>de</strong> em recuperar esta presença na<br />

História <strong>do</strong> Brasil. Mesmo não seguin<strong>do</strong> as práticas judaicas <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> inteiramente consciente, os<br />

cristãos-novos conservaram a essência <strong>de</strong> sua cultura original 40 .<br />

Da mesma forma <strong>de</strong>veria ocorrer no ensino <strong>de</strong> História que vem sen<strong>do</strong> feito nas escolas, a<br />

começar pelos livros didáticos, pilares ainda na prática escolar, produzin<strong>do</strong> uma escrita que<br />

35 VALADARES, op. Cit., p. 280.<br />

36 HOBSBAWM, Eric. O Senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> Passa<strong>do</strong>. In: Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.<br />

37 HELLER, Reginal<strong>do</strong> Jonas. Diáspora Atlântica. A nação judaica no Caribe, séculos XVII e XVIII. Tese<br />

apresentada à Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense. Niterói, 2008, p. 14.<br />

38 HALBWACHS, Maurice. A memória Coletiva. São Paulo: Vértice, 1990, p.<br />

39 A expressão foi utilizada por Luis Felipe Miguel no artigo, Retrato <strong>de</strong> uma ausência: a mídia nos relatos<br />

da história política <strong>do</strong> Brasil.<br />

40 DEL PRIORE, op. Cit., p. 45.

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