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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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a minha assistência, não po<strong>de</strong>ria tomar forma aquele estabelecimento,<br />

nem seria boa a arrecadação da fazenda real, viven<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s em uma<br />

continua <strong>de</strong>sunião. 8<br />

Essa carta faz referência à importância da viagem <strong>de</strong> Rodrigo César <strong>de</strong> Menezes à<br />

Cuiabá, como uma forma <strong>de</strong> estabelecer com mais consistência a or<strong>de</strong>m e a governabilida<strong>de</strong><br />

metropolitana sobre a região. A profecia enunciada pelo governa<strong>do</strong>r, na já citada carta ao ouvi<strong>do</strong>rgeral,<br />

<strong>de</strong> que ―bom exemplo há nas Sagradas Letras, quan<strong>do</strong> os israelitas pediram a Deus que lhe<br />

<strong>de</strong>sse reis, e não obstante os gran<strong>de</strong>s prejuízos que lhes propôs, assim o quiseram‖, parecia se<br />

cumprir fielmente, pois agora os paulistas rogavam a presença <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r. 9 Isso porque,<br />

embora os sertanistas responsáveis pela ocupação inicial daqueles sertões não estivessem<br />

interessa<strong>do</strong>s na tributação imposta pela metrópole, certamente <strong>de</strong>sejavam a presença <strong>de</strong> uma<br />

forte autorida<strong>de</strong> colonial, representante <strong>do</strong> monarca, que aplicasse a justiça e trouxesse<br />

segurança pela <strong>de</strong>fesa militar contra os indígenas belicosos e os castelhanos. A viagem <strong>de</strong><br />

Rodrigo César <strong>de</strong> Menezes à Cuiabá representa, portanto, o cumprimento <strong>do</strong>s propósitos da<br />

metrópole para a região, e através da fundação da Vila Real <strong>do</strong> Senhor Bom Jesus <strong>do</strong> Cuiabá, em<br />

janeiro <strong>de</strong> 1727, estabelecia legitimamente a autorida<strong>de</strong> portuguesa sobre aqueles sertões, tão<br />

além <strong>do</strong> meridiano <strong>de</strong> Tor<strong>de</strong>silhas.<br />

Assim como a metrópole instrumentalizava seus esforços visan<strong>do</strong> atingir <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s<br />

intentos para os sertões cuiabanos, cumpre notar que a socieda<strong>de</strong> colonial também utilizava seus<br />

próprios meios para minimizar a almejada sistematização da ocupação <strong>do</strong> interior. De fato, a<br />

socieda<strong>de</strong> fronteiriça que se constituía nos sertões auríferos da capitania <strong>de</strong> São Paulo não<br />

estava muitas vezes contente com as diretrizes apresentadas pela metrópole, através <strong>de</strong> seus<br />

<strong>de</strong>lega<strong>do</strong>s régios e <strong>do</strong> Conselho Ultramarino, principalmente no que tange à tributação imposta.<br />

Entretanto, cabe ressaltar que essas resistências não <strong>de</strong>vem jamais ser compreendidas como<br />

reflexos <strong>de</strong> uma anacrônica dicotomia entre Brasil e Portugal, mas sim entre a socieda<strong>de</strong> civil<br />

colonial e as or<strong>de</strong>nações <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

Os <strong>de</strong>svios <strong>do</strong>s quintos são provavelmente o melhor e mais comum exemplo <strong>de</strong><br />

resistências ao aumento da governabilida<strong>de</strong> nos sertões minera<strong>do</strong>res. Em toda a <strong>do</strong>cumentação<br />

analisada, existem inúmeras referências a casos <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio. A incorporação da região cuiabana<br />

aos <strong>do</strong>mínios lusitanos consistia fundamentalmente na instauração <strong>de</strong> um aparelho tributário<br />

eficaz, o que foi constantemente frustra<strong>do</strong> pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> enriquecimento ilícito <strong>do</strong>s minera<strong>do</strong>res.<br />

Como já vimos anteriormente, o governa<strong>do</strong>r exercia especial cuida<strong>do</strong> nessa questão, agin<strong>do</strong> com<br />

cautela, para que a opressão <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> não se fizesse sentir <strong>de</strong>masiadamente. Em regimento<br />

elabora<strong>do</strong> para a instauração <strong>de</strong> uma Casa <strong>de</strong> Registro no Rio Gran<strong>de</strong>, no caminho <strong>de</strong> Cuiabá,<br />

Rodrigo César advertia ao prove<strong>do</strong>r eleito Domingos da Silva Monteiro que:<br />

8 Para o Senhor Vice-Rei. Documentos Interessantes, v. XX, p. 36 – 37.<br />

9 Registro <strong>de</strong> uma carta que se escreveu ao <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r Antônio Alves Lanhas Peixoto em resposta da<br />

carta sobredita. Documentos Interessantes, v. XX, p. 281.

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