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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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67<br />

O direito <strong>de</strong> manter, <strong>de</strong> ―resgatar‖ e <strong>de</strong> ―construir‖ a história <strong>do</strong>s reis da França, também<br />

envolvem instituições e possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, já que o grupo, no caso, a abadia <strong>de</strong> Saint-Denis<br />

fosse responsável pela manutenção da memória <strong>do</strong> reino, garantia também a proximida<strong>de</strong> com os<br />

reis e conseqüentemente com o po<strong>de</strong>r.<br />

Mas segun<strong>do</strong> Dosse, a disputa não era somente pelo direito <strong>de</strong> escrever a história da<br />

França, mas qual origem e lega<strong>do</strong> em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outro seria escolhi<strong>do</strong>, levan<strong>do</strong> sempre em<br />

conta as pretensões políticas, sociais e i<strong>de</strong>ológicas <strong>de</strong> seus contemporâneos.<br />

O mito nacional é atravessa<strong>do</strong> por uma tensão entre os proprietários <strong>de</strong><br />

origem troiana e aqueles <strong>de</strong> origem gaulesa da França... 13<br />

A disputa pela origem <strong>do</strong> povo francês passava pela herança troiana (que supostamente<br />

traria ao povo francês uma origem nobre, gaulesa e também versões que envolviam os <strong>do</strong>is e mais<br />

grupos étnicos nas supostas concepções <strong>de</strong> origem <strong>do</strong> povo francês.<br />

A história francesa também segun<strong>do</strong> Dosse ocupou-se <strong>de</strong> relatar o lega<strong>do</strong> <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s<br />

monarcas, exaltan<strong>do</strong> a glória <strong>de</strong> uns e o fracasso <strong>de</strong> outros. 14<br />

A história funcionava como uma espécie <strong>de</strong> tribunal on<strong>de</strong> os monarcas <strong>de</strong>ixavam seu<br />

lega<strong>do</strong> e isso constituiu a memória da monarquia francesa durante séculos.Nessa busca pela<br />

origem, questões como raça, etnia, religião e cultura, to<strong>do</strong>s esses aspectos contribuíram para a<br />

busca <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional, principalmente a partir da Revolução Francesa e a formação <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> Nação francês, nesse momento historia<strong>do</strong>res da França como Guizot foram responsáveis<br />

em construir uma ―memória nacional‖, algo que possibilitasse o sentimento <strong>de</strong> pertença a to<strong>do</strong>s os<br />

franceses.<br />

... François Guizot é o artífice da implantação <strong>de</strong>ssa memória nacional,<br />

enquanto ministro <strong>de</strong> Instrução pública, entre 1832 1837. Por isso, Guizot<br />

po<strong>de</strong> conjugar sua dupla i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> historia<strong>do</strong>r e <strong>de</strong> agente político... 15<br />

A busca por uma história nacional significava também construir um senti<strong>do</strong> único para<br />

história. É no século XIX que sentimentos e as aspirações nacionalistas começam a encontrar eco<br />

em toda Europa e em outros continentes.No Brasil é funda<strong>do</strong> em 1838 o Instituto Histórico e<br />

Geográfico Brasileiro, órgão responsável pela manutenção e pela difusão da memória e da história<br />

nacional.Hinos e ban<strong>de</strong>iras aparecem como se existissem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os ―tempos imemoriais‖, trazem<br />

consigo to<strong>do</strong> um aspecto ritual que obe<strong>de</strong>cem os mais rígi<strong>do</strong>s protocolos <strong>de</strong> conduta que to<strong>do</strong><br />

cidadão <strong>de</strong>ve respeitar e ter enquanto símbolo da tradição e da pátria.<br />

... Aliás, a maioria das ocasiões em que as pessoas tomam consciência da cidadania como tal<br />

permanecem associadas a símbolos e práticas semi-rituais (por exemplo, as eleições), que em sua<br />

13 I<strong>de</strong>m, p.265.<br />

14 DOSSE, François. ―Uma história social da memória‖, In: A História. Bauru; Edusc, 2004, p.271.<br />

15 I<strong>de</strong>m, p.275.

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