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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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A IMPORTÂNCIA DA PENA DO HISTORIADOR<br />

91<br />

A Muqaddimah é dividida por diversos assuntos <strong>de</strong> erudição, mas nos interessa aqui é<br />

percorrer a obra ten<strong>do</strong> em mente o méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> História <strong>de</strong> Ibn Khaldun, portanto nos utilizamos <strong>do</strong><br />

Prefácio, Introdução e Primeiro Livro. Através <strong>de</strong>ssa escolha, mantemos como perspectiva a idéia<br />

<strong>de</strong> que o teor meto<strong>do</strong>lógico apresenta<strong>do</strong> por Khaldun se mantém ao longo <strong>de</strong> toda Muqaddimah,<br />

como ele próprio ressalta: ―De mo<strong>do</strong> que se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rá-la como compêndio único da História,<br />

ten<strong>do</strong> em vista o número e o valor das informações que lhe abarrotam as páginas, e as <strong>do</strong>utrinas,<br />

antes ocultas ou <strong>de</strong>sconhecidas, e agora expostas ao entendimento <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s‖ 8 .<br />

Porém, antes <strong>de</strong> iniciarmos nossa análise, <strong>de</strong>vemos refletir sobre a seguinte questão:<br />

qual era a inteligibilida<strong>de</strong> da obra <strong>de</strong> Khaldun em seu contexto, ten<strong>do</strong> em vista a formulação <strong>de</strong><br />

uma proposta historiográfica? De fato, a Muqaddimah representa para os seus leitores, eruditos e<br />

homens <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r muçulmanos, um resgate da história, <strong>de</strong> como a história faz com que os homens<br />

se tornem mais lúci<strong>do</strong>s e como ela po<strong>de</strong> indicar mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> bem governar, <strong>de</strong> ser mais justo e mais<br />

sábio 9 . Seria próximo ao conceito <strong>de</strong> ―humanitas‖ utiliza<strong>do</strong> pelos historia<strong>do</strong>res clássicos. Ou seja,<br />

um homem se <strong>de</strong>senvolve e se torna melhor através <strong>do</strong> conhecimento <strong>de</strong> si, <strong>de</strong> sua história. Da<br />

recepção da obra temos conhecimento <strong>do</strong> testemunho <strong>do</strong> vizir e historia<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Granada, Ibn Al-<br />

Khatib, <strong>do</strong> recebimento <strong>de</strong> cópias da obra pelos sultões <strong>de</strong> Túnis, Abu‘l Abbas, <strong>de</strong> Fez, Abu Faris,<br />

<strong>do</strong> Cairo, Malik Al-Zahir Barquq.<br />

Portanto, a proposta da Muqaddimah por Khaldun é tornar legível ao seu leitor que o<br />

conhecimento histórico abriga em si a observância da socieda<strong>de</strong>, a problematização <strong>do</strong> caráter<br />

humano e a divulgação das ciências. O caminho para <strong>de</strong>svendar isso é através da análise <strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>cumento, que nos traz perspectivas variadas divididas em três gran<strong>de</strong>s blocos: a história, o<br />

po<strong>de</strong>r e a erudição. Segun<strong>do</strong> o historia<strong>do</strong>r Khaldun, ele teve um planejamento cuida<strong>do</strong>so ao<br />

abordar essa obra:<br />

Encarei e discuti com gran<strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> as questões condizentes com a matéria<br />

<strong>de</strong>ste livro <strong>de</strong> maneira a por meu trabalho ao alcance tanto <strong>do</strong>s eruditos como <strong>do</strong>s<br />

homens <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Na sua confecção e na distribuição das matérias, a<strong>do</strong>tei um<br />

plano original, elaborei um méto<strong>do</strong> novo <strong>de</strong> escrever a História, escolhen<strong>do</strong> um<br />

caminho que certamente surpreen<strong>de</strong>rá o leitor, e seguin<strong>do</strong> uma marcha e um<br />

sistema inteiramente próprios. Ao tratar <strong>do</strong> que se relaciona com a formação da<br />

socieda<strong>de</strong> e o estabelecimento da civilização, estendi-me, com razão, a <strong>de</strong>screver<br />

tu<strong>do</strong> o que a socieda<strong>de</strong> humana oferece como circunstâncias características.<br />

Apontei as causas <strong>do</strong>s acontecimentos e mostrei por que caminhos os funda<strong>do</strong>res<br />

8 KHALDUN, Ibn. Muqaddimah – Os Prolegômenos (tomo I). op. cit., p.15.<br />

9 ―Porque as obras <strong>do</strong>s historia<strong>do</strong>res que viveram e trabalharam na Ida<strong>de</strong> Média são construções eruditas,<br />

<strong>de</strong> que é perigoso ignorar as ambições e os limites. Antes <strong>de</strong> utilizar as obras históricas medievais, é<br />

pru<strong>de</strong>nte perguntar quem eram os historia<strong>do</strong>res na Ida<strong>de</strong> Média, em que se assemelhavam aos<br />

historia<strong>do</strong>res <strong>de</strong> hoje, em que eram diferentes‖. In: GUENÉE, Bernard. Verbete História. Dicionário<br />

Temático <strong>do</strong> Oci<strong>de</strong>nte Medieval. Organiza<strong>do</strong>res: Jacques Le Goff e Jean-Clau<strong>de</strong> Schmitt. Bauru, SP:<br />

Edusc, 2006, p.523.

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