14.10.2014 Views

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

186<br />

po<strong>de</strong>r e socieda<strong>de</strong>. Inicialmente, dirigia-se ao lugar institucional em que seu discurso estava se<br />

inserin<strong>do</strong>, equivalen<strong>do</strong> a Justiça Real a bonda<strong>de</strong> <strong>do</strong> soberano e <strong>do</strong>s ministros que divinamente o<br />

representam 27 . I<strong>de</strong>ntifican<strong>do</strong> o crime contra a autorida<strong>de</strong> política como um crime contra a pessoa real,<br />

legitimava enquanto justa qualquer punição, como vingança à vista <strong>de</strong> tão gran<strong>de</strong> ofensa Majesta<strong>de</strong><br />

ultrajada 28 e à mácula que os habitantes <strong>de</strong> Pernambuco haviam feito à honra <strong>de</strong> seus antepassa<strong>do</strong>s.<br />

Referia-se assim ao tribunal e aos ministros <strong>de</strong> Sua Majesta<strong>de</strong> apelan<strong>do</strong> à imagem <strong>do</strong> soberano como<br />

pai <strong>do</strong>ce e amável, ao mesmo tempo em que lhe conferia o papel <strong>de</strong> justiceiro 29 , inserin<strong>do</strong>-se portanto<br />

numa concepção personalista <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />

As tênues fronteiras das concepções entre <strong>de</strong>lito e peca<strong>do</strong>, política e moral, po<strong>de</strong>r público e<br />

po<strong>de</strong>r real, reiterava aspectos da concepção <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m integrada, on<strong>de</strong> religião e política se<br />

entrelaçavam. Imiscuin<strong>do</strong>-se da leitura da rebelião, o advoga<strong>do</strong> baiano afirmava que, se haveria <strong>de</strong><br />

existir algum culpa<strong>do</strong> pela rebelião <strong>de</strong> Pernambuco, este seria o governa<strong>do</strong>r <strong>de</strong>posto Caetano Pinto<br />

<strong>de</strong> Miranda Montenegro, posto que<br />

Com o governo sem cabeça,<br />

um general nunca <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>samparar o seu posto até o último lance na<br />

<strong>de</strong>sgraça, porque aliás fica o corpo sem cabeça, e <strong>de</strong>sfaleci<strong>do</strong>. 30<br />

os assassinos pu<strong>de</strong>ram fazer uma revolução porque não acharam<br />

resistência, uniram-se muitos ao seu parti<strong>do</strong> porque não havia outro, o povo<br />

elegeu um governo por falta <strong>de</strong>le, visto que o Governa<strong>do</strong>r tinha cedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu<br />

e <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> o povo em anarquia. 31<br />

<strong>de</strong><br />

Destarte, a eleição <strong>de</strong> um Governo Provisório após a fuga <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r teria si<strong>do</strong> uma forma<br />

sossegar o tumulto e dissipar a anarquia (...) enquanto Sua Majesta<strong>de</strong> não<br />

mandava forças capazes <strong>de</strong> restabelecer a antiga felicida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

pernambucanos e torná-los às <strong>do</strong>çuras <strong>do</strong> seu Paternal Governo. 32<br />

A idéia <strong>de</strong> ―anarquia‖, conforme o argumento alusivo à fuga <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r, condizia<br />

estritamente à concepção corporativa <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e socieda<strong>de</strong>. Tal relação é possível <strong>de</strong> ser constatada<br />

ao verificarmos o significa<strong>do</strong> expresso no Vocabulário Português e Latino <strong>do</strong> padre Raphael Bluteau,<br />

on<strong>de</strong> o termo aparece como o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> huma Cida<strong>de</strong>, ou Republica, sem cabeça, ou sem príncipe<br />

legítimo que a governe[...]. Segun<strong>do</strong> o vocábulo <strong>do</strong> padre dicionarista, só aquelles que no meio das<br />

27 I<strong>de</strong>m, Ibi<strong>de</strong>m, p.51.<br />

28 I<strong>de</strong>m, Ibi<strong>de</strong>m, p.52.<br />

29 Antonio Manuel HESPANHA, Da ―iustitia‖ à ―disciplina‖ – textos, po<strong>de</strong>r e política penal no Antigo Regime,<br />

Antonio Manuel HESPANHA (org.), Justiça e litigiosida<strong>de</strong>: história e prospectiva, Lisboa, Fundação<br />

Calouste Gulbekian, 1993, p.314-16.<br />

30 D.H, op.cit., p.57. [grifo meu]<br />

31 I<strong>de</strong>m, Ibi<strong>de</strong>m, p.57. [grifo meu]<br />

32 I<strong>de</strong>m, Ibi<strong>de</strong>m, p.58-59. [grifo meu]

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!