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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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346<br />

A terceira palavra, a ‗forca‘ – ou a morte na ponta <strong>de</strong>sta, vem <strong>de</strong>stoan<strong>do</strong> das outras duas,<br />

mas não tanto, pois se refere ao universo da obra mencionada e mesmo ao convívio e a condição<br />

<strong>de</strong> vida <strong>do</strong> personagem central, o qual está constantemente ro<strong>de</strong>a<strong>do</strong> <strong>de</strong> mendigos (e isso é crime<br />

na visão das pessoas daquela época, inclusive entre pensa<strong>do</strong>res como John Locke 36 ), ladrões,<br />

trapaceiros, entre outras formas humanas consi<strong>de</strong>radas escória da socieda<strong>de</strong>, especificamente<br />

aquela mencionada por Charles Dickens, a londrina (e britânica, generalizadamente) da primeira<br />

meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XIX.<br />

As con<strong>de</strong>nações na forca foram muito corriqueiras e constantemente assistidas pelas<br />

pessoas daquela cida<strong>de</strong> e, claro, suas maiores vítimas eram os <strong>de</strong>linqüentes que atormentavam a<br />

vida pacífica daquela socieda<strong>de</strong> industrial burguesa, e daquela nobreza esbanja<strong>do</strong>ra.<br />

A ‗fome‘ constantemente aparece relacionada com palavras como ‗sem comer‘ ou mesmo<br />

na <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> uma mesa farta ou ainda com outra frase como ‗comer sem parar‘, enfatizan<strong>do</strong> o<br />

fato <strong>de</strong> ser muito presente esse problema da ‗fome‘ para aqueles personagens e, inclusive, traz<br />

uma idéia <strong>de</strong> vulgarida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas cenas no cotidiano inglês das classes subalternas. O ‗frio‘ vem<br />

relaciona<strong>do</strong> algumas vezes com ‗poucas roupas‘, ou mesmo ‗faz muito frio‘, ou ainda ‗gelar a<br />

alma‘. A ‗forca‘ ainda vinha com mais <strong>de</strong>staque, quan<strong>do</strong> suas referências – que não são poucas,<br />

traziam palavras como ‗<strong>de</strong>golar‘, ‗enforcar‘, e frases simbólicas <strong>do</strong> tipo ‗dançar na ponta <strong>de</strong> uma<br />

corda‘, e até, inclusive, falar o nome <strong>de</strong> uma prisão ou bairro on<strong>de</strong> havia con<strong>de</strong>nações na forca,<br />

como ‗Old Bailey‘, por exemplo. Ainda veremos no texto os motivos para tanto <strong>de</strong>noto à ‗forca‘,<br />

como centro <strong>de</strong> um me<strong>do</strong> constante <strong>de</strong> se morrer na ponta <strong>de</strong>la, como dizem tais personagens.<br />

Não <strong>de</strong>ixa, portanto, <strong>de</strong> serem as três situações, representadas nessas palavras na obra, um<br />

espectro constante como parte significativa da vida daqueles personagens.<br />

36 A autora Maria Stella M. Bresciani consi<strong>de</strong>ra que ―esta é uma socieda<strong>de</strong> que se institui sobre o<br />

pressuposto da positivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalho. Afinal, são John Locke e Adam Smith que <strong>de</strong>sfazem a imagem<br />

negativa <strong>do</strong> trabalho como patrimônio da pobreza, como far<strong>do</strong> exclusivo <strong>do</strong>s que não possuem proprieda<strong>de</strong>,<br />

e o <strong>de</strong>finem como fonte <strong>de</strong> toda a ativida<strong>de</strong> cria<strong>do</strong>ra e da riqueza. Daí, os que se recusarem a participar<br />

<strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res aparecerem como figuras exteriores a ela, como estranhos ao pacto<br />

constitutivo <strong>do</strong> social e da sua história‖ (BRESCIANI, 1990: 80). Reforça essa teoria, uma passagem <strong>do</strong><br />

próprio John Locke, utilizada pelo esta<strong>do</strong> liberal em questão que observa a próxima passagem ao seu gosto<br />

e fruição: ―A liberda<strong>de</strong> não é, pois, (...) ―uma liberda<strong>de</strong> para qualquer homem fazer o que lhe apraz, viver<br />

como lhe convém sem se ver refrea<strong>do</strong> por quaisquer leis‖‖ (FILMER apud LOCKE, 2006: 35). Para a autora,<br />

esse é um tipo <strong>de</strong> idéia contra os mendigos. De certa maneira, numa passagem <strong>do</strong> próprio Oliver Twist,<br />

quan<strong>do</strong> este <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> fugir mun<strong>do</strong> afora, há uma referência nesse senti<strong>do</strong>, inclusive: ―Notan<strong>do</strong> uma diligência<br />

parada diante <strong>de</strong> uma fazenda, resolveu pedir esmolas aos passageiros; estes, contu<strong>do</strong>, eram poucos e não<br />

lhe <strong>de</strong>ram a mínima atenção. Passan<strong>do</strong> por certa al<strong>de</strong>ia, Oliver <strong>de</strong>u com os olhos num cartaz que o fez<br />

estremecer: ―Qualquer pessoa que for surpreendida a mendigar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste distrito será presa.‖‖<br />

(DICKENS, 1973: 47).

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