14.10.2014 Views

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

439<br />

No ano <strong>de</strong> 1937 chegou ao Brasil, fugin<strong>do</strong> da perseguição nazista, o jovem flautista alemão<br />

Hans-Joachim Koellreutter. Sua vinda para o país proporcionou ao músico a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

compartilhar as experiências da agitação cultural da qual participou <strong>de</strong> forma efetiva na Alemanha<br />

e na Suíça. Koellreutter fun<strong>do</strong>u no ano <strong>de</strong> 1939 o grupo Música Viva, na cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Publican<strong>do</strong> mensalmente boletins informativos sobre a produção musical, entre outras ativida<strong>de</strong>s,<br />

o grupo objetivava o incremento da ativida<strong>de</strong> musical no Brasil. 28<br />

Nesse perío<strong>do</strong>, o referi<strong>do</strong> grupo era composto por músicos que foram fortemente<br />

inspira<strong>do</strong>s pelo movimento nacionalista, responsável por mo<strong>de</strong>rnizar a música no Brasil. A<br />

proposta era promover e valorizar a música nova, principalmente a música contemporânea<br />

brasileira. 29 Sen<strong>do</strong> assim, a única possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Koellreutter apresentar uma música <strong>de</strong><br />

vanguarda era a sua união com o grupo composto por músicos nacionalistas, os quais<br />

representavam no momento a música contemporânea, ―o mo<strong>de</strong>rnismo brasileiro‖. 30<br />

No ano <strong>de</strong> 1944, Koellreutter rompeu <strong>de</strong>finitivamente com o movimento nacionalista<br />

fundamenta<strong>do</strong> nas idéias <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, e, <strong>do</strong>is anos <strong>de</strong>pois, em 1946, juntamente com<br />

Eunice Catunda, Cláudio Santoro, César Guerra-Peixe, entre outros, lançou o manifesto ―Música<br />

Viva‖ em contraposição à tendência nacionalista inspirada pelo Ensaio sobre a música brasileira. 31<br />

Segun<strong>do</strong> o historia<strong>do</strong>r e músico André Egg, Koellreutter, uma vez fugitivo <strong>de</strong> um país que<br />

possuía naquele momento um regime funda<strong>do</strong> em um nacionalismo extrema<strong>do</strong>, insistia no ―[...]<br />

valor universal e humanístico da música [...]‖, preferin<strong>do</strong> promover uma música <strong>de</strong> vanguarda sem<br />

relações com o nacionalismo musical. 32<br />

A técnica <strong>de</strong> composição <strong>do</strong><strong>de</strong>cafônica ou serial 33 , utilizada por esses compositores e<br />

―músicos <strong>de</strong> vanguarda‖, foi <strong>de</strong>senvolvida pelo compositor austríaco Arnold Schöenberg 34 , que<br />

―[...] fundamenta-se numa série <strong>de</strong> <strong>do</strong>ze sons (escala cromática). A partir <strong>de</strong>ssa técnica <strong>de</strong><br />

composição to<strong>do</strong> sistema tonal foi coloca<strong>do</strong> em xeque originan<strong>do</strong>-se uma nova linguagem<br />

musical‖. 35<br />

Essa nova linguagem musical divulgada no Brasil por Koellreutter inibia, segun<strong>do</strong> os<br />

nacionalistas inspira<strong>do</strong>s por Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, qualquer tipo <strong>de</strong> inspiração que o compositor<br />

28 EGG, André. O grupo Música Viva e o Nacionalismo musical. In: <strong>Anais</strong>, III Fórum <strong>de</strong> pesquisa científica<br />

em arte. Escola <strong>de</strong> Música e Belas Artes <strong>do</strong> Paraná. Curitiba. 2005, p. 60.<br />

29 Ibid., p. 61.<br />

30 Ibid., loc. cit.<br />

31 CONTIER, Arnal<strong>do</strong> Daraya. Música e i<strong>de</strong>ologia no Brasil. São Paulo: Novas Metas, 1985, p. 37.<br />

32 EGG, op. cit., p. 61.<br />

33 Ver sobre o assunto: WISNIK, José Miguel S. O coro <strong>do</strong>s contrários: a música em torno da Semana<br />

<strong>de</strong> 22. São Paulo: Duas Cida<strong>de</strong>s. 2ª edição, 1983, p. 133. O termo ―atonal‖ também refere-se ao<br />

<strong>do</strong><strong>de</strong>cafonismo. O musicólogo Jean-Jacques Nattiez faz uma reflexão sobre as <strong>de</strong>finições das técnicas<br />

tonal e atonal apresentan<strong>do</strong> as diferentes concepções ao longo da história, recuperan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>bate acerca<br />

<strong>do</strong>s conceitos tom, tonal e tonalida<strong>de</strong>. Ver: NATTIEZ, Jean-Jacques. Tonal/Atonal. In: Enciclopédia<br />

Einaudi, Vol. 3. (Artes/Tonal-Atonal). Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1984, p.331-356.<br />

34 O historia<strong>do</strong>r Carl E. Schorske, ao fazer uma reflexão sobre o caráter social e filosófico da arte<br />

―subversiva‖ <strong>de</strong> Schöenberg, i<strong>de</strong>ntifica as permanências e rupturas na arte e também nas estruturas da<br />

socieda<strong>de</strong>. Ver: SCHORSKE, Carl E. Viena fin-<strong>de</strong>-siècle: política e cultura. Tradução Denise Bottmann.<br />

São Paulo: Companhia das letras, 1990.<br />

35 CONTIER, op. cit., p. 37.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!