Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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Foi exatamente esse espírito de artista militante, presente no movimento modernista, que
fez com que vários intelectuais e artistas, incluindo Mário de Andrade, se envolvessem
diretamente com a política nacional durante a década de 1930, e ao participarem de cargos
públicos estavam efetivando uma maior participação do poder público na produção de uma arte
nacional, reivindicação da maior parte desses artistas e intelectuais nacionalistas. 14
Mário de Andrade assumiu cargos públicos durante o governo Vargas, com a intenção de
utilizar recursos do governo para efetivar seus projetos sobre a construção de uma cultura
nacional, incluindo um levantamento científico da música folclórica nacional:
Mário de Andrade, na qualidade de Diretor do Departamento de Cultura da
Prefeitura de São Paulo, iniciou as suas primeiras pesquisas de matizes
científicos no campo do folclore inspirando-se nas obras de Curt Sachs e
Horsbostal. Criou a Discoteca Pública Municipal, em 1935, promoveu a realização
do I Congresso da Língua Nacional Cantada, em 1937, fundou a Sociedade de
Etnografia e Folclore, em 1936, patrocinou a Missão de Pesquisas Folclóricas, a
qual em 1938 realizou um levantamento de caráter etnográfico nas regiões
Nordeste e Norte do Brasil. Essa Missão registrou, em 169 discos (78 rpm), as
mais diversas formas de cantigas do folclore brasileiro; registrou também em 6
rolos cinematográficos silenciosos de 16 mm (12 manifestações folclóricomusicais),
1.060 fotografias (arquitetura popular e religiosa), 7.000 páginas
contendo o registro de melodias/poesias que foram coletadas, 689 objetos
diversos, entre outros documentos. 15
Também ocupou cargos no Ministério de Capanema 16 , onde se encontrava a maioria dos
intelectuais modernistas trabalhando no projeto de construção de um idealizado projeto de
nacionalismo brasileiro, posto em prática pelo governo Vargas. 17 Trabalhou como docente no
Instituto de Artes da Universidade do Brasil 18 onde, no papel de diretor, lhe coube a
responsabilidade de reformular os currículos. Participou da criação do Instituto Nacional do Livro e
da Secretaria de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). 19
O governo Vargas dedicou atenção especial à música, vista como uma arte da coletividade
ideal para a promoção e desenvolvimento de uma política que objetivava a coesão nacional.
Através de projetos como a SEMA - Superintendência de Educação Musical e Artística -, criada
pelo interventor Pedro Ernesto, em 1932, sob direção do músico e compositor Heitor Villa-Lobos,
foi possível colocar em prática projetos de educação musical como, por exemplo, o ensino de
canto orfeônico. 20
nacionalidade, por suas características de proximidade à natureza, autenticidade, ingenuidade,
espontaneidade. Mas não deixava de posicionar-se como letrado, intérprete e descobridor‖ (EGG, 2004:28).
13 EGG, André. O debate no campo do nacionalismo musical no Brasil dos anos 1940 e 1950: o
compositor Guerra Peixe. Dissertação de mestrado, UFPR. 2004, p. 15.
14 Ibid., p. 11.
15 CONTIER, op. cit., p. 02.
16 Refere-se a Gustavo Capanema, ministro da Educação e Saúde de Getúlio Vargas no período de 1934 a
1945.
17 EGG, op. cit., p. 30.
18 Atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
19 EGG, loc. cit.
20 EGG op. cit., p. 26.