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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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como meto<strong>do</strong>logia, nesse processo <strong>de</strong> romanização, evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong> neste contexto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> sua<br />

prática indispensável.<br />

Nas palavras <strong>de</strong> alguns autores 7 , a Arqueologia seria filha <strong>do</strong> nacionalismo, <strong>do</strong><br />

colonialismo e <strong>do</strong> imperialismo. Devi<strong>do</strong> a sua subordinação à socieda<strong>de</strong> ou, aos grupos<br />

<strong>do</strong>minantes, torna-se clara sua <strong>de</strong>pendência frente a esses, para a obtenção <strong>de</strong> verbas e <strong>do</strong> apoio<br />

institucional necessários ao <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa arqueológica. Sob influência <strong>do</strong><br />

nacionalismo <strong>do</strong> século XIX, a Arqueologia tem no mo<strong>de</strong>lo histórico-cultural sua teoria mais<br />

difundida. A partir da noção <strong>de</strong> que cada nação seria composta <strong>de</strong> um povo (grupo étnico, <strong>de</strong>fini<strong>do</strong><br />

biologicamente), um território <strong>de</strong>limita<strong>do</strong> e uma cultura (entendida como língua e tradições<br />

sociais), formou-se o conceito <strong>de</strong> cultura arqueológica. De acor<strong>do</strong> com Funari 8 , esta seria um<br />

conjunto <strong>de</strong> artefatos semelhantes, <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada época, e que representaria, portanto, um<br />

povo, com uma cultura <strong>de</strong>finida e que ocupava um território <strong>de</strong>marca<strong>do</strong>. O mo<strong>de</strong>lo históricocultural<br />

parte <strong>do</strong> pressuposto que a cultura seja homogênea e que as tradições passem <strong>de</strong><br />

geração a geração.<br />

Partin<strong>do</strong> <strong>de</strong>stas afirmações, a ligação entre arqueologia e política apresenta-se sempre<br />

mediatizada. Não se trata apenas <strong>de</strong> justificar certas relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, ou <strong>de</strong> fortalecer certas<br />

i<strong>de</strong>ologias, mas <strong>de</strong> legitimá-las pela presença <strong>de</strong> testemunhos materiais que dêem sustentação<br />

científica a essas pretensões. Nas palavras <strong>de</strong> Funari, a criação e valorização <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

nacional ou cultural relacionam-se muitas vezes com a arqueologia. Neste caso, pre<strong>do</strong>minam com<br />

freqüência os interesses <strong>do</strong>s grupos <strong>do</strong>minantes media<strong>do</strong>s pela ação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Além <strong>do</strong> mais, a<br />

exploração e a valorização <strong>do</strong>s territórios nacionais implicam também, um relacionamento<br />

particular entre a arqueologia, a socieda<strong>de</strong> e os grupos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Trata-se da incorporação <strong>de</strong><br />

monumentos e objetos numa prática <strong>de</strong> valorização e transformação econômica da paisagem. De<br />

maneira geral, a arqueologia tem privilegia<strong>do</strong> os artefatos <strong>do</strong>s segmentos <strong>do</strong>minantes das<br />

socieda<strong>de</strong>s estudadas como objetos admiráveis, justamente, pelo seu caráter elitista. 9<br />

Outra questão a ser levantada no que diz respeito ao papel da arqueologia como parte da<br />

―engrenagem‖ da ―exploração imperialista‖, está no diferencial <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre metrópoles e<br />

colônias – ou entre o centro e periferia – que sempre acarretou mecanismos <strong>de</strong> apropriação <strong>de</strong><br />

bens das colônias para as metrópoles. Nesse processo, a arqueologia teve um papel relevante na<br />

transferência <strong>de</strong> monumentos e objetos arqueológicos <strong>do</strong>s países <strong>de</strong> origem para as metrópoles<br />

forman<strong>do</strong>-se assim, os acervos <strong>do</strong>s principais museus europeus. De acor<strong>do</strong> com o autor, essa<br />

apropriação ocorria durante o perío<strong>do</strong> colonial, pela imposição <strong>de</strong> força <strong>de</strong> ocupação militar<br />

metropolitana da qual, não raras vezes, faziam parte os arqueólogos. A partir da <strong>de</strong>scolonização,<br />

a apropriação <strong>de</strong> vestígios arqueológicos passou a ocorrer por mecanismos econômicos. Assim,<br />

7 Como: TRIGGER, B. A History of archaeological thought. Cambridge University Press, 1990; GRAVES-<br />

BROWN, P., JONES, S., GAMBLE, C. (edd.) Cultural i<strong>de</strong>ntity and Archaeology: the construction of European<br />

Communities. Londres: (?), 1996.<br />

8 FUNARI, P. P. A. Cultura material Histórica e Patrimônio.Campinas, IFCH/Unicamp, Abril/2003, p. 13.<br />

9 FUNARI, P. P. A. Arqueologia. São Paulo: Contexto, 2003, p. 101-105.

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