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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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302<br />

Os inconforma<strong>do</strong>s tinham vetadas as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão, <strong>de</strong><br />

autonomia intelectual e imaginativa, ao invés <strong>de</strong>ssas perspectivas, precisavam encarnar a imagem<br />

<strong>de</strong> intelectuais alista<strong>do</strong>s, artistas envolvi<strong>do</strong>s e escritores disciplina<strong>do</strong>s às exigências comunistas.<br />

Dênis <strong>de</strong> Moraes discute que no início da Revolução Russa, a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação era<br />

permitida, inovações em diversos campos da literatura e das artes estavam sen<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong>s.<br />

Entretanto, a ambição <strong>de</strong> atrelar a cultura ao esta<strong>do</strong> e ao parti<strong>do</strong>, travou esse <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

O autor nos diz que o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> parti<strong>do</strong> único, e a intervenção erosiva <strong>de</strong> Stalin, foram<br />

fatores que <strong>de</strong>terminaram o atrofiamento da fermentação artística soviética 5 e comunista em geral.<br />

No Realismo Socialista, o objetivo <strong>do</strong> cinema, <strong>do</strong> teatro, da música, das artes plásticas, da<br />

literatura, passou a ter a meta <strong>de</strong> proporcionar a exaltação <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> comunista, <strong>do</strong>s lí<strong>de</strong>res e da<br />

União Soviética, transpon<strong>do</strong> uma imagem esplen<strong>do</strong>rosa <strong>do</strong>s camponeses e operários, ou seja,<br />

contribuía para mitificar a URSS e seus símbolos.<br />

Os escritores tiveram que dialogar com formas ficcionais para valorizarem as figuras <strong>de</strong><br />

operários e camponeses, os artistas precisaram transcrever uma representação perfeita das<br />

aspirações e sensibilida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s seres humanos. A produção estética e intelectual burguesa era<br />

categorizada como imoral, corrupta, <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte, suja, individualista e <strong>de</strong>veria ser rejeitada pelos<br />

comunistas.<br />

Pelo uso <strong>do</strong> terror, da propaganda, <strong>do</strong> auxílio da literatura e das artes, o país tentava<br />

traduzir o verda<strong>de</strong>iro paraíso na terra, seduzin<strong>do</strong> a<strong>de</strong>rentes a esse discurso.<br />

No campo da intelectualida<strong>de</strong>, os soviéticos também criaram um protótipo, George Politzer,<br />

i<strong>de</strong>ólogo comunista fuzila<strong>do</strong> pelo nazismo, aju<strong>do</strong>u a sistematizar o paradigma <strong>do</strong> intelectual<br />

revolucionário.<br />

O mo<strong>de</strong>lo servia como guia aos homens e mulheres que <strong>de</strong>cidiam se tornar pessoas<br />

―honestas e sensíveis‖ ingressan<strong>do</strong> no parti<strong>do</strong>. Politzer ratificou o <strong>do</strong>gma <strong>de</strong> que lugar <strong>de</strong> gente<br />

inteligente, sensível, criativa e comprometida era no parti<strong>do</strong> comunista.<br />

Jorge Ferreira traduziu as perspectivas <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo:<br />

George Politzer […] apresentava aos comunistas uma história exemplar,<br />

um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> comportamento humano, como <strong>de</strong>veria ser e como <strong>de</strong>veria<br />

portar-se um verda<strong>de</strong>iro intelectual revolucionário: estudioso <strong>do</strong>s quatro<br />

clássicos <strong>do</strong> marxismo, paciente, humil<strong>de</strong>, mo<strong>de</strong>sto, severo consigo<br />

mesmo, incapaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhar o trabalho prático e que a<strong>de</strong>riu ao<br />

comunismo por uma questão <strong>de</strong> honestida<strong>de</strong> intelectual e probida<strong>de</strong><br />

mental. FERREIRA, Jorge. Prisioneiros <strong>do</strong> mito: cultura e imaginário<br />

político <strong>do</strong>s comunistas no Brasil (1930-1956). Rio <strong>de</strong> Janeiro, Ed. Eduff,<br />

2002, p.177.<br />

A valorização e os elogios eram atribuí<strong>do</strong>s constantemente aos artistas e intelectuais que<br />

ingressavam nas fileiras <strong>do</strong> marxismo.<br />

Logo após a filiação, o fato era explora<strong>do</strong> pelo parti<strong>do</strong> para servir <strong>de</strong> exemplo ao comunista<br />

pouco letra<strong>do</strong> e <strong>de</strong>sapega<strong>do</strong> <strong>do</strong> conhecimento intelectual: ―ao saber que importantes e renoma<strong>do</strong>s<br />

5 Ibid.

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