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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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rumos que o mun<strong>do</strong> <strong>de</strong>veria tomar a fim <strong>de</strong> alcançar um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> bem-estar supremo. A noção<br />

<strong>de</strong> tempo reduz a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> história à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> progresso, homogeneizan<strong>do</strong>-as:<br />

A partir <strong>do</strong> século XVIII, a Europa faz a experiência <strong>de</strong> uma temporalização da<br />

história: a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> progresso vem somar-se aquela da história concebida como<br />

processo, como auto-compreensão <strong>do</strong> tempo. […] tempo não é mais somente o<br />

quadro daquilo que acontece, as coisas não acontecem mais no tempo, mas<br />

graças a ele: ele se transforma em ator. 16<br />

Ao tempo cabe o atributo <strong>de</strong> ―ator‖ social, uma força que conduziria a história à<br />

finalida<strong>de</strong> teleológica <strong>do</strong> progresso social na busca <strong>de</strong> um mun<strong>do</strong> sem contradições. Nessa<br />

história fatídica, o futuro tornara-se fundamental para os rumos que as socieda<strong>de</strong>s tomariam; nas<br />

palavras <strong>de</strong> Hartog, é <strong>de</strong>le que ―vem a luz que torna inteligível o presente mas também o passa<strong>do</strong>;<br />

é em direção a ele que é necessário caminhar‖ 17 .<br />

Embora pre<strong>do</strong>minante no século XIX e em gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> século XX, o tempo <strong>do</strong><br />

progresso: esta força suprema que conduziria a humanida<strong>de</strong> à harmonia e bem-estar, também<br />

sofreu resistências, inclusive no seio <strong>do</strong> próprio oitocentos. As crises subsequentes que<br />

caracterizam o sistema econômico capitalista seriam uma das causas <strong>de</strong> seu questionamento 18 . A<br />

teoria econômica aponta para a existência <strong>de</strong> uma economia composta <strong>de</strong> crises e momentos <strong>de</strong><br />

estabilida<strong>de</strong>. No seio social isto significa momentos <strong>de</strong>sfavoráveis ao bem estar das pessoas,<br />

posto que neste mo<strong>de</strong>lo econômico todas as esferas estão interligadas, <strong>de</strong> forma que, quan<strong>do</strong> um<br />

elemento entra em crise, toda a socieda<strong>de</strong> entra. Esta concepção cíclica da economia (perío<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> segui<strong>do</strong>s <strong>de</strong> momentos <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong>) é transportada para a socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />

forma que em muitos aspectos a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> progresso passa a ser questionada por diversos setores<br />

sociais.<br />

Além <strong>do</strong>s problemas econômicos, o século XX passa a questionar mais<br />

veementemente o tempo <strong>do</strong> progresso quan<strong>do</strong> a socieda<strong>de</strong> se dá conta <strong>do</strong> fracasso que esta<br />

i<strong>de</strong>ia sofreu, bem como quan<strong>do</strong> se focaliza os prejuízos causa<strong>do</strong>s por tal visão, <strong>de</strong>ntre outras, nas<br />

esferas social e ambiental. Segun<strong>do</strong> Bosi:<br />

É vivo […] o sentimento <strong>de</strong> que o progressismo atravessa hoje uma <strong>de</strong> suas crises<br />

mais traumáticas. […] Parece-me que ela resulta <strong>de</strong> frustrações na medida em que<br />

o avanço tecnológico, além <strong>de</strong> ter acarreta<strong>do</strong> prejuízos terríveis à natureza, por si<br />

mesmo não curou as feridas <strong>de</strong> miséria <strong>do</strong> Terceiro e Quarto mun<strong>do</strong> nem<br />

humanizou o convívio entre os povos em pleno fim <strong>de</strong>ste milênio. 19<br />

Tempo <strong>do</strong> progresso e seu equivalente tempo da técnica trouxeram diversos<br />

benefícios para a socieda<strong>de</strong>, mas na maioria <strong>do</strong>s casos estes benefícios se direcionaram<br />

16 HARTOG, François. Tempos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, história, escrita da história. In GUIMARÃES, Manoel L.<br />

Estu<strong>do</strong>s sobre a escrita da história. Rio <strong>de</strong> Janeiro: 7 Letras, 2006. p. 16.<br />

17 I<strong>de</strong>m.<br />

18 Ibid. p. 17.<br />

19 BOSI, Alfre<strong>do</strong>. Op. Cit. p. 22.

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