14.10.2014 Views

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

646<br />

exerceu uma ação distintiva. Ela se incumbiu <strong>de</strong> separar os sujeitos –<br />

tornan<strong>do</strong> aqueles que nela entravam distintos <strong>do</strong>s outros, os que a ela não<br />

tinham acesso. Ela dividiu também, internamente, os que lá estavam,<br />

através <strong>de</strong> múltiplos mecanismos <strong>de</strong> classificação, or<strong>de</strong>namento,<br />

hierarquização. A escola que nos foi legada pela socieda<strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal<br />

mo<strong>de</strong>rna começou por separar adultos <strong>de</strong> crianças, católicos <strong>de</strong><br />

protestantes. Ela também se fez diferente para os ricos e para os pobres e<br />

ela imediatamente separou os meninos das meninas. Concebida<br />

inicialmente para acolher alguns – mas não to<strong>do</strong>s – ela foi, lentamente,<br />

sen<strong>do</strong> requisitada por aqueles aos quais havia si<strong>do</strong> negada. Os novos<br />

grupos foram trazen<strong>do</strong> transformações à instituição. Ela precisou ser<br />

diversa: organização, currículos, prédios, <strong>do</strong>centes, regulamentos,<br />

avaliações iriam, explícita ou implicitamente, ―garantir‖ – e também<br />

produzir – as diferenças entre os sujeitos. 6<br />

Dessa forma, acreditan<strong>do</strong> que a escola seja um reflexo ativo da socieda<strong>de</strong>. Assim uma<br />

questão se torna pertinente: <strong>de</strong> que maneira esse ambiente <strong>de</strong> aprendiza<strong>do</strong> e construções,<br />

<strong>de</strong>senvolve esse perfil <strong>de</strong> gênero e sexualida<strong>de</strong>?<br />

Os gestos, movimentos e senti<strong>do</strong>s são produzi<strong>do</strong>s no espaço escolar e incorpora<strong>do</strong>s,<br />

tornan<strong>do</strong>-se parte <strong>de</strong> seus corpos. É o que Louro chama <strong>de</strong> ―corpo escolariza<strong>do</strong>‖, ali eles<br />

apren<strong>de</strong>ram a olhar e se olhar, ouvir, calar e falar, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> como sujeitos reagirem, respon<strong>de</strong>rem,<br />

recusarem ou assumirem esses mo<strong>de</strong>los inteiramente. Assim, a autora pontua que através <strong>do</strong><br />

aprendiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> papéis, cada um (a) <strong>de</strong>veria reconhecer o que é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> e<br />

ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> para um homem ou mulher numa <strong>de</strong>terminada socieda<strong>de</strong>:<br />

To<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s são treina<strong>do</strong>s, fazen<strong>do</strong> com que cada um e cada uma<br />

conheça os sons, os cheiros e os sabores ―bons‖ e <strong>de</strong>centes e rejeitem os<br />

in<strong>de</strong>centes; aprenda o que, a quem e como tocar (ou, na maior das vezes,<br />

não tocar); fazen<strong>do</strong> com que tenha algumas habilida<strong>de</strong>s e não outras... E<br />

todas essas lições são atravessadas pelas diferenças, elas confirmam e<br />

também produzem diferenças. Evi<strong>de</strong>ntemente, os sujeitos não são<br />

passivos receptores <strong>de</strong> imposições externas. Ativamente eles se<br />

envolvem e são envolvi<strong>do</strong>s nessas aprendizagens [...]. 7<br />

Portanto, a escola atua tanto na instrução como ainda na interiorização <strong>de</strong> hábitos e<br />

valores que possam dar suporte à socieda<strong>de</strong> em construção, preparan<strong>do</strong> as crianças e jovens,<br />

moral e fisicamente ten<strong>do</strong> por base a educação <strong>do</strong> corpo, ou seja, capazes <strong>de</strong> expressar e exibir<br />

os signos, crenças, normas e as marcas corporais da socieda<strong>de</strong>.<br />

No âmbito <strong>do</strong> ensino <strong>de</strong> História Kátia Abud, afirma a importância <strong>do</strong> currículo como meio<br />

<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r como se estrutura o sistema educativo, colocan<strong>do</strong>-o como um <strong>do</strong>cumento<br />

historiográfico:<br />

O currículo contém uma concepção <strong>de</strong> escola, propostas meto<strong>do</strong>lógicas,<br />

técnicas <strong>de</strong> ensino, conteú<strong>do</strong>s seleciona<strong>do</strong>s, bibliografia, tornan<strong>do</strong>-se o<br />

6 LOURO, Guacira. Op. Cit. p. 57<br />

7 SAMARA, Eni. Op. Cit. p. 61

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!