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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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86<br />

Orientais frente aos Oci<strong>de</strong>ntais. Tal prática teve seu auge criativo no século XIX, quan<strong>do</strong> as<br />

potências européias necessitaram não apenas <strong>de</strong> força militar para realizar suas expansões pelo<br />

Oriente, mas também <strong>de</strong> uma forte i<strong>de</strong>ologia que legitimasse seus méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> conquista e<br />

submissão. Diversos autores no século XX, entre eles Edward Said, Albert Hourani e Roberto<br />

Marin Guzmán criticaram abertamente esse mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o Oriente, sugerin<strong>do</strong> novas<br />

concepções teóricas para seu estu<strong>do</strong>. Estes autores buscaram, principalmente, <strong>de</strong>svencilhar-se<br />

da maioria <strong>do</strong>s preconceitos surgi<strong>do</strong>s tão laboriosamente no passa<strong>do</strong>, mas que ainda se<br />

encontram extremamente fortes.<br />

Parte fundamental nesse esforço, a obra Orientalismo: o Oriente como invenção <strong>do</strong><br />

Oci<strong>de</strong>nte 2 , <strong>de</strong> Edward Said, buscou <strong>de</strong>smascarar o recorrente discurso oci<strong>de</strong>ntal sobre o Oriente.<br />

Nela, Said alerta para a estigmatização realizada pelos europeus acerca <strong>do</strong>s muçulmanos. Além<br />

disso, ressalta a importância também da compreensão e estu<strong>do</strong> daquilo que o ―outro‖ sente e<br />

relata como seu ponto <strong>de</strong> vista.<br />

A Ida<strong>de</strong> Média foi um perío<strong>do</strong> histórico marca<strong>do</strong> por vários conflitos entre cristãos e<br />

muçulmanos. Na base da questão estava a alterida<strong>de</strong> religiosa, fator i<strong>de</strong>ológico. As Cruzadas<br />

representam talvez o mais dramático embate entre esses <strong>do</strong>is grupos, e isso fica claro tanto nas<br />

Cruzadas <strong>do</strong> Oriente (<strong>do</strong> século XI até o XIII) quanto no movimento <strong>de</strong> Reconquista cristã na<br />

Península Ibérica (<strong>do</strong> século VIII até o XV). Mas ainda que existissem tais perío<strong>do</strong>s mais sérios <strong>de</strong><br />

combate <strong>de</strong>vemos lembrar que não houve uma guerra incessante. Na maior parte <strong>do</strong> tempo houve<br />

paz, e cristãos e muçulmanos relacionavam-se no cotidiano. O nosso tema <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> pertence à<br />

esse contexto histórico <strong>do</strong> Mediterrâneo, no qual uma socieda<strong>de</strong> híbrida foi formada pelos<br />

constantes intercâmbios culturais entre cristãos, muçulmanos e também ju<strong>de</strong>us. Cabe aqui<br />

salientar que essa socieda<strong>de</strong> foi mais bem exemplificada <strong>de</strong>ntro da Península Ibérica, a qual<br />

consistia, conforme afirma Fátima Regina Fernan<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> ―territórios sob <strong>do</strong>minação muçulmana<br />

que sofrem influência <strong>do</strong>s reinos cristãos e da cultura judaica, mas também promovem essas<br />

influências, o que faz da Península Ibérica uma encruzilhada cultural‖ 3 . Entretanto, muito <strong>do</strong> que<br />

conhecemos hoje sobre esse perío<strong>do</strong> adveio essencialmente da vertente histórica cristã e<br />

oci<strong>de</strong>ntal, parcial, portanto.<br />

Conhecer melhor, <strong>de</strong> uma forma mais abrangente e profunda esse momento histórico<br />

incorre dar oportunida<strong>de</strong> também às vozes silenciadas, ao muçulmano, por exemplo, e à inserção<br />

<strong>de</strong>le na socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu tempo. Nossa proposta <strong>de</strong> trabalho concerne ao estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>staca<strong>do</strong> erudito muçulmano, oriun<strong>do</strong> <strong>de</strong> Túnis, o historia<strong>do</strong>r 4 ‘Abd al-Rahman Ibn Khaldun<br />

2 SAID, Edward W. Orientalismo: o Oriente como invenção <strong>do</strong> Oci<strong>de</strong>nte. Tradução: Tomás Rosa Bueno.<br />

São Paulo: Companhia das Letras, 1990.<br />

3 FERNANDES, Fátima Regina. ―Cruzadas na Ida<strong>de</strong> Média‖. In: História das guerras. Organiza<strong>do</strong>r:<br />

Demétrio Magnoli. São Paulo, Contexto, 2006, p.105-106.<br />

4 Enten<strong>de</strong>mos Ibn Khaldun como historia<strong>do</strong>r tal como os autores Albert Hourani em sua obra Uma história<br />

<strong>do</strong>s povos árabes. Tradução <strong>de</strong> Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 2006; e Roberto

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