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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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35<br />

Pinto e Colling afirmam que o feminismo brasileiro encontrou no contexto da ditadura<br />

cívico-militar, um momento histórico propício para se <strong>de</strong>senvolver 33 em torno <strong>de</strong> problemas<br />

específicos <strong>de</strong> sua condição, tentan<strong>do</strong> <strong>de</strong>rrubar as barreiras da discriminação e administran<strong>do</strong> o<br />

duplo <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> lutar contra o inimigo externo que eram os militares e ainda enfrentar os<br />

militantes das organizações <strong>de</strong> esquerda, que as julgavam inoportunas, inconvenientes e<br />

divisionistas.<br />

Colling entrevistou seis mulheres militantes <strong>de</strong> organizações <strong>de</strong> esquerda (cinco<br />

universitárias e uma operária) e três homens, to<strong>do</strong>s presos pela ditadura cívico-militar, consultou<br />

também alguns <strong>do</strong>cumentos <strong>do</strong> DOPS; buscan<strong>do</strong> compreen<strong>de</strong>r como foi esse duplo <strong>de</strong>safio no<br />

dia-a-dia <strong>de</strong>ssas mulheres e principalmente como a repressão construiu o discurso ―mulher<br />

subversiva‖. A autora <strong>de</strong>staca as dificulda<strong>de</strong>s encontradas por eles, homens <strong>do</strong> seu tempo, na<br />

forma <strong>de</strong> tratar essas mulheres, companheiras <strong>de</strong> militância: muitas vezes o problema <strong>de</strong><br />

relacionamento e como fazer era maior que a própria revolução 34 , o constrangimento que sentiam<br />

<strong>de</strong>rivavam <strong>de</strong> suas concepções socialmente construídas, nas quais as mulheres não eram<br />

constituídas como sujeitos políticos.<br />

E, a partir das concepções sociais <strong>do</strong> lugar da mulher na família e na socieda<strong>de</strong>, a<br />

repressão construiu um discurso para tratar essas mulheres militantes, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-as como<br />

mulheres subversivas com comportamentos <strong>de</strong>sviantes <strong>de</strong> ―prostituta‖ e ―comunista‖, vulgarmente<br />

chamadas <strong>de</strong> ―puta-comunista‖, e que por isso não mereciam respeito, o que justificava a tortura<br />

psicológica e física pela repressão. Afinal, os militares estavam cumprin<strong>do</strong> a sua função: eliminar<br />

qualquer manifestação <strong>de</strong> oposição, buscan<strong>do</strong> <strong>de</strong>sconstruir a pretensão da mulher em se<br />

consi<strong>de</strong>rar um sujeito político autônomo, nesse espaço <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> pelo e para o masculino, ao<br />

longo das relações culturais e históricas.<br />

Feitas estas consi<strong>de</strong>rações acerca <strong>do</strong> último livro <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong> bibliográfico, parte-se para<br />

o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> abertura, ―lenta, gradual e segura‖, <strong>do</strong> regime cívico-militar nas discussões feitas por<br />

Pinto, que põe em relevo o movimento feminista, marca<strong>do</strong> fortemente por <strong>do</strong>is acontecimentos: a<br />

anistia aos presos políticos, que trouxe experiências e conteú<strong>do</strong>s diferencia<strong>do</strong>s para as<br />

discussões feministas no Brasil e a reforma partidária, que dividiu o MDB e algumas feministas em<br />

<strong>do</strong>is parti<strong>do</strong>s: PT e PMDB.<br />

No início da década <strong>de</strong> 1980, foram forma<strong>do</strong>s os primeiros Conselhos da Condição da<br />

Mulher e Delegacias da Mulher. Naquele perío<strong>do</strong> também surgiram grupos temáticos <strong>de</strong><br />

feministas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, que começam a tratar da saú<strong>de</strong> e da violência contra a mulher, e ainda<br />

muitas mulheres foram eleitas para os parlamentos. Também o feminismo acadêmico ampliou-se,<br />

33 Nesse senti<strong>do</strong>, Pinto expõe seu pensamento <strong>de</strong> que o novo feminismo nasce da resistência à ditadura. P.<br />

41<br />

34 COLLING, Ana Maria. Op. Cit.: 106.

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