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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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AS PRÁTICAS DE LEITURA<br />

Para enten<strong>de</strong>rmos o uso <strong>do</strong>s conceitos que explicam a construção <strong>de</strong> uma representação,<br />

e como estas representações estão contidas nas práticas <strong>de</strong> leitura e escrita, e neste caso uma<br />

forma <strong>de</strong> interpretação <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos, é necessário que uma breve explicação sobre como se<br />

chegou até uma história cultural, e em que ela contribui nesta analise.<br />

Na década <strong>de</strong> 60, para a legitimação <strong>de</strong> um <strong>do</strong>cumento eram necessários números e<br />

quantificação: o gosto pela longa duração, à primazia atribuída a um tipo <strong>de</strong> divisão social que<br />

organizava a classificação <strong>do</strong>s fatos <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong>s. Neste contexto, a investigação da cultura<br />

ainda era tida como popular, ou seja, não legitimada cientificamente. E as características próprias<br />

da história cultural assim <strong>de</strong>finida por Roger Chartier, conciliavam novos <strong>do</strong>mínios <strong>de</strong> investigação<br />

com a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s postula<strong>do</strong>s da história social, visan<strong>do</strong> à apropriação <strong>de</strong> uma legitimida<strong>de</strong><br />

científica, apoiada em aquisições intelectuais que tinham fortaleci<strong>do</strong> o seu <strong>do</strong>mínio institucional.<br />

A pretensão <strong>do</strong> autor na verda<strong>de</strong> era examinar as condições possíveis para uma história<br />

das práticas <strong>de</strong> leitura, ou seja, refletir sobre o mo<strong>do</strong> como uma configuração po<strong>de</strong> ser apropriada<br />

pelos leitores <strong>do</strong> texto, em outras palavras, o significa<strong>do</strong> da leitura se dá por aqueles que da<br />

leitura se apo<strong>de</strong>ram num <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> momento que seria o mesmo que dar ao leitor o prazer <strong>de</strong><br />

ser ele próprio o intérprete. Contrarian<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta forma a tradição mais recente da sociologia<br />

histórica da cultura, que impõe como objetivos fundamentais o estabelecimento das correlações<br />

entre pertença (presença) social e produções culturais e i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>s objetos próprios aos<br />

diferentes meios sociais.<br />

A proposta <strong>de</strong> Chartier para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> uma história cultural seria a <strong>de</strong> ilustrar uma<br />

outra maneira <strong>de</strong> pensar as evoluções e oposições intelectuais, traçan<strong>do</strong> as <strong>de</strong>terminações<br />

objetivas, expressas nos habitus disciplinares, que regulam a relação da história cultural francesa<br />

com os outros campos <strong>do</strong> saber, próximos, mas muitas vezes ignora<strong>do</strong>s: a história literária, a<br />

epistemologia das ciências, a filosofia.<br />

Para o autor a história cultural tem por principal objetivo i<strong>de</strong>ntificar o mo<strong>do</strong> como em<br />

diferentes lugares e momentos uma <strong>de</strong>terminada realida<strong>de</strong> social é constituída, pensada, dada a<br />

ler. Para tanto, o autor supõe alguns caminhos, ou esquemas intelectuais que po<strong>de</strong>m ser<br />

classificatórios, divisórios ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitações que organizam a apreensão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> social como<br />

categorias fundamentais <strong>de</strong> percepção e <strong>de</strong> apreciação <strong>do</strong> real, graças às quais o presente po<strong>de</strong><br />

adquirir senti<strong>do</strong>, o outro tornar-se inteligível e o espaço ser <strong>de</strong>cifra<strong>do</strong>. É nesta busca pela<br />

legitimação, as linguagens <strong>do</strong>s discursos <strong>de</strong>stes que foram esqueci<strong>do</strong>s serão retoma<strong>do</strong>s, a partir<br />

da releitura <strong>do</strong>s críticos literários que excluíram <strong>de</strong> seus cânones alguns artistas e eternizaram<br />

outros.

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