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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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redução da escala <strong>de</strong> observação 7 . Neste senti<strong>do</strong>, tem-se opta<strong>do</strong> por <strong>de</strong>limitar o foco <strong>de</strong> análise<br />

sob pessoas e/ou grupos étnicos diminutos inseri<strong>do</strong>s em microcosmos <strong>de</strong> dimensões históricosociais<br />

singulares. Eis uma das principais razões para a concentração <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s cujo locus <strong>de</strong><br />

observação recaem, constantemente, sob regiões que no passa<strong>do</strong> constituíram rotas privilegiadas<br />

<strong>do</strong> comércio atlântico <strong>de</strong> escravos 8 . A exemplo <strong>do</strong> Golfo <strong>do</strong> Benin e <strong>do</strong>s portos <strong>de</strong> Luanda,<br />

Cabinda e Benguela, na Costa Oci<strong>de</strong>ntal e Centro-Oci<strong>de</strong>ntal da África respectivamente, assim<br />

como – só para nos limitarmos ao âmbito <strong>do</strong> Atlântico Sul – da Baía <strong>de</strong> To<strong>do</strong>s os Santos e da Baía<br />

<strong>de</strong> Guanabara, em Salva<strong>do</strong>r e no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Concomitante a isto, tem-se realiza<strong>do</strong> também<br />

nestas mesmas regiões o arrolamento <strong>de</strong> múltiplos e varia<strong>do</strong>s tipos <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentação, encobrin<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> registros <strong>de</strong> embarca<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>sembarca<strong>do</strong>s até registros <strong>de</strong> batismos, casamentos e<br />

obituários 9 . Resultan<strong>do</strong>, ao fim, no <strong>de</strong>senvolvimento em série <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> casos assim como <strong>de</strong><br />

trajetórias <strong>de</strong> vidas, sejam elas coletivas ou individuais, volta<strong>do</strong>s, na maioria das vezes, à<br />

reconstituição e à re<strong>de</strong>finição <strong>do</strong>s elementos culturais transplanta<strong>do</strong>s, semelhantes e<br />

remanescentes <strong>de</strong> um la<strong>do</strong> a outro <strong>do</strong> Atlântico 10 .<br />

Portanto, não é exagero afirmar que na onda <strong>do</strong>s Estu<strong>do</strong>s Atlânticos as ações, anseios e<br />

i<strong>de</strong>ários <strong>do</strong>s seres humanos, ou melhor, <strong>do</strong>s agentes histórico-sociais ocupam o centro da história.<br />

Perspectiva esta, por sinal, compartilhada pela vertente da História Social <strong>do</strong> Trabalho inspirada,<br />

sobretu<strong>do</strong>, na obra A formação da classe operária inglesa (1978) <strong>de</strong> Edward P. Thompson e pela<br />

História <strong>do</strong> Cotidiano originária, por sua vez, da coletânea História da vida privada (1986)<br />

organizada e dirigida por Philippe Áries e George Duby.<br />

Ainda que com propósitos analíticos específicos, estas três linhas <strong>de</strong> investigação histórica<br />

emergentes, simultaneamente, no contexto historiográfico brasileiro <strong>do</strong> pós-1980 sugerem alguns<br />

pressupostos empíricos convergentes a respeito da preocupação em resgatar, rediscutir e<br />

re<strong>de</strong>finir as bases das relações sociais constituídas entre <strong>do</strong>minantes e <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s:<br />

(1º.) ao romperem com a premissa <strong>de</strong> que, na relação entre <strong>do</strong>minantes e <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s, os<br />

primeiros possui<strong>do</strong>res <strong>de</strong> um ―po<strong>de</strong>r absoluto e ilimita<strong>do</strong>‖ <strong>de</strong> coerção conseguiriam sem empecilho<br />

ou oposição controlar e anular os últimos;<br />

(2º.) ao compreen<strong>de</strong>rem que, no interior <strong>de</strong>sta mesma relação há diferentes hierarquias e<br />

relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e submissão que resultam ora em convergência ora em divergência <strong>de</strong><br />

interesses entre <strong>do</strong>minantes e <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s, envolven<strong>do</strong>, portanto, espaços <strong>de</strong> negociações entre<br />

ambas as partes que precisam ser valoriza<strong>do</strong>s e historiciza<strong>do</strong>s;<br />

(3º.) ao ampliarem o entendimento <strong>do</strong> que se tinha e <strong>do</strong> que se queria por ―<strong>do</strong>mina<strong>do</strong>r‖ e<br />

―<strong>do</strong>mina<strong>do</strong>‖, reconhecen<strong>do</strong> que estas relações iam – e vão – além das estruturas jurídicas e<br />

institucionais internacionais (os Esta<strong>do</strong>s) e nacionais (governos, parti<strong>do</strong>s e/ou facções políticas e<br />

7 MAMIGONIAN, Beatriz Gallotti. Op. Cit., p. 36.<br />

8 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, pp. 37-39.<br />

9 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 39.<br />

10 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, pp. 39-42.

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