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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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então pouco valoriza<strong>do</strong>s e/ou conheci<strong>do</strong>s. A relação entre a produção acerca da política externa<br />

imperial com os mesmos preâmbulos parece, no entanto, um tanto quanto imperceptível. Mas ela<br />

existe! E, quem sabe, não ganhe maior visibilida<strong>de</strong> ao lembrarmos que no perío<strong>do</strong> que ao longo<br />

da primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> Oitocentos esteve à diplomacia imperial a serviço, quase que exclusivo, da<br />

questão <strong>do</strong> tráfico negreiro fato que, por si só, coloca a produção historiográfica <strong>de</strong>ste campo<br />

como uma das beneficiárias diretas <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tal modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisa.<br />

Nas páginas e linhas que se seguiram, abordaremos <strong>de</strong> uma maneira geral, sem escolher<br />

um ou outro trabalho e/ou autor em especial, como este prisma epistemológico tem ajuda<strong>do</strong> na<br />

reorientação, observada nas últimas décadas, da produção historiográfica brasileira acerca <strong>do</strong><br />

tráfico transatlântico <strong>de</strong> escravos e da política externa imperial.<br />

O PRISMA ATLÂNTICO: SUA EMERGÊNCIA E SUAS PROPOSIÇÕES<br />

Segun<strong>do</strong> Beatriz Gallotti Mamigonian 3 , entre os recortes temáticos situa<strong>do</strong>s no cerne <strong>de</strong>sta<br />

modalida<strong>de</strong> encontram-se os estu<strong>do</strong>s que privilegiam a questão <strong>do</strong> <strong>de</strong>senraizamento da terra<br />

natal e da ressocialização em território estrangeiro, respectivamente, das sucessivas levas <strong>de</strong><br />

homens, mulheres e crianças comercializa<strong>do</strong>s, vendi<strong>do</strong>s e transporta<strong>do</strong>s através <strong>do</strong> Atlântico<br />

entre mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s séculos XVI e XIX 4 . Contu<strong>do</strong>, como a própria Mamigonian nos diz, este é só o<br />

plano central e unifica<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s interesses dispersos e multidisciplinares engaja<strong>do</strong>s nesta ampla<br />

perspectiva <strong>de</strong> investigação 5 . Que é também, tal qual expõem os norte-americanos Peter<br />

Linebaugh e Marcus Rediker:<br />

[...] acima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, uma história das origens <strong>do</strong> capitalismo e da<br />

colonização, <strong>do</strong> comércio mundial e da construção <strong>de</strong> impérios [sen<strong>do</strong>]<br />

inevitavelmente, ―uma história <strong>do</strong> <strong>de</strong>sarraigamento e da movimentação <strong>de</strong><br />

pessoas, <strong>do</strong> fabrico e da organização e preparação transatlântica <strong>de</strong><br />

‗mãos‘ (...) <strong>de</strong> exploração e resistência à exploração, <strong>de</strong> como foi gasta a<br />

‗seiva <strong>do</strong>s corpos‘ (...) <strong>de</strong> cooperação entre pessoas diferentes para<br />

alcançar os objetivos díspares <strong>de</strong> ganhar dinheiro e sobreviver [...]‖ 6 .<br />

É, portanto, uma história da expropriação, resistência, cooperação e imposição <strong>do</strong><br />

trabalho, da vida, <strong>de</strong> pessoas, <strong>de</strong> práticas e da violência empreendida por governos, instituições,<br />

associações e personagens inseri<strong>do</strong>s num contexto coletivo e/ou, mesmo, individual.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, no que tange o aspecto teórico-meto<strong>do</strong>lógico <strong>de</strong>ste campo <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>, é<br />

possível notar, ainda <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Mamigonian, a realização <strong>de</strong> trabalhos que primam pela<br />

3 MAMIGONIAN, Beatriz Gallotti. África no Brasil: Mapa <strong>de</strong> uma área em expansão. In: Topoi. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: PPGHS da UFRJ, vol. 5, nº. 9, pp. 33-53, 2004.<br />

4 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 36.<br />

5 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 33.<br />

6 LINEBAUGH, Peter; REDIKER, Marcus. A hidra <strong>de</strong> muitas cabeças: Marinheiros, escravos, plebeus e a<br />

história oculta <strong>do</strong> Atlântico revolucionário. Tradução <strong>de</strong> Berilo Vargas – São Paulo: Companhia das Letras,<br />

2008, pp. 23-24.

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