14.10.2014 Views

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

637<br />

Desta forma, enten<strong>de</strong>mos que a canção po<strong>de</strong> ser usada com tranqüilida<strong>de</strong> como um<br />

<strong>do</strong>cumento histórico durante as aulas. Ela é o extrato <strong>de</strong> uma cultura, carregada <strong>de</strong> significa<strong>do</strong> em<br />

seus versos, tanto implícita quanto explicitamente. Explicitamente nas canções atuais que falam<br />

abertamente sobre temas polêmicos como violência, drogas, política, e implicitamente quan<strong>do</strong><br />

percebemos nas entrelinhas <strong>de</strong> uma canção <strong>de</strong> engajamento da época da ditadura militar, por<br />

exemplo. Algumas canções que aparentemente po<strong>de</strong>riam ser qualificadas <strong>de</strong> inexpressivas<br />

po<strong>de</strong>m trazer em seu bojo um mun<strong>do</strong> repleto <strong>de</strong> significa<strong>do</strong>s que quase passava <strong>de</strong>spercebi<strong>do</strong> na<br />

tentativa <strong>de</strong> burlar a forte censura daqueles tempos.<br />

Esta relação que tentamos fazer aqui entre a música e o ensino busca criar alternativas<br />

meto<strong>do</strong>lógicas para fugir <strong>de</strong> uma idéia <strong>de</strong> História engessada e tradicionalista, passan<strong>do</strong> para uma<br />

visão temática na qual o aluno possa enten<strong>de</strong>r que a História é feita <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>s e rupturas,<br />

por exemplo. O que acreditamos facilitará a compreensão das simultaneida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s<br />

acontecimentos históricos.<br />

Segun<strong>do</strong> o historia<strong>do</strong>r José Geral<strong>do</strong> Vinci <strong>de</strong> Moraes (2000, p. 204), a música sempre<br />

acompanha a nossa vida, atingin<strong>do</strong> todas as classes sociais, inclusive as mais humil<strong>de</strong>s. Como a<br />

maioria das pessoas é leiga no código musical, elas criam uma percepção particular das canções<br />

que escutam em seu cotidiano, alcançan<strong>do</strong> assim um gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> comunicação. Conclui-se<br />

então que a música po<strong>de</strong> ser uma rica fonte para enten<strong>de</strong>r certos pontos ainda <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>s da<br />

cultura popular.<br />

Uma das premissas para compreen<strong>de</strong>r o papel da música, em especial da canção (que<br />

possui letra e música) na História, para Moraes, é nunca <strong>de</strong>svinculá-la <strong>do</strong>s movimentos históricos<br />

sociais e <strong>do</strong> contexto em que ela e o autor estão inseri<strong>do</strong>s. Além disso, é <strong>de</strong> suma importância,<br />

segun<strong>do</strong> o historia<strong>do</strong>r, nunca separar melodia e letra para o estu<strong>do</strong>, pois apesar da letra ser<br />

constantemente privilegiada nos estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ssa natureza, a melodia, a harmonia e o ritmo da<br />

canção influenciam e muito a sua compreensão. Moraes atenta que enten<strong>de</strong>r o código musical é<br />

uma dificulda<strong>de</strong>, mas que não <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> forma alguma <strong>de</strong>sestimulante. Afinal, esse é um <strong>do</strong>s<br />

seus recursos e que torna esse tipo <strong>de</strong> fonte subjetiva e intrigante, conforme Carlo Ginzburg, o<br />

fato <strong>de</strong> uma fonte não ser ―objetiva‖ não significa que seja inutilizável (GINZBURG, 1998, p. 21).<br />

Marcos Napolitano (2005, p. 8) também concorda que só se po<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a letra da<br />

música juntamente com a sua melodia, uma vez que, para o autor, a junção <strong>de</strong> ambas nos mostra<br />

o embate sociocultural da música como um to<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> perceptível, a partir daí, as influências<br />

diversas que as formam. Este autor critica a análise verbal separada da música, assim<br />

caracterizan<strong>do</strong>-a: 3<br />

3 [...] esses vícios po<strong>de</strong>m ser resumi<strong>do</strong>s na operação analítica, ainda presente em alguns trabalhos, que<br />

fragmenta este objeto sociológica e culturalmente complexo, analisan<strong>do</strong> ‗letra‘ separada da ‗música‘,<br />

‗contexto separa<strong>do</strong> da ‗obra, ‗autor‘, separa<strong>do</strong> da ‗socieda<strong>de</strong>‘, ‗estética‘ separada da ‗i<strong>de</strong>ologia‘.<br />

(NAPOLITANO, 2005, p. 8)

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!