14.10.2014 Views

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

628<br />

A proposta é investigar as práticas <strong>de</strong> leituras no seu cotidiano, a saber: a sala <strong>de</strong> aula. A<br />

etnografia da prática escolar explicita, <strong>de</strong> forma clara, o que propomos neste trabalho:<br />

O pesquisa<strong>do</strong>r aproxima-se das pessoas, situações, locais, eventos,<br />

manten<strong>do</strong> com eles um contato direto e prolonga<strong>do</strong>. [...] não há pretensão<br />

<strong>de</strong> mudar o ambiente, introduzin<strong>do</strong> modificações que serão<br />

experimentalmente controladas como na pesquisa experimental. Os<br />

eventos, as pessoas, as situações são observadas em sua manifestação<br />

natural [...]. 31<br />

A característica mais evi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sta proposta refere-se a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sabermos <strong>de</strong><br />

antemão os rumos <strong>do</strong> trabalho. Isto se configura para nós, ao mesmo tempo, como algo positivo e<br />

negativo. Negativo porque a pesquisa trilha caminhos, na maioria das vezes, diferentes daqueles<br />

que imaginávamos no inicio. Para alguns pesquisa<strong>do</strong>res, trabalhar com o imprevisível é algo<br />

complica<strong>do</strong>, ou mesmo impossível, em <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s contextos. O la<strong>do</strong> positivo é que, além <strong>de</strong><br />

vivenciarmos a pesquisa incessantemente – no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> sempre operarmos no limite <strong>de</strong> nossas<br />

ferramentas analíticas –, po<strong>de</strong>mos trabalhar mais próximos das práticas efêmeras. Nesse senti<strong>do</strong>,<br />

o pensamento <strong>de</strong> Michel <strong>de</strong> Certeau remete a um esforço, <strong>do</strong> qual compactuamos, <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r as<br />

práticas <strong>do</strong> cotidiano como práticas momentâneas, extrapolações da economia científica. Como<br />

afirma o autor:<br />

[...] o lucro ―trazi<strong>do</strong>‖ pela escrita parece recortar um ―resto‖ que vai <strong>de</strong>finir<br />

também o selvagem e que não se escreve. O prazer é o vestígio <strong>de</strong>sse<br />

resto. ―Encantamentos‖ <strong>de</strong> Léry, festas <strong>do</strong>s tupi – salmos silvestres <strong>de</strong> um<br />

e danças e baladas <strong>do</strong>s outros. Excesso que constitui um lugar comum<br />

entre eles. Mas isto é o efêmero e o irrecuperável. Momentos<br />

inexploráveis, sem renda e sem lucro. Alguma coisa <strong>do</strong> próprio Léry não<br />

retorna <strong>de</strong> là-bas. Estes instantes rompem o tempo <strong>do</strong> viajante, da mesma<br />

maneira que a organização festiva <strong>do</strong>s tupi escapa da economia da<br />

história. [...]. Esses cortes parecem vir <strong>de</strong>sfazer <strong>de</strong> noite a construção<br />

utilitária <strong>do</strong> relato. O ―in-audito‖ é o ladrão <strong>do</strong> texto, ou mais exatamente, é<br />

aquele que é rouba<strong>do</strong> <strong>do</strong> ladrão, precisamente aquele que é ouvi<strong>do</strong>, mas<br />

não compreendi<strong>do</strong>, e portanto arrebata<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho produtivo: a palavra<br />

sem escrita, o canto <strong>de</strong> uma enunciação pura, o ato <strong>de</strong> falar sem saber – o<br />

prazer <strong>de</strong> dizer sem escutar. 32<br />

Compartilhan<strong>do</strong> <strong>de</strong>sse pensamento, po<strong>de</strong>mos expor alguns aspectos que temos<br />

encontra<strong>do</strong> no trabalho <strong>de</strong> campo ainda em andamento nesse ano <strong>de</strong> 2010. Como dissemos<br />

anteriormente, o trabalho está sen<strong>do</strong> feito com uma turma <strong>do</strong> 7º ano <strong>do</strong> ensino fundamental <strong>de</strong><br />

uma escola estadual <strong>do</strong> município <strong>de</strong> Cambé no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná. A turma têm trinta e oito<br />

alunos matricula<strong>do</strong>s sen<strong>do</strong> que, trinta e sete frequentam regularmente as aulas. Destes, treze são<br />

alunos que reprovaram alguma série. A professora responsável é <strong>do</strong> quadro próprio da escola,<br />

formada em História, cursou especialização na área <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> História e tem experiência <strong>de</strong><br />

quatro anos na licenciatura. Um <strong>do</strong>s critérios para a escolha <strong>de</strong>ssa turma foi a relação que ela<br />

mantém com a professora. Sabemos que a maioria <strong>do</strong>s alunos estuda com ela, no mínimo, há<br />

<strong>do</strong>is anos e isso, segun<strong>do</strong> a própria educa<strong>do</strong>ra, é um fator importante para o alto grau <strong>de</strong><br />

31 ANDRÉ, 2000, p. 29.<br />

32 DE CERTEAU, 2006, p. 227.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!