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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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Dentre as possíveis discussões relativas à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s cristãos-novos no conjunto das<br />

representações, <strong>de</strong>stacamos a forma como o conceito cristão-novo é trata<strong>do</strong> na escrita produzida<br />

nos livros didáticos; a compreensão que se faz sobre a presença <strong>do</strong> cristão-novo no Brasil<br />

colonial, observan<strong>do</strong> os diferentes discursos e as possíveis interpretações; e, por último, a<br />

disposição das imagens trazidas nas obras, trazen<strong>do</strong> uma reflexão sobre a forma como dialogam<br />

com os textos propostos nos mesmos.<br />

Em relação à questão <strong>do</strong> conceito, tanto as obras contemporâneas quanto da década <strong>de</strong><br />

1980, o ju<strong>de</strong>u e o cristão-novo aparecem na condição <strong>de</strong> um mesmo indivíduo, não seria legítimo<br />

nem verda<strong>de</strong>iro usar os <strong>do</strong>is vocábulos, cristão-novo e ju<strong>de</strong>u, como se <strong>de</strong> sinônimos se tratasse 20 .<br />

Refletin<strong>do</strong> acerca das narrativas encontradas nos livros didáticos aos quais nos<br />

remetemos para esse estu<strong>do</strong>, as obras da década <strong>de</strong> 1980, em relação as mais atuais, parecem<br />

tratar a questão <strong>do</strong> neocristão sobre uma perspectiva menos limitada e restrita.<br />

Raymun<strong>do</strong> Campos 21 , por exemplo, traz a figura <strong>de</strong> Antônio Dias, um cristão-novo,<br />

também conheci<strong>do</strong> como Paparrobalos que teria esta<strong>do</strong> a serviço <strong>do</strong>s holan<strong>de</strong>ses no Brasil, como<br />

espião, no momento em que os holan<strong>de</strong>ses avançavam para Recife e Olinda. Nessa análise, é<br />

possível perceber alguns fatores que se aproximam da produção historiográfica pelo menos nesse<br />

perío<strong>do</strong>, como por exemplo, a existência <strong>de</strong> uma relação entre os cristãos-novos e os holan<strong>de</strong>ses;<br />

indícios <strong>de</strong> que tanto um como o outro mantinham interesses em comum; e, o fato <strong>do</strong> cristão-novo<br />

ocupar um outro lugar, que não o <strong>de</strong> sujeito vitimiza<strong>do</strong>.<br />

Já em Alencar, Ramalho, e Ribeiro 22 o cristão-novo surge logo no início da história <strong>do</strong><br />

―Descobrimento‖ <strong>do</strong> Brasil, no ano <strong>de</strong> 1502, na figura <strong>do</strong> personagem <strong>de</strong> Fernão <strong>de</strong> Noronha,<br />

como lí<strong>de</strong>r da exploração <strong>do</strong> pau-brasil a serviço da Coroa.<br />

Quanto à escrita produzida nos livros didáticos contemporâneos, uma primeira impressão<br />

<strong>de</strong>nota os cristãos-novos representa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma semelhante, ou seja, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma mesma<br />

perspectiva tanto temporal, quanto espacial. Os personagens aparecem na história <strong>do</strong> Brasil,<br />

apenas no perío<strong>do</strong> que correspon<strong>de</strong> ao <strong>do</strong>mínio holandês, situa<strong>do</strong>s na região nor<strong>de</strong>ste. Também,<br />

é semelhante o tratamento que se dá à cultura histórica relativa ao passa<strong>do</strong> brasileiro construída a<br />

partir das narrativas propostas, trazen<strong>do</strong> os cristãos-novos no lugar <strong>de</strong> vítimas ou <strong>de</strong> submissão.<br />

Ten<strong>do</strong> em vista a vinda <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>us converti<strong>do</strong>s para o Brasil, no final <strong>do</strong> século<br />

XV e o século XVI, faz-se necessário atentarmos para as diferentes formas as quais se<br />

estabeleceram, e, partin<strong>do</strong>-se da perspectiva <strong>de</strong> que o livro didático é objeto <strong>do</strong>minante em sala<br />

<strong>de</strong> aula e que o papel que o mesmo exerce é a construção <strong>de</strong> uma memória oficial, a presença<br />

<strong>do</strong>s cristãos–novos no Brasil quinhentista, <strong>de</strong>ve ser entendida como uma forma <strong>de</strong><br />

20 COELHO, B. A. Cristãos-novos, ju<strong>de</strong>us portugueses e o pensamento mo<strong>de</strong>rno. In: NOVAES, Adauto<br />

(org.) A <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> homem e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 254.<br />

21 CAMPOS, Raymun<strong>do</strong>. História <strong>do</strong> Brasil, São Paulo: Atual, 1983, p.46.<br />

22 ALENCAR, Francisco; RAMALHO, Lucia Carpi e RIBEIRO, Marcus Venício. A História da Socieda<strong>de</strong><br />

Brasieira. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ao Livro Técnico, 1985, p. 12.

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