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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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que não só participaram ativamente <strong>do</strong> projeto coloniza<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Brasil como teriam secretamente<br />

utiliza<strong>do</strong> a nova colônia como refúgio para os ju<strong>de</strong>us persegui<strong>do</strong>s 4 .<br />

É a partir <strong>de</strong>ssa perspectiva que os estu<strong>do</strong>s da década <strong>de</strong> cinqüenta e sessenta,<br />

começaram a tratar da presença <strong>do</strong>s cristãos <strong>de</strong> ascendência judaica em nosso território, isto é,<br />

como aqueles que vislumbravam o Brasil como rota <strong>de</strong> fuga, seriam os mártires da Inquisição,<br />

entendi<strong>do</strong>s como elemento não adapta<strong>do</strong> à nova realida<strong>de</strong> ibérica 5 .<br />

Um outro aspecto sobre o estabelecimento <strong>do</strong>s neocristãos na América Portuguesa,<br />

estaria liga<strong>do</strong> ao fator <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m econômica. Em alguns relatos, o Brasil surgia como um país <strong>de</strong><br />

excelentes oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> enriquecimento, para on<strong>de</strong> os ju<strong>de</strong>us converti<strong>do</strong>s teriam volta<strong>do</strong> o<br />

olhar na esperança <strong>de</strong> encontrar aqui oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> enriquecimento 6 .<br />

Percebi<strong>do</strong> o consi<strong>de</strong>rável aumento no número <strong>de</strong> tais personagens que aportavam no<br />

Brasil, estu<strong>do</strong>s começaram a surgir na historiografia brasileira redimensionan<strong>do</strong> o lugar que estes<br />

passaram a ocupar no passa<strong>do</strong> colonial, isto é, enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-o não mais como vítima, mas também<br />

como agente histórico, sujeito <strong>de</strong> sua própria ação 7 . O senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> se narrar uma história sobre tal<br />

personagem no mun<strong>do</strong> luso-brasileiro seria compreen<strong>de</strong>r sua atuação na socieda<strong>de</strong> e as<br />

dificulda<strong>de</strong>s que enfrentaram diante das perseguições que sofreram por parte da mesma e pela<br />

Inquisição, indican<strong>do</strong> resistências em relação à cultura 8 e a religião que lhe eram impostas.<br />

Diante <strong>do</strong> sincretismo religioso existente na colônia, os traços católicos estavam<br />

mistura<strong>do</strong>s a outras formas <strong>de</strong> crença, como por exemplo, o judaísmo. Nesse contexto, é<br />

importante compreen<strong>de</strong>r que toda a diversida<strong>de</strong> cultural e religiosa, era vivida e, portanto, inserida<br />

no dia-a-dia das populações como era o caso da prática judaica que não fugia à regra.<br />

As relações cotidianas que ao longo <strong>do</strong> tempo foram se consolidan<strong>do</strong> entre cristão-novos e<br />

os <strong>de</strong>mais habitantes da colônia tornaram-se objeto <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s. As<br />

manifestações culturais da religião foram transmitidas <strong>de</strong> uma geração para outra, e, embora<br />

alguns apontem para certo distanciamento com o judaísmo 9 , é possível perceber que a prática da<br />

quinhentista. In: Grinberg, Keila. Os ju<strong>de</strong>us no Brasil: inquisição, imigração e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. (org.). Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Civilização Brasileira, 2005, p. 45.<br />

4 CARVALHO, Francisco Moreno Carcalho <strong>de</strong>. O Brasil nas profecias <strong>de</strong> um ju<strong>de</strong>u sebastianista: os<br />

―Aforismos‖ <strong>de</strong> Manuel Bocarro Francês/ Jacob Rosales. In: Keila Grinberg. (Org.). Os ju<strong>de</strong>us no Brasil:<br />

inquisição, imigração e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. p. 115.<br />

5 SILVA, Janaína Guimarães da Fonseca e. Mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pensar, maneiras <strong>de</strong> viver: cristãos-novos em<br />

Pernambuco no século XVI. Dissertação <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong> em História da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco.<br />

Recife, 2007, p. 10.<br />

6 SALVADOR, José Gonçalves. Os Cristãos-Novos Povoamento e conquista <strong>do</strong> solo brasileiro ( 1530-1680).<br />

São Paulo, Pioneira, 1976, p. 48.<br />

7 Anita Novinsky tida como pioneira, abriu novos horizontes para a pesquisa acerca da questão judaica no<br />

Brasil ao estudar as perseguições sofridas pelos ju<strong>de</strong>us no século XVII, na obra Cristãos-novos na Bahia: a<br />

inquisição. São Paulo: Perspectiva, 1992.<br />

8 O conceito <strong>de</strong> cultura o qual nos referimos seria aquele <strong>de</strong>fendi<strong>do</strong> por Geertz (1989) a partir <strong>de</strong> Max<br />

Weber, ou seja, como uma teia <strong>de</strong> significa<strong>do</strong>s.<br />

9 Esse distanciamento <strong>do</strong>s cristãos-novos com a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> judaica não anula o fato <strong>do</strong>s mesmos ―fazerem<br />

parte da historia judaica, uma vez que eram consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s como ju<strong>de</strong>us pela comunida<strong>de</strong> ampla, e pelo<br />

Tribunal <strong>do</strong> Santo Oficio e mantinham uma memória judaica.‖ (GORENSTEIN, Lina. Um Brasil subterrâneo:<br />

cristãos-novos no século XVIII. In: Grinberg, Keila. Os ju<strong>de</strong>us no Brasil: inquisição, imigração e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />

(org.). Rio <strong>de</strong> Janeiro: Civilização Brasileira, 2005, p. 156.

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