14.10.2014 Views

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

452<br />

Um tema recorrente em Nietzsche é a crítica à <strong>do</strong>mesticação que o ser humano tem que<br />

passar para po<strong>de</strong>r existir em rebanho, para suportar a vida em socieda<strong>de</strong>. Ele se estremece<br />

contra a moral religiosa, fundamentalmente contra a moral cristã, que preconiza o aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong><br />

corpo em <strong>de</strong>trimento da alma, que ensina a contenção física e con<strong>de</strong>na o fluir corporal.<br />

[...] Não que eu pense que nisso a malda<strong>de</strong> e baixeza humana, o bicho<br />

mau e selvagem que há em nós, digamos, <strong>de</strong>veria ser dissimula<strong>do</strong>; é<br />

minha i<strong>de</strong>ia, pelo contrário, que justamente como bichos <strong>do</strong>mestica<strong>do</strong>s<br />

somos um espetáculo vergonhoso e necessitamos <strong>de</strong> travestimento moral<br />

[...]. O europeu se disfarça na moral, porque se tornou um animal <strong>do</strong>ente,<br />

<strong>do</strong>entio, estropia<strong>do</strong>, que tem boas razões para ser ―<strong>do</strong>mestica<strong>do</strong>‖, porque é<br />

quase um aborto, algo incompleto, fraco, <strong>de</strong>sajeita<strong>do</strong>... Não é a ferocida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> animal <strong>de</strong> rapina que precisa <strong>de</strong> um disfarce moral, mas o animal <strong>de</strong><br />

rebanho com sua profunda mediania, temor e tédio consigo mesmo. A<br />

moral a<strong>do</strong>rna o europeu — confessêmo-lo! — fazen<strong>do</strong>-o parecer mais<br />

nobre, mais importante, respeitável, ―divino‖ —. (Nietzsche, Gaia Ciência,<br />

p. 246, [352]).<br />

E para encerrar, mas um trecho <strong>de</strong> LeBrasseur e Nietzsche:<br />

[...] Nunca observou quão poucas pessoas em nossa socieda<strong>de</strong> ainda<br />

são capazes <strong>de</strong> rir, ou <strong>de</strong> gritar, ou <strong>de</strong> soluçar a pleno pulmão?<br />

Responsáveis por esta incapacida<strong>de</strong> seriam as instituições que provocam<br />

a estagnação <strong>do</strong> flui<strong>do</strong>. Em outras palavras, seria a mo<strong>de</strong>rna educação<br />

artificial, que reprime tu<strong>do</strong> aquilo que procura emergir buscan<strong>do</strong> a luz [...].<br />

(Sloterdijk. A árvore mágica, p. 53).<br />

No aforismo 14 da ―Terceira dissertação‖ da Genealogia da Moral (―O que significam os i<strong>de</strong>ias<br />

ascéticos‖), Nietzsche fala sobre a condição <strong>do</strong>entia <strong>do</strong> homem civiliza<strong>do</strong>. Em sua perspectiva, a<br />

condição <strong>do</strong>entia é o normal no homem que se submete às regras da moral ascética. Nesse texto,<br />

o filósofo <strong>de</strong>nuncia a proliferação <strong>de</strong> instituições ascéticas, como as igrejas e universida<strong>de</strong>, que<br />

estariam incentivan<strong>do</strong> e afirman<strong>do</strong> a enfermida<strong>de</strong> humana. Em um trecho, diz o seguinte:<br />

[...] Quem para farejar possui não apenas o nariz, mas também os olhos<br />

e ouvi<strong>do</strong>s, sente, em quase toda parte aon<strong>de</strong> vai atualmente, algo<br />

semelhante a um ar <strong>de</strong> hospício, a um ar <strong>de</strong> hospital — falo, naturalmente,<br />

das áreas <strong>de</strong> cultura <strong>do</strong> homem, <strong>de</strong> toda espécie <strong>de</strong> ―Europa‖ sobre a terra.<br />

(Nietzsche, Genealogia da moral, p. 111, [14]).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!