14.10.2014 Views

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

40<br />

Um da<strong>do</strong> importante a ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> é o público a que se <strong>de</strong>stina o texto. Quem produz<br />

o texto, produz para um público. E esse público também contribui para o produto final <strong>de</strong> uma<br />

escrita. Portanto:<br />

O receptor, mesmo que o autor ou produtor <strong>do</strong> texto não esteja<br />

plenamente consciente disto, ajuda também a escrever o texto. Quem<br />

escreve um texto acaba antecipan<strong>do</strong> certas expectativas <strong>de</strong> quem irá<br />

recebê-lo, seja para contemplá-las ou para afrontá-las. Neste senti<strong>do</strong>, o<br />

receptor <strong>do</strong> texto não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> se inscrever na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res que<br />

ajudam a produzir e formatar o texto através <strong>do</strong> produtor aparente <strong>do</strong><br />

discurso 5<br />

Ainda segun<strong>do</strong> Barros, três aspectos são relevantes na análise textual: o lugar <strong>de</strong><br />

produção; o conteú<strong>do</strong> (intenção, mensagem) e o lugar <strong>de</strong> recepção. Caben<strong>do</strong> ao historia<strong>do</strong>r lidar<br />

com esses três vértices que estão interliga<strong>do</strong>s e refletem as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que existem neles.<br />

Há <strong>de</strong> levarmos em consi<strong>de</strong>ração a intertextualida<strong>de</strong> que contém um texto. Toda escrita<br />

refere-se a um ―gênero‖ que lhe atribui normas literárias, quer o autor esteja <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> ou não.<br />

Também nessa direção, existirão outros textos que contribuirão para construir <strong>de</strong>terminada<br />

escrita. Dessa maneira, com o conhecimento ou não <strong>do</strong> autor, haverá outros textos que farão<br />

parte <strong>do</strong> seu discurso. Para Marc Bloch, mesmo que alguém possua uma maneira ‗nova‘ <strong>de</strong> fazer<br />

algo, essa pessoa está inserida em um contexto que mol<strong>do</strong>u seu pensamento. 6<br />

Com o mesmo olhar crítico em que analisamos um texto <strong>de</strong>vemos esten<strong>de</strong>r essa<br />

criticida<strong>de</strong> às imagens produzidas por uma época, sejam elas pinturas, gravuras ou fotografias.<br />

Como expõe Peter Burke 7 , o estu<strong>do</strong> da iconografia passa hoje por uma valorização nos meios<br />

acadêmicos, que até então não tivera uma gran<strong>de</strong> relevância. Essas imagens, her<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> um<br />

tempo, trazem consigo um tipo <strong>de</strong> narrativa, que submetida a um interrogatório nato <strong>de</strong> um<br />

historia<strong>do</strong>r, proporciona indícios <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, assim como os <strong>do</strong>cumentos escritos.<br />

Uma pintura, que hoje vemos exposta em museus, ou mesmo uma tela guardada por<br />

séculos em porões anônimos, expressa muito mais <strong>do</strong> pensar <strong>de</strong> uma época <strong>do</strong> que acreditamos<br />

<strong>de</strong> início. Porém, uma preocupação <strong>de</strong> Burke é o significa<strong>do</strong> ―evi<strong>de</strong>nte‖ que essa mesma obra<br />

revela aos seus observa<strong>do</strong>res e que mascara sua real expressão <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. Para nós<br />

pesquisa<strong>do</strong>res, cabe saber fazer as perguntas certas ao nosso objeto. Aquilo que parece óbvio<br />

<strong>de</strong>ve ser rejeita<strong>do</strong>, abrin<strong>do</strong> espaço para o que está sutil, ou mesmo que não aparece na imagem.<br />

As roupas, o cenário, as feições <strong>do</strong>s personagens, a sombra e a luz, tu<strong>do</strong> isso faz parte<br />

<strong>de</strong> um arranjo <strong>do</strong> pintor para salientar tal objetivo que tem em sua pintura. Devemos procurar<br />

perguntar o porquê <strong>de</strong>sses enfoques, <strong>de</strong>ssas feições ou mesmo <strong>de</strong>sse cenário. Por que os<br />

5 BARROS, Op. Cit, p.133.<br />

6 BLOCH, Marc. Apologia da História ou O Ofício <strong>de</strong> Historia<strong>do</strong>r. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar, 2001.<br />

7 BURKE, Peter. Testemunha Ocular – História e Imagem. Bauru, SP: EDUSC. 2004.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!