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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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criação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e, concomitantemente, a criação <strong>do</strong> tempo por um ser superior, o que<br />

pressupõe que o tempo teve um início único, portanto, objetivo e perfeitamente compreensível.<br />

A segunda tentativa encontra em Kant sua maior autorida<strong>de</strong> que é a concepção <strong>do</strong><br />

tempo como um da<strong>do</strong> a priori, uma ―forma inata <strong>de</strong> experiência […] não modificável da natureza<br />

humana‖. Para Elias, esta segunda tentativa mostra o tempo como ―uma maneira <strong>de</strong> captar em<br />

conjunto os acontecimentos que se assentam na particularida<strong>de</strong> da consciência humana, ou,<br />

conforme o caso, da razão ou <strong>do</strong> espírito humanos, e que, como tal, prece<strong>de</strong> qualquer experiência<br />

humana‖ 6 . A gran<strong>de</strong> diferença em relação à primeira concepção é que a segunda vê o tempo não<br />

como um da<strong>do</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da realida<strong>de</strong> humana, mas como uma representação ―subjetiva‖,<br />

alicerçada na natureza humana.<br />

Compreen<strong>de</strong>mos os saberes humanos a partir da visão da história como processo;<br />

as socieda<strong>de</strong>s produzem conhecimentos que se modificam com o tempo. A própria concepção <strong>de</strong><br />

tempo, como construção social – visão que a<strong>do</strong>tamos como fundamental para esta reflexão –<br />

também sofre influências <strong>do</strong> processo histórico, sen<strong>do</strong> modificada, mas sempre com o olhar<br />

volta<strong>do</strong> para as rupturas e permanências. Assim, é inegável que a construção temporal da<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista social também influencia e é influenciada pelo aspecto filosófico.<br />

Compreen<strong>de</strong>r o tempo como construção social, implica dizer que cada socieda<strong>de</strong> ou grupo<br />

constrói sua forma <strong>de</strong> interpretar a duração em que vive. Esta afirmação revela a síntese das<br />

concepções filosóficas e sociais <strong>de</strong> tempo que apontamos, pois implica uma ótica subjetiva <strong>de</strong><br />

tempo, posto que cada socieda<strong>de</strong> e, mesmo, cada grupo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta socieda<strong>de</strong> constrói sua<br />

visão, tornan<strong>do</strong>-se esta diferenciada das outras, particular, e, ao mesmo tempo, uma visão que<br />

respeita os limites <strong>do</strong> grupo ou socieda<strong>de</strong> que a forja. Elias <strong>de</strong>staca:<br />

[…] nosso saber resulta <strong>de</strong> um longo processo <strong>de</strong> aprendizagem, que não teve<br />

começo na histórica da humanida<strong>de</strong>. To<strong>do</strong> indivíduo, por maior que seja sua<br />

contribuição cria<strong>do</strong>ra, constrói a partir <strong>de</strong> um patrimônio <strong>de</strong> saber já adquiri<strong>do</strong>, o<br />

qual ele contribui para aumentar. E isso não é diferente no que concerne ao<br />

conhecimento <strong>do</strong> tempo.‖ 7<br />

Pensar a temporalida<strong>de</strong>, assim, não é um da<strong>do</strong> novo para quem quer que seja, pois<br />

esta já vem sen<strong>do</strong> pensada e significada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início das primeiras socieda<strong>de</strong>s humanas.<br />

Pensar o tempo é <strong>de</strong>bruçar-se diante <strong>do</strong> que conhecemos anteriormente, juntá-lo a nossos<br />

valores e cosmogonias e às questões objetivas que se colocam na vivência social <strong>de</strong> cada<br />

indivíduo, sen<strong>do</strong> possível, apenas quan<strong>do</strong> compreen<strong>de</strong>mos o processo cognitivo a partir <strong>de</strong> uma<br />

―teoria <strong>do</strong> saber humano ligada à evolução observável <strong>de</strong>sse saber‖ 8 , o que significa compreen<strong>de</strong>r<br />

o saber humano como socialmente construí<strong>do</strong>. Pensar o tempo é uma característica tão peculiar e<br />

fundamental das socieda<strong>de</strong>s – ainda que <strong>de</strong> formas distintas umas das outras – que um mun<strong>do</strong><br />

6 I<strong>de</strong>m.<br />

7 Ibid. p. 10.<br />

8 I<strong>de</strong>m.

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