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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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340<br />

filósofo francês Blaise Pascal, sobre a representativida<strong>de</strong> simbólica das vestes e <strong>do</strong>s instrumentos<br />

<strong>do</strong>s magistra<strong>do</strong>s e médicos, quan<strong>do</strong> diz o filósofo que ―a majesta<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas ciências seria por si<br />

própria suficientemente venerável. Mas lidan<strong>do</strong> apenas com ciências imaginárias, é-lhes<br />

necessário lançar mão <strong>de</strong>sses vãos instrumentos que impressionam a imaginação 9 daqueles<br />

com que têm <strong>de</strong> tratar; e é <strong>de</strong>ste mo<strong>do</strong>, que se dão ao respeito‖ 10 .<br />

Ainda seguin<strong>do</strong> essa teoria, Chartier expõe que:<br />

A relação <strong>de</strong> representação é, <strong>de</strong>sse mo<strong>do</strong>, perturbada pela fraqueza da<br />

imaginação, que faz com que se tome o engo<strong>do</strong> pela verda<strong>de</strong>, que<br />

consi<strong>de</strong>ra os signos visíveis como índices seguros <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> que<br />

não o é 11 .<br />

In<strong>do</strong> mais além, o historia<strong>do</strong>r ainda diz:<br />

Nas <strong>de</strong>finições antigas (por exemplo, a <strong>do</strong> Dicionário universal <strong>de</strong> Furetière<br />

em sua edição <strong>de</strong> 1727), as acepções correspon<strong>de</strong>ntes à palavra<br />

‗representação‘ atestam duas famílias <strong>de</strong> senti<strong>do</strong> aparentemente<br />

contraditórias: por um la<strong>do</strong>, a representação faz ver uma ausência, o que<br />

supõe uma distinção clara entre o que representa e o que é representa<strong>do</strong>;<br />

<strong>de</strong> outro, é a apresentação <strong>de</strong> uma presença, a apresentação pública <strong>de</strong><br />

uma coisa ou <strong>de</strong> uma pessoa. Na primeira acepção, a representação é o<br />

instrumento <strong>de</strong> um conhecimento mediato que faz ver um objeto ausente<br />

substituin<strong>do</strong>-lhe uma ‗imagem‘ capaz <strong>de</strong> repô-lo em memória e <strong>de</strong> ‗pintá-lo‘<br />

tal como é 12 .<br />

Entretanto, observa-se muito que o conceito <strong>de</strong> imaginário é sempre constante. Esse<br />

elemento da mente humana, que não se po<strong>de</strong> ver, nem tocar, porém, faz parte da realida<strong>de</strong><br />

individual e coletiva das pessoas, e é presente.<br />

A eterna oposição entre razão e aquilo que não é materializa<strong>do</strong>, ou seja, o irracional,<br />

sempre esteve liga<strong>do</strong> aos problemas da ciência Iluminista mo<strong>de</strong>rna. Para Platão, havia algo <strong>de</strong><br />

inseguro em se crer na ficção, como sen<strong>do</strong> algo imperfeito, distante <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> perfeito das idéias,<br />

aquele que possui os verda<strong>de</strong>iros saberes, pois tu<strong>do</strong> o que viríamos no mun<strong>do</strong> sensível seria<br />

ilusão, ou cópias imperfeitas, bem como seriam os sonhos, a imaginação. Segun<strong>do</strong> esse filósofo –<br />

ao recorrer ao diálogo entre Sócrates e Glauco, ―a arte <strong>de</strong> imitar executa as suas obras longe da<br />

verda<strong>de</strong>, e, além disso, convive com a parte <strong>de</strong> nós mesmos, avessa ao bom-senso, sem ter em<br />

9 Grifo meu, para ressaltar a idéia <strong>de</strong> objeto material <strong>do</strong> objeto (ou imaterial) representan<strong>do</strong> uma possível<br />

realida<strong>de</strong>.<br />

10 PASCAL, Blaise. Pensées, 104, In Ouvres Completes. Texto estabeleci<strong>do</strong> por Jacques Chevalier. Paris:<br />

Bibliothèque <strong>de</strong> La Plêia<strong>de</strong>, 1954. p. 1118 apud CHARTIER, Roger. A História Cultural: Entre Práticas e<br />

Representações. Tradução <strong>de</strong> Maria Manoela Galhar<strong>do</strong>. Memória e Socieda<strong>de</strong>, Coleção Coor<strong>de</strong>nada por<br />

Francisco Bethencourt e Diogo Ramada Curto. Lisboa: Difusão Editorial Ltda; Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora<br />

Bertrand Brasil S. A., 1990, p. 22.<br />

11 CHARTIER, Roger. O Mun<strong>do</strong> como Representação. Texto publica<strong>do</strong> com permissão da Revista<br />

Annales (NOV-DEZ. 1989, Nº 6, pp. 1505-1520). In: Revista <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Avança<strong>do</strong>s. Tradução <strong>de</strong> Andrea<br />

Daher e Zenir Campos Reis. São Paulo, 1991, p. 185.<br />

12 I<strong>de</strong>m, p. 184.

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