14.10.2014 Views

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

496<br />

pre<strong>do</strong>minantemente para uma parcela muito pequena da população, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> a gran<strong>de</strong> maioria à<br />

margem. Criou-se no seio das socieda<strong>de</strong>s oci<strong>de</strong>ntais uma expectativa <strong>de</strong>masiada sobre o<br />

progresso que, quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>sapontada, refletiu-se em crise e questionamentos a esta i<strong>de</strong>ia. Em<br />

outras palavras, o tempo <strong>do</strong> progresso não trouxe a equida<strong>de</strong> econômica e social, bem como a<br />

equida<strong>de</strong> em relação aos benefícios tecnológicos que se esperava <strong>de</strong>le; má distribuição <strong>de</strong> renda,<br />

fome e <strong>do</strong>enças são apenas alguns <strong>do</strong>s efeitos danosos que refletem sua crise.<br />

Por tu<strong>do</strong> o que apresenta, a própria i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> progresso criou elementos para seu<br />

questionamento. Na expectativa <strong>de</strong> se tornar um tempo absoluto, englobante, capaz <strong>de</strong> abarcar<br />

toda a humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> si, o tempo <strong>do</strong> progresso enquanto construção social <strong>do</strong> oci<strong>de</strong>nte,<br />

fracassou. A própria ciência produtora da técnica, característica fundamental <strong>do</strong> progresso, criou<br />

condições objetivas que em da<strong>do</strong> momento, tornou-se ferramenta importante para a<br />

<strong>de</strong>sconstrução da hegemonia da temporalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> progresso. Personagem capital <strong>de</strong>sta<br />

contradição, Albert Einstein trouxe gran<strong>de</strong> contribuição no campo das ciências, <strong>de</strong>rruban<strong>do</strong><br />

concepções temporais que se arrastavam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Newton 20 . A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> tempo absoluto <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong><br />

ser vista como tal, passan<strong>do</strong> a ser postulada a partir da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> um ―referencial‖, isto é, o tempo<br />

flui relativamente diferente <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o referencial a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>.<br />

Historicamente sabemos que os eventos não são isola<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> forma que as i<strong>de</strong>ias<br />

<strong>de</strong> Einstein – sem <strong>de</strong>smerecer seu gênio inventivo – são resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> situações objetivas que a<br />

socieda<strong>de</strong> o proporcionou; ele, por sua vez, contribuiu para a construção <strong>de</strong> uma nova concepção<br />

<strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong> para o século XX, contribuin<strong>do</strong> inclusive para a crise da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> tempo<br />

progressista. O questionamento ao ―tempo absoluto‖ newtoniano a partir da noção <strong>de</strong> ―tempo<br />

relativo‖, quan<strong>do</strong> transportada para a socieda<strong>de</strong> foi importante ferramenta para questionar o<br />

tempo <strong>do</strong> progresso visto como homogeneiza<strong>do</strong>r e agente supremo da história, dan<strong>do</strong> vasão a<br />

novas concepções <strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong> que refletiram a crise <strong>do</strong> progresso prega<strong>do</strong> e leva<strong>do</strong> a cabo<br />

pelo projeto civiliza<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>res oci<strong>de</strong>ntais.<br />

No âmbito das ciências, as teorias da relativida<strong>de</strong> que tiveram em Einstein seu<br />

representante mais ilustre; no âmbito social, as expectativas não cumpridas <strong>de</strong> extinção da<br />

miséria e das <strong>do</strong>enças; no âmbito econômico, o sonho da estabilida<strong>de</strong> que constantemente vem<br />

sen<strong>do</strong> abala<strong>do</strong> pelas crises. Estes são aspectos trabalha<strong>do</strong>s neste artigo, <strong>de</strong>ntre inúmeros outros<br />

que po<strong>de</strong>riam ser elenca<strong>do</strong>s a partir da ótica da história social, que manifestam o fracasso da<br />

i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> progresso e da visão fatídica <strong>do</strong> tempo progressista.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista da reflexão sobre o tempo, interessa-nos aqui, observá-lo como<br />

um elemento presente na vida <strong>do</strong>s indivíduos imergi<strong>do</strong> nas próprias socieda<strong>de</strong>s que se<br />

constituíram ao longo da história. À parte <strong>do</strong> julgamento <strong>de</strong> valor que, consciente ou<br />

inconscientemente fazemos em nossas análises – fizemos isso aqui ao falar <strong>do</strong> progresso –<br />

compreen<strong>de</strong>r a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> tempo é, invariavelmente, compreen<strong>de</strong>r uma construção socialmente<br />

20 LOPES, José Leite. Op. Cit. p. 172-173.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!