14.10.2014 Views

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Como se<br />

233<br />

verificou nos trechos <strong>de</strong>staca<strong>do</strong>s <strong>do</strong> suplemento em comemoração <strong>do</strong><br />

centenário da imigração japonesa, a atual conjuntura se apresenta favorável a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

prosperida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse grupo étnico. Além disso, nota-se que parte <strong>do</strong>s nikkeis se inseriu com<br />

sucesso em alguns setores socioeconômicos em Londrina nos últimos anos, seja como<br />

profissionais liberais, empresários ou comerciantes. Alguns valores aponta<strong>do</strong>s nos <strong>de</strong>poimentos<br />

como significativos das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, como honestida<strong>de</strong>, pontualida<strong>de</strong>, responsabilida<strong>de</strong> e<br />

principalmente a importância da educação <strong>do</strong>s <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes já nasci<strong>do</strong>s no Brasil, po<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>sta<br />

perspectiva, serem vistos como uma interpretação <strong>do</strong> próprio passa<strong>do</strong> <strong>do</strong> indivíduo e da memória<br />

coletiva que aparecem como construções <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> sobrevivência e <strong>de</strong> ascensão social,<br />

além <strong>de</strong> serem possíveis elementos que buscam diferenciar esse grupo étnico <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais.<br />

[...] A memória, essa operação coletiva <strong>do</strong>s acontecimentos e das<br />

interpretações <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> que se quer salvaguardar, se integra, como<br />

vimos, em tentativas mais ou menos conscientes <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir e <strong>de</strong> reforçar<br />

sentimentos <strong>de</strong> pertencimento e fronteiras sociais entre coletivida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

tamanhos diferentes: parti<strong>do</strong>s, sindicatos, igrejas, al<strong>de</strong>ias, regiões, clãs,<br />

famílias, nações etc. A referência ao passa<strong>do</strong> serve para manter a coesão<br />

<strong>do</strong>s grupos e das instituições que compõem uma socieda<strong>de</strong>, para <strong>de</strong>finir<br />

seu lugar respectivo, sua complementarieda<strong>de</strong>, mas também as oposições<br />

irredutíveis. 16<br />

Essa questão <strong>do</strong> pertencimento e das fronteiras sociais, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> aspecto da memória<br />

coletiva, po<strong>de</strong> ser observada no contexto da imagem <strong>de</strong> sucesso profissional e socioeconômico<br />

<strong>do</strong>s nikkeis, on<strong>de</strong> a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> coesão <strong>do</strong> grupo se torna importante para <strong>de</strong>finir seu lugar na<br />

socieda<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r das possíveis oposições. Como po<strong>de</strong>mos observar na análise <strong>do</strong><br />

historia<strong>do</strong>r norte-americano Jeffrey Lesser.<br />

[...] A geração issei 17 (imigrante) foi quase inteiramente rural, mas isso<br />

mu<strong>do</strong>u drasticamente quan<strong>do</strong> os nisseis (primeira geração) mudaram-se<br />

para áreas urbanas em busca <strong>de</strong> educação e profissões liberais. Des<strong>de</strong><br />

1950 os nikkeis brasileiros têm si<strong>do</strong>, no to<strong>do</strong>, altamente representa<strong>do</strong>s nas<br />

classes alta e média da socieda<strong>de</strong> brasileira, se os parâmetros forem<br />

renda, localização resi<strong>de</strong>ncial, educação ou profissão. Nesse senti<strong>do</strong>, o<br />

nikkei se encaixa na mesma categoria que os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes tanto <strong>de</strong><br />

imigrantes ju<strong>de</strong>us, quanto árabes (Oriente Médio), cujas estratégias<br />

similares usadas para ascen<strong>de</strong>r social e economicamente eu explorei em<br />

um trabalho anterior. [...] A cultura oficial brasileira nega a importância —<br />

ou mesmo a existência <strong>de</strong> etnia e, mais ainda, <strong>de</strong> raça. Ao mesmo tempo,<br />

tem o branco como i<strong>de</strong>al. Essa contradição cultural é importante porque os<br />

imigrantes japoneses e seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes no Brasil esforçaram-se para<br />

16 Ibid., p. 9.<br />

17 Termo japonês da<strong>do</strong> aos imigrantes japoneses, nasci<strong>do</strong>s no Japão. Os filhos, nasci<strong>do</strong>s no Brasil são<br />

<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s <strong>de</strong> nisseis. Aos netos brasileiros <strong>de</strong> imigrantes japoneses é da<strong>do</strong> o nome <strong>de</strong> sanseis. Os<br />

bisnetos são <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s <strong>de</strong> yonseis, e os tataranetos <strong>de</strong> gosseis. Fonte: Veja. São Paulo: Abril, ano 40,<br />

n. 2038, 12 <strong>de</strong>z. 2007. p. 82-91.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!