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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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da isnad que corrobora para a fundamentação da jurisprudência islâmica), da referência às<br />

ciências <strong>de</strong> Galeno, à filosofia aristotélica e aos membros da falsafa.<br />

O resgate <strong>de</strong> uma tradição historiográfica clássica na época <strong>de</strong> Khaldun e naquele espaço<br />

<strong>do</strong> Norte da África aponta a ocorrência da manutenção <strong>de</strong> uma historiografia <strong>de</strong> herança grega<br />

através <strong>do</strong>s governos árabes (conexão das escolas <strong>de</strong> Bagdá à Tole<strong>do</strong>). Nossa análise ganha<br />

dimensão ao <strong>de</strong>monstrar que, enquanto em parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> medieval escreveu-se por muito<br />

tempo história em mosteiros, nosso autor produzia uma obra in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das instituições e que<br />

indiretamente acabou por afetar o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> sua época. Porém no século X<strong>IV</strong> já encontramos no<br />

Oci<strong>de</strong>nte a figura <strong>do</strong> cronista real, advin<strong>do</strong> das escolas no perímetro urbano e que possuiam o<br />

objetivo <strong>de</strong> servir seu soberano. Dessa forma, Khaldun po<strong>de</strong> ser compara<strong>do</strong> com os cronistas<br />

régios, mas tinha uma liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão maior que aqueles ao produzir a Muqaddimah.<br />

Para o nosso estu<strong>do</strong>, portanto, foi necessário uma reflexão sobre o conceito da tradição<br />

renovada 16 . Po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar uma transformação <strong>do</strong> fazer histórico clássico até o entendimento<br />

islâmico. Mas o que <strong>de</strong> fato po<strong>de</strong>mos perceber na obra khalduniana é que o movimento da<br />

História era <strong>de</strong> longa duração, conten<strong>do</strong> em si conflitos/transformações <strong>do</strong>s fatos político-sociais e<br />

que em alguns pontos <strong>do</strong> tempo histórico ocorria uma certa proximida<strong>de</strong> com outros perío<strong>do</strong>s<br />

(idéia da concepção cíclica <strong>de</strong> tempo).<br />

Khaldun tinha um conhecimento <strong>do</strong> itinerário da História pelos seguintes povos e que para<br />

ele formava uma série cronológica: primeiro, os persas <strong>de</strong> primeira estirpe, os assírios, os<br />

nabateus, os tubba, os israelitas e os coptas; em segun<strong>do</strong>, vieram os persas <strong>de</strong> segunda estirpe,<br />

os romanos, os gregos, os árabes e os francos; nesse ínterim apareceu o Islamismo, então a<br />

maioria <strong>do</strong>s árabes eram agora muçulmanos; em terceiro (o tempo <strong>de</strong> Khaldun - século X<strong>IV</strong>), o<br />

po<strong>de</strong>r <strong>do</strong>s árabes muçulmanos passou para povos estrangeiros como os otomanos, os andaluzes<br />

per<strong>de</strong>ram seu espírito <strong>de</strong> grupo <strong>de</strong>sfalecen<strong>do</strong> na Península Ibérica, os berberes com seu espírito<br />

<strong>de</strong> grupo reforça<strong>do</strong> tentavam persistir no Magreb e os francos se mantiveram no Norte.<br />

PERSPECT<strong>IV</strong>AS DA HISTORIOGRAFIA KHALDUNIANA<br />

A importância <strong>do</strong> senso crítico para Khaldun é <strong>de</strong> extrema valia, pois o historia<strong>do</strong>r não<br />

po<strong>de</strong>ria apenas narrar fatos que obtém <strong>de</strong> outros: ―cabe ao saber, limpar e polir as tabuinhas que<br />

levarão gravada a verda<strong>de</strong>‖ 17 . Não há como não entrever no pensamento <strong>de</strong> Khaldun a gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sconfiança, tão cultivada pelos historia<strong>do</strong>res gregos, em relação as informações indiretas que<br />

15 Segun<strong>do</strong> Ciro Flamarion Car<strong>do</strong>so, ―os historia<strong>do</strong>res gregos se voltavam primordialmente para a história a<br />

eles contemporânea ou quase contemporânea, e bem menos para o passa<strong>do</strong> mais remoto. Isto porque<br />

sentiam fortemente a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pôr à prova os da<strong>do</strong>s que usavam‖ In: CARDOSO, Ciro Flamarion.<br />

Um historia<strong>do</strong>r fala <strong>de</strong> teoria e meto<strong>do</strong>logia : Ensaios. Bauru : EDUSC , 2005, p. 120.<br />

16 Sobre o conceito <strong>de</strong> tradição renovada na análise histórica, cf: FRIGHETTO, Renan. De la barbarica gens<br />

hacia la christiana ciuilitas: la concepción <strong>de</strong> regnum según el pensamiento político <strong>de</strong> Isi<strong>do</strong>ro <strong>de</strong> Sevilla<br />

(siglo VII). In: Anuário <strong>de</strong>l Centro <strong>de</strong> Estudios Históricos “Prof. Carlos S. A. Segreti”. Cór<strong>do</strong>ba, año 7,<br />

nº 7, pp.203-220, 2007.<br />

17 KHALDUN, Ibn. Muqaddimah – Os Prolegômenos (tomo I). op. cit., p.5.

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