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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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62<br />

existência. Em suma, biografar implica em reinterpretar o passa<strong>do</strong> no que ele tem <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong><br />

e <strong>de</strong> efeito <strong>do</strong> real 1<br />

―O passa<strong>do</strong> não está pronto. Ele ainda está por fazer e articula-se no<br />

presente, ou melhor na presença, on<strong>de</strong> elaboramos a mentira e a<br />

transformamos em discurso... ―<br />

Santo Dias da Silva nasceu em Terra Roxa na fazenda Paraíso, localizada no interior <strong>de</strong><br />

São Paulo, em 22 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1942, contava sete irmãos sen<strong>do</strong> ele o filho mais velho. Seus<br />

pais eram Jesus Dias da Silva e Laura Vieira, ambos lavra<strong>do</strong>res e trabalhavam como meeiros na<br />

produção <strong>de</strong> café e grãos. 2<br />

Santo dias estu<strong>do</strong>u até o 4ª ano primário, saben<strong>do</strong>, pois ler e escrever, algo raro entre os<br />

trabalha<strong>do</strong>res rurais <strong>do</strong> inicio da década <strong>de</strong> 1960. Des<strong>de</strong> jovem teve que ajudar seus pais no<br />

sustento da família, sen<strong>do</strong> um trabalha<strong>do</strong>r prepara<strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenhava funções <strong>de</strong> mecânico na<br />

fazenda.<br />

Embora tivesse uma situação <strong>de</strong> trabalho melhor que a da maioria <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res da<br />

fazenda Paraíso, a condição <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> Santo dias e <strong>de</strong> sua família era <strong>de</strong> constante dificulda<strong>de</strong> e<br />

penúria. Dona Laura mãe <strong>de</strong> Santo dizia:<br />

As roupas das crianças a gente fazia <strong>de</strong> saco <strong>de</strong> farinha alveja<strong>do</strong> e <strong>de</strong>pois<br />

tingia. Não tinha dinheiro pra comprar teci<strong>do</strong>. E as roupas tinham <strong>de</strong> durar:<br />

a gente cerzia até não po<strong>de</strong>r mais.Uma vez, o Santo rasgou a única<br />

camisa que tinha, que já estava muito puída. Peguei a toalha <strong>de</strong> mesa, que<br />

era <strong>de</strong> saco também, para fazer outra camisa, pois não tinha com o que<br />

comprar um pedaço <strong>de</strong> pano... 3<br />

Em 1961, Santo dias <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se envolver na luta por direitos trabalhistas e melhores<br />

condições <strong>de</strong> trabalho na fazenda em que trabalhava, foi expulso das terras junto com toda sua<br />

família.<br />

Na Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vira<strong>do</strong>uro, Santo Dias e seus familiares tiveram que trabalhar como ―bóiasfrias‖<br />

para sobreviver e pagar aluguel na cida<strong>de</strong>. Inconforma<strong>do</strong> com sua situação profissional e<br />

financeira parte para São Paulo em 1962 para tentar uma vida melhor, ten<strong>do</strong> mora<strong>do</strong> com<br />

conheci<strong>do</strong>s <strong>de</strong> sua família por certo tempo. Em uma entrevista a Paulo Nosella o operário Santo<br />

Dias relata a opção <strong>de</strong> partir para São Paulo em busca <strong>de</strong> trabalho:<br />

Aí entrei em contato com alguns colegas, que estavam já aqui em São<br />

Paulo. Achei melhor vir tentar alguma coisa aqui em São Paulo. Foi<br />

quan<strong>do</strong> eu me transferi para cá. Mu<strong>de</strong>i para cá em 1962. Foi umas das<br />

épocas em que tinha mais facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> empregos da<strong>do</strong> o to<strong>do</strong><br />

1 PENA, Felipe. Teoria da Biografia Sem fim. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Mauad, 2004, p.23.<br />

2 DIAS, Luciana; AZEVEDO, Jô & BENEDICTO, Nair. Santo Dias: quan<strong>do</strong> o passa<strong>do</strong> se transforma em<br />

história. São Paulo, Cortez, 2004, p.18.<br />

3 I<strong>de</strong>m, p.27

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