14.10.2014 Views

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

362<br />

<strong>de</strong> suas gravuras, pois, segun<strong>do</strong> Blake, o público <strong>de</strong>veria exercitar também sua capacida<strong>de</strong><br />

imaginativa ao interpretar o seu trabalho.<br />

As origens das obras <strong>de</strong> William Blake são encontradas em sua concepção <strong>de</strong> arte e,<br />

principalmente, na experiência histórica vivenciada pelo poeta na Inglaterra <strong>do</strong> século XVIII, que<br />

sua obra interpreta, expressa e também sobre a qual procura intervir. A metrópole como um<br />

espaço <strong>de</strong> vícios e das piores condições <strong>de</strong> vida é mostrada em seus poemas, sen<strong>do</strong> que sua<br />

interpretação da realida<strong>de</strong> se faz sob o paradigma religioso, especialmente alinha<strong>do</strong> a tradições<br />

populares. De acor<strong>do</strong> com Thompson, se levarmos em conta a dissidência religiosa londrina <strong>do</strong><br />

século XVIII, Blake não po<strong>de</strong> ser toma<strong>do</strong> como um ―gênio inculto e excêntrico‖, mas como uma<br />

―voz original e autêntica <strong>de</strong> uma longa tradição popular‖. 2 O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho, no entanto,<br />

não é investigar a veracida<strong>de</strong> da suposta excentricida<strong>de</strong> <strong>de</strong> William Blake ou tampouco entrar no<br />

mérito da discussão acerca <strong>de</strong> suas visões. O que aqui se preten<strong>de</strong> é compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> que<br />

maneira a realida<strong>de</strong> por ele vivenciada, na Inglaterra <strong>do</strong> século XVIII, inspirou a sua produção<br />

artística e <strong>de</strong> que maneira o trabalho <strong>de</strong> Blake se relacionou com o pensamento e as críticas<br />

sociais elabora<strong>do</strong>s pelo movimento romântico inglês.<br />

William Blake se situou num perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> profundas transformações sociais, que foram<br />

acarretadas <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Hobsbawm por uma ―dupla revolução‖ 3 composta pelas revoluções<br />

industrial e francesa; estas transformações encontraram no romantismo seu gran<strong>de</strong> espaço <strong>de</strong><br />

crítica. A literatura produzida pelos românticos ingleses é intrínseca à experiência histórica por<br />

eles vivenciada.<br />

Uma característica marcante <strong>do</strong> romantismo 4 é a sua pluralida<strong>de</strong>, diversos autores<br />

atentaram para o fato <strong>de</strong> que o romantismo foge a qualquer tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição única, sen<strong>do</strong> um<br />

movimento diversifica<strong>do</strong> que apresentou características contraditórias tanto nas diferentes<br />

tradições nacionais, 5 quanto, em diversos casos, na obra <strong>de</strong> um mesmo artista. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

2 THOMPSON, E. P. (1924-1993). A formação da classe operária inglesa. São Paulo: Paz e Terra, 2004.<br />

(v.1; p. 53).<br />

3 HOBSBAWM, Eric. J. A Era das Revoluções: Europa 1789-1848/ tradução <strong>de</strong> Maria Tereza Lopes<br />

Teixeira e Marcos Penchel. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 2005. (p. 13).<br />

4 De acor<strong>do</strong> com Michael Lowy, as formas mais características <strong>do</strong>s romantismos são as <strong>de</strong>nominadas<br />

restitucionista, conserva<strong>do</strong>r, fascista, resigna<strong>do</strong>, reforma<strong>do</strong>r, o revolucionário e/ou utópico, que compreen<strong>de</strong><br />

diferentes tendências, tais como a jacobino-<strong>de</strong>mocrática, a populista, a socialista utópico-humanista, a<br />

libertária e a marxista. Segun<strong>do</strong> ainda este autor, se existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> algum elo <strong>de</strong><br />

união entre as diversas manifestações românticas, este elo po<strong>de</strong> ser encontra<strong>do</strong> nas contradições<br />

originadas pelo sistema capitalista industrial, expressas no pensamento e estilo <strong>de</strong> vida mo<strong>de</strong>rnos, e na<br />

oposição aos mesmos. Romantismo e Política. Disponível em: www.unipam.edu.br/.../Romantismoepolitica-MichaelLowy.<strong>do</strong>c<br />

acesso em 26/08/2010.<br />

5 O Romantismo também tem um papel relevante na forma como se pensou o nacionalismo naquele<br />

contexto. Para o Romantismo, uma nação seria <strong>de</strong>finida através <strong>de</strong> uma síntese coletiva e histórica<br />

articulada através <strong>de</strong> elementos físicos, vitais e espirituais, conforme o clima e o momento. Unin<strong>do</strong> o geral e<br />

o particular, que seria distinto por valores próprios e intransferíveis, se formaria a personalida<strong>de</strong> cultural e<br />

nacional <strong>de</strong> cada povo. (NUNES, 2008; p. 59). A pluralida<strong>de</strong> <strong>do</strong> movimento e as diferenças no seu interior<br />

po<strong>de</strong>m ser explicadas também através da manifestação das particularida<strong>de</strong>s da nação, que seria expressa<br />

no pensamento romântico como um ―gran<strong>de</strong> indivíduo‖. Para mais informações sobre a relação entre o<br />

romantismo e o nacionalismo, ver também: BAUMER, Franklin L. ―O Mun<strong>do</strong> Romântico‖. In: O Pensamento<br />

Europeu Mo<strong>de</strong>rno, 2º volume. Tradução <strong>de</strong> Maria Manuela Alberty. Lisboa: Edições 70, Lda., 1990. (p. 46-<br />

50).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!