14.10.2014 Views

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

365<br />

romantismo inglês, 14 nele é <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> um conceito <strong>de</strong> poesia romântica em que razão e<br />

sentimento se fun<strong>de</strong>m harmoniosamente, afirman<strong>do</strong> que, ―é o sentimento neles <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> que<br />

dá importância à ação e à situação, e não a ação e a situação ao sentimento‖. 15 (VIZZIOLI, 2008;<br />

p. 143). A diferença fundamental se encontra então, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Wordsworth, no aspecto que<br />

<strong>de</strong>veria pre<strong>do</strong>minar, controlan<strong>do</strong> e selecionan<strong>do</strong> o conteú<strong>do</strong> da obra, que para os neoclássicos<br />

seria, sobretu<strong>do</strong> a razão e para os românticos ten<strong>de</strong>u para o sentimento. Wordsworth mostrou a<br />

busca por este equilíbrio no prefácio <strong>de</strong> Lyrical Ballads ao afirmar que:<br />

[...] toda boa poesia é o transbordamento espontâneo <strong>de</strong> fortes<br />

sentimentos; e, embora isto seja verda<strong>de</strong>, nenhum poema, a que se<br />

po<strong>de</strong> atribuir algum valor, jamais foi produzi<strong>do</strong>, a respeito <strong>de</strong><br />

qualquer assunto, por alguém que, sen<strong>do</strong> <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong><br />

orgânica superior à comum, não tivesse também medita<strong>do</strong> longa e<br />

profundamente. (WORDSWORTH, 1988; p. 83).<br />

Wordsworth não recomen<strong>do</strong>u, portanto, que os poetas iniciassem a sua composição<br />

unicamente sob o impacto imediato das emoções, mas também meditan<strong>do</strong> ―longa e<br />

profundamente‖ sobre estas mesmas emoções. Outra questão relevante abordada por<br />

Wordsworth na passagem acima citada é que ele consi<strong>de</strong>rou que bons poemas seriam produzi<strong>do</strong>s<br />

por quem fosse ―<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> orgânica superior à comum‖. O conceito <strong>de</strong> organicismo<br />

entre os românticos era normalmente uma idéia dinâmica, sugerin<strong>do</strong> o tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

uma planta. A natureza não era mais vista como um to<strong>do</strong> acaba<strong>do</strong>, imutável e perfeito, mas sim<br />

como um organismo vivo, crescente, criativo, em <strong>de</strong>vir, ela se abria como po<strong>de</strong>r criativo, para<br />

encontrar formas sempre novas, e o artista ao criar seria semelhante à esta força natural. A<br />

valorização da imaginação no romantismo viu os conceitos da ciência mecanicista como<br />

ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s e voltou-se para analogias biológicas, sugerin<strong>do</strong> a oposição entre um princípio vivo e<br />

um produto acaba<strong>do</strong> e morto. 16 A ―organicida<strong>de</strong>‖ da poesia, sugeriu ainda um outro tipo <strong>de</strong><br />

oposição <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Raymond Williams, a oposição entre orgânico e mecânico, <strong>de</strong>signou<br />

também o contraste entre o que ―cresce‖ e o que ―é feito‖ na socieda<strong>de</strong> industrial. (WILLIAMS,<br />

1969; p. 59-60).<br />

William Blake não viu a relação entre razão e emoção na poesia e no próprio ser humano<br />

<strong>de</strong> forma harmoniosa, e po<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r como estes temas foram aborda<strong>do</strong>s pelo poeta<br />

em The Marriage of Heaven and Hell. Um certo ―<strong>de</strong>sequilíbrio‖ é encontra<strong>do</strong> nesse trabalho no<br />

poesia <strong>do</strong> sobrenatural. Esta última foi encomendada a Coleridge, porém, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Borges, <strong>de</strong>ve-se<br />

levar em conta o fato <strong>de</strong> que Coleridge se encontrava entregue ao ópio, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que quan<strong>do</strong> chegou o<br />

momento da publicação <strong>do</strong> livro, Coleridge contribuiu com apenas <strong>do</strong>is poemas, sen<strong>do</strong> que to<strong>do</strong>s os <strong>de</strong>mais<br />

foram escritos por Wordsworth. (BORGES, 2002; p. 172).<br />

14 Este prefácio é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> uma referência não apenas para a literatura inglesa como também para a<br />

literatura européia em geral nos estu<strong>do</strong>s sobre o romantismo, pois nele Wordsworth expõe a sua teoria<br />

acerca da poesia. (BORGES, 2002; p. 172).<br />

15 WORDSWORTH, William (1770-1850). Poesia Selecionada / Edição bilíngüe. Apresentação, tradução e<br />

notas <strong>de</strong> Paulo Vizzioli. São Paulo: Edições Mandacaru, 1988. (p.83).<br />

16 BAUMER, Franklin L. ―O Mun<strong>do</strong> Romântico‖. In: O Pensamento Europeu Mo<strong>de</strong>rno, 2º volume.Tradução<br />

<strong>de</strong> Maria Manuela Alberty. Lisboa: Edições 70, Lda., 1990. (p. 35-37).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!