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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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185<br />

<strong>de</strong>las quan<strong>do</strong> são fundadas na boa razão e equida<strong>de</strong> natural 22 . A <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> princípio <strong>de</strong> equida<strong>de</strong> na<br />

interpretação da lei <strong>de</strong>marcava a presença <strong>de</strong> uma herança jurídica própria da or<strong>de</strong>m jurídica<br />

tradicional e <strong>de</strong> concepções próprias <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> que se auto-concebia enquanto<br />

hierarquicamente <strong>de</strong>sigual, na qual inexistia o princípio <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> perante a lei 23 . Buscan<strong>do</strong><br />

justificar a ausência <strong>de</strong> conato das conversações mineiras, <strong>de</strong>fendia a legitimida<strong>de</strong> das <strong>do</strong>utrinas,<br />

[...]ainda quan<strong>do</strong> há lei, ou estatuto, que manda expressamente punir o<br />

conato, posto que se não siga o efeito; porque sempre se enten<strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r a<br />

sua disposição no caso somente <strong>de</strong> haver ato próximo ao malefício, porque<br />

já nesse caso tomou o conato a natureza <strong>de</strong> um <strong>de</strong>lito especial, em que não<br />

fica bastan<strong>do</strong> a penitência <strong>do</strong> agente 24 .<br />

Já num tempo mais afasta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s usos antigos <strong>do</strong> direito, Aragão e Vasconcelos pautou-se<br />

mais estritamente nas disposições da Justiça Real referentes ao movimento <strong>de</strong> 1817, utilizan<strong>do</strong>-se<br />

quase que <strong>de</strong> forma exclusiva da interpretação das Cartas Régias produzidas entre 1817 e 1819, além<br />

das Or<strong>de</strong>nações e <strong>de</strong> um assento da Casa da Suplicação. A supremacia das Cartas Régias sobre as<br />

outras fontes aparece mais explicitamente quan<strong>do</strong> trata <strong>de</strong> expor às leis que regulam o crime <strong>de</strong> lesamajesta<strong>de</strong><br />

As leis que regulam a pena <strong>do</strong>s crimes <strong>de</strong> lesa-majesta<strong>de</strong> são a Or<strong>de</strong>nação<br />

<strong>do</strong> livro 5º., título 6, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o parágrafo 1º até o 8º, mas esta foi <strong>de</strong>clarada e<br />

restringida pela Carta Régia <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1817, pela <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> fevereiro<br />

<strong>de</strong> 1818, e pela <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1819. 25<br />

Sobre o cerne <strong>de</strong> ambas as justificações, cabe ressaltar algumas especificida<strong>de</strong>s. Embora<br />

num mesmo discurso, Oliveira Fagun<strong>de</strong>s tratou <strong>de</strong> justificar cada réu individualmente, haven<strong>do</strong> no<br />

conjunto uma coerência que traduz certa leitura sobre o evento. Já Aragão e Vasconcelos, logo no<br />

início <strong>de</strong> sua Defesa Geral, propôs arranjá-la como memória, fazen<strong>do</strong> um discurso geral sobre to<strong>do</strong>s<br />

conforme as estreitezas <strong>do</strong> tempo 26 . Nesse senti<strong>do</strong>, expôs realmente uma interpretação <strong>do</strong>s eventos,<br />

sen<strong>do</strong> mais rico no que se refere às representações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e socieda<strong>de</strong>.<br />

Comecemos, portanto, com a argumentação <strong>do</strong> advoga<strong>do</strong> baiano, por se tratar <strong>de</strong> uma<br />

construção mais integral <strong>do</strong> lugar da revolta e <strong>do</strong>s atores históricos nas relações e concepções <strong>de</strong><br />

22 Autos da Devassa da Inconfidência Mineira, Brasília, Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s, Belo Horizonte, Imprensa<br />

Oficial <strong>de</strong> Minas Gerais, 1982, v.7, p.147-8. [nas próximas vezes em que citarmos essa obra, nos<br />

referiremos a ela por ADIM]<br />

23 Segun<strong>do</strong> o historia<strong>do</strong>r italiano Giovanni Levi, o conceito <strong>de</strong> equida<strong>de</strong> ―surgió y tuvo importancia en<br />

socieda<strong>de</strong>s que no reconocían la igualdad entre ciudadanos abstractos —según la cual la ley es igual para<br />

to<strong>do</strong>s—, sino que, por el contrario, cargaban el acento en la <strong>de</strong>sigualdad <strong>de</strong> una sociedad jerárquica y<br />

segmentada, en que convivían sistemas jerárquicos correspondientes a diversos sistemas <strong>de</strong> privilegio y <strong>de</strong><br />

clasificación social: por tanto, una pluralidad <strong>de</strong> equida<strong>de</strong>s según el <strong>de</strong>recho <strong>de</strong> cada uno a que se le<br />

reconozca lo que le correspon<strong>de</strong> sobre la base <strong>de</strong> su situación social y <strong>de</strong> acuer<strong>do</strong> con un principio <strong>de</strong><br />

justicia distributivo.‖ Giovanni LEVI, Reciprocidad Mediterránea, Hispania, LX/1, núm. 204, Madrid, ,2000,<br />

p.103-126.<br />

24 ADIM, op.cit., p.197.<br />

25 D<strong>IV</strong>ISÃO <strong>de</strong> obras raras e publicações da Biblioteca Nacional, Coleção Documentos Históricos, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro MEC, 1954, v. CVI, p.106.[a partir <strong>de</strong> então, nos referiremos a essa obra apenas como D.H.]<br />

26 I<strong>de</strong>m, Ibi<strong>de</strong>m, p.49.

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