14.10.2014 Views

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

484<br />

Estômago privilegia, como foi dito anteriormente, a figura/história <strong>do</strong> cozinheiro, <strong>do</strong> seu<br />

talento. Isso ocorre também em A Garçonete (Adrienne Shelly, USA, 2007), Simplesmente Martha<br />

(Sandra Nettelbeck, AUS/DEU/ITA/CHE, 2001) sua versão hollywoodiana Sem Reservas (Scott<br />

Hicks, USA/AUS, 2007) e Como água para chocolate (Alfonso Arau, MEX, 1992), por exemplo.<br />

Outros primam pela ambientação da narrativa em locais <strong>de</strong> comensalida<strong>de</strong> – os restaurantes.<br />

Ambiente <strong>de</strong> relações e estratificações sociais, eles são palco para: Uma receita para a máfia<br />

(Bob Giraldi, USA, 2000), O Jantar (Ettore Scola, ITA/FRA, 1998) ou o intrigante O Cozinheiro, o<br />

ladrão, sua mulher e o amante (Peter Greenaway, FRA/ NLD/ ING, 1989). Uma outra opção <strong>de</strong><br />

enxergar a questão da comida são nos filmes em que o clímax é concentra<strong>do</strong> no ―sentar-se à<br />

mesa‖, quan<strong>do</strong>, geralmente, as refeições em grupo reforçam laços sociais - é o caso <strong>de</strong> Parente...<br />

é Serpente (Mario Monicelli, ITA, 1992), A Festa <strong>de</strong> Babette (Gabriel Axel, DNK, 1987) ou Comer,<br />

Beber e Viver (Ang Lee, TWN, 1994). Tais projeções po<strong>de</strong>m, então, configurar aquele repertório<br />

que é reinventa<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma mesma estrutura (o gênero cinematográfico), sen<strong>do</strong> que essa<br />

estrutura seria, basicamente: a comida como fio condutor da narrativa ou como argumento para<br />

<strong>de</strong>sfechos (elementos ofereci<strong>do</strong>s pelo roteiro); a utilização <strong>do</strong> primeiro plano ou plano <strong>de</strong>talhe no<br />

preparo <strong>de</strong> alimentos; e o som <strong>de</strong> louças e talheres e <strong>do</strong> borbulhar <strong>de</strong> frituras <strong>de</strong>nuncian<strong>do</strong> a<br />

presença constante da comida ao especta<strong>do</strong>r <strong>de</strong>stas obras.<br />

Eis uma sugestão <strong>de</strong> agrupamento (mais didática <strong>do</strong> que categórica) nos quais po<strong>de</strong>mos<br />

reconhecer a ―justaposição <strong>do</strong>s códigos <strong>do</strong> filme e <strong>do</strong>s códigos específicos <strong>de</strong> uma época‖36, não<br />

um reflexo da realida<strong>de</strong>, mas uma maneira <strong>de</strong> ver, sentir, pensar o hábito <strong>de</strong> comer fora, a<br />

rarida<strong>de</strong> das refeições em casa/família, a figura <strong>do</strong> cheff, as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fast food frente aos<br />

restaurantes, etc.<br />

Toco nestas questões pelo seguinte: além das consi<strong>de</strong>rações iniciais sobre a comida em<br />

pauta nos <strong>de</strong>bates, se recorrermos à historiografia sobre o tema, os aspectos contemporâneos<br />

mais evi<strong>de</strong>ntes são os da industrialização, racionalização e funcionalização da alimentação.<br />

Fenômeno típico <strong>do</strong> século XX, quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> triunfo das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fast-food – baseada na aplicação<br />

taylorista <strong>do</strong> Mc Donald's, que visa a rápida satisfação <strong>do</strong>s clientes e se consolida como mo<strong>de</strong>lo<br />

nos anos cinquenta -, acompanhadas da indústria <strong>de</strong> congela<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> aromas37. Porém é na<br />

década <strong>de</strong> oitenta que se localiza a propagação efetiva e abrangente <strong>de</strong>ssas re<strong>de</strong>s, em<br />

conformida<strong>de</strong> com o processo <strong>de</strong> globalização, o que Clau<strong>de</strong> Fischler chamou <strong>de</strong> ―mc<strong>do</strong>nalização<br />

<strong>do</strong>s costumes‖.38<br />

Toda essa re<strong>de</strong>finição no mo<strong>do</strong> como os alimentos são fabrica<strong>do</strong>s e comercializa<strong>do</strong>s (notese<br />

que as re<strong>de</strong>s possuem marca, marketing, e publicida<strong>de</strong>) afeta também as formas <strong>de</strong> consumo.<br />

Além da padronização <strong>do</strong> gosto (<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos processos <strong>de</strong> conservação), o hábito <strong>de</strong> comer fora<br />

36 KORNIS, Mônica Almeida. História e Cinema: um <strong>de</strong>bate meto<strong>do</strong>lógico. Estu<strong>do</strong>s Históricos. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, vol 5, nº 10, p. 237 – 250, 1992. p. 248<br />

37 SCHLOSSER, Eric. País fast -food. São Paulo: Ática, 2001.<br />

38 FISCHLER, Clau<strong>de</strong>. A Mc<strong>do</strong>nalização <strong>do</strong>s costumes. In: FLANDRIN, J.L. MONTANARI, M, História da<br />

Alimentação. São Paulo: Estação Liberda<strong>de</strong>, 1998.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!