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Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

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477<br />

a Nova História, no enre<strong>do</strong> da multiplicação <strong>do</strong>s objetos, da ―história em migalhas‖, elege a<br />

comida como cerne para pesquisas acadêmicas.2<br />

Isso não quer dizer que somente recentemente tal tema seja sublinha<strong>do</strong>. Certamente o<br />

alimento sempre teve sua relevância, mas a reputação que a socieda<strong>de</strong> contemporânea lhe<br />

confere é singular.<br />

―Afinal, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as últimas décadas <strong>do</strong> século XX, o ‗assunto<br />

alimentação‘ conquistou um espaço espetacular na mídia, incluin<strong>do</strong><br />

inúmeras intolerâncias e distúrbios mas, também, diversas maneiras<br />

<strong>de</strong> transformar o alimento em algo completamente atraente a<br />

sensacional. Não por acaso, portanto, assiste-se hoje à multiplicação<br />

<strong>do</strong>s conselhos relaciona<strong>do</strong>s à gastronomia e também à dieta, além<br />

<strong>de</strong> uma miría<strong>de</strong> <strong>de</strong> propagandas sobre novos produtos <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a<br />

complementar a alimentação diária.‖3<br />

Essa ―espetacularização‖ da comida na atualida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser facilmente <strong>de</strong>tectada no<br />

cotidiano: além <strong>do</strong> culto ao corpo publica<strong>do</strong> nas revistas ou os guias <strong>de</strong> culinária encorajan<strong>do</strong><br />

leitores a se aventurar no universo da gastronomia, a própria publicida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ramo alimentício<br />

<strong>de</strong>sperta os senti<strong>do</strong>s para seus ―belos‖ produtos - a comida, estetizada. A mídia televisiva<br />

colabora com uma gama <strong>de</strong> programas que trazem receitas especiais para as <strong>do</strong>nas <strong>de</strong> casa e<br />

ainda promovem, mais recentemente, a figura – masculina - <strong>do</strong> cheff <strong>de</strong> cozinha, sempre exibin<strong>do</strong><br />

o preparo <strong>de</strong> um bom prato através <strong>de</strong> atraente fotografia. Muito comum também nos filmes,<br />

conforme se mostrará adiante, a supremacia da imagem4 - característica da ―socieda<strong>de</strong> televisiva<br />

e publicitária‖ -, aproxima visão e paladar, aguçan<strong>do</strong> os senti<strong>do</strong>s para validar a expressão ―comer<br />

com os olhos‖. Aliás, ―mesmo que não possamos comer o que está na tela, po<strong>de</strong>mos digerir as<br />

imagens com os olhos, afinal, elas nos remetem a memórias <strong>de</strong> sabores, aromas, pessoas,<br />

gestos, etc...‖5.<br />

O cinema, por sua vez, não ficou fora <strong>de</strong>ste enfoque. Esse ―atrativo‖ po<strong>de</strong> ser aprecia<strong>do</strong><br />

em obras fílmicas como A Gran<strong>de</strong> Noite (Campbell Scott e Stanley Tucci, USA, 1996), A Festa <strong>de</strong><br />

Babette (Gabriel Axel, DNK, 1987), O Tempero da Vida (Tassos Boulmetis, GRE/ TUR, 2003) ou o<br />

recente Julie & Julia (Nora Ephron, USA, 2009), os quais congregam um rol específico <strong>de</strong> filmes<br />

que colocam a comida como protagonista6. Seja na figura/história <strong>do</strong>(a) cozinheiro(a), pela<br />

2 Emblemática é a compilação: FLANDRIN, J.L, MONTANARI, M. História da Alimentação. São Paulo:<br />

Estação Liberda<strong>de</strong>, 1998.<br />

3 SANT‘ANNA, Denise Bernuzzi. Transformações das intolerâncias alimentares em São Paulo, 1850 –<br />

1920. História: Questões & Debates. Curitiba, nº 40, 2005, Editora UFPR, p.84<br />

4 Apontada por Jean-Clau<strong>de</strong> Carriére em: CARRIÉRE, Jean-Clau<strong>de</strong>. A linguagem secreta <strong>do</strong> Cinema.<br />

5 COELHO, Maria Cecília <strong>de</strong> Miranda Nogueira. Estéticas da fome e da abundância: saborean<strong>do</strong> imagens<br />

<strong>do</strong> cinema brasileiro. In: Cultura e Alimentação: saberes alimentares e sabores culturais. Org: MIRANDA,<br />

Danilo santos <strong>de</strong> e CORNELLI, Gabriele. São Paulo: Editora SESC-SP, 2007. p.119.<br />

6 DUCROT, Victor Ego. Los Sabores <strong>de</strong>l Cine. Buenos Aires: Grupo Editorial Norma, 2002. Esse autor<br />

sugere uma série <strong>de</strong> filmes que tratam a temática <strong>de</strong>ssa maneira (protagonizada), mas sem trabalhar o<br />

conceito histórico da ―categoria‖. Neste trabalho, existem ainda outras obras <strong>de</strong> pesquisas pessoais.

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