14.10.2014 Views

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

Anais do IV Seminário de Pesquisa do Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

494<br />

teleológica <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das socieda<strong>de</strong>s. Tal como nos aponta a i<strong>de</strong>ia pre<strong>do</strong>minante sobre<br />

o tempo no Oci<strong>de</strong>nte, o presente só é possível e significável quan<strong>do</strong> pensa<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> passa<strong>do</strong><br />

e como efeito <strong>de</strong>ste. Do ponto <strong>de</strong> vista epistemológico 12 da história, a serialida<strong>de</strong> temporal traz<br />

consigo o problema da compreensão das simultaneida<strong>de</strong>s, pois é insatisfatório para compreen<strong>de</strong>r<br />

os vários ―agoras‖ que compõem a vida social.<br />

A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> serialida<strong>de</strong> ajuda-nos a explicar a perspectiva social e evolutiva que toma<br />

conta <strong>do</strong> oci<strong>de</strong>nte, principalmente a partir <strong>do</strong> fim <strong>do</strong> século XVIII e início <strong>do</strong> XIX: a perspectiva <strong>do</strong><br />

―progresso‖. Sob este pretexto, o oci<strong>de</strong>nte se sobrepôs às socieda<strong>de</strong>s ditas ―primitivas‖ ou<br />

―atrasadas‖, instauran<strong>do</strong> um verda<strong>de</strong>iro ―processo civiliza<strong>do</strong>r‖ – <strong>de</strong> que Elias trata brilhantemente 13<br />

– que culminou com o <strong>de</strong>smantelamento e, mesmo, a extinção <strong>de</strong> diversos grupos sociais, bem<br />

como suas visões <strong>de</strong> mun<strong>do</strong>. As visões <strong>do</strong> tempo, enquanto representações que são, produzem<br />

nos indivíduos e nas socieda<strong>de</strong>s práticas sociais que as caracterizam, sua posição, suas formas<br />

<strong>de</strong> ser e <strong>de</strong> estar no mun<strong>do</strong>. Tais representações também justificam sentimentos <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong><br />

e concepções <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> que, atreladas, provocam fenômenos que, por vezes, são notadamente<br />

expressões <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> forças ante grupos diferentes. Segun<strong>do</strong> Roger Chartier, o conceito <strong>de</strong><br />

―representação‖<br />

[...] permite articular três modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relação com o mun<strong>do</strong> social: em primeiro<br />

lugar, o trabalho <strong>de</strong> classificação e <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação que produz as configurações<br />

intelectuais múltiplas, através das quais a realida<strong>de</strong> é contraditoriamente<br />

construída pelos diferentes grupos; seguidamente, as práticas que visam fazer<br />

reconhecer uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social, exibir uma maneira própria <strong>de</strong> estar no mun<strong>do</strong>,<br />

significar simbolicamente um estatuto e uma posição; por fim, as formas<br />

institucionalizadas e objetivadas, graças às quais uns ‗representantes‘ (instâncias<br />

coletivas ou pessoas singulares) marcam <strong>de</strong> forma visível e perpetuada a<br />

existência <strong>do</strong> grupo, da classe ou da comunida<strong>de</strong>.14<br />

Assim, embora cada representação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> aspire à universalida<strong>de</strong>, são sempre<br />

<strong>de</strong>terminadas pelos interesses <strong>do</strong>s grupos que as forjam15. O tempo serial progressista que<br />

ganha força nos séculos XVIII e XIX proporcionou a sobreposição <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> europeu civiliza<strong>do</strong><br />

sobre os <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s, cuja justificativa foi levar um ―novo tempo‖, o tempo <strong>do</strong> progresso e da<br />

técnica que conduziriam o mun<strong>do</strong> a um estágio teleológico <strong>de</strong>senvolvimentista, um estágio <strong>de</strong><br />

bem-estar social pleno, com a pretensa ausência <strong>de</strong> contradições e conflitos que estavam<br />

contidas nas aspirações mais profundas <strong>do</strong> pensamento oci<strong>de</strong>ntal.<br />

Sobre esta questão, a análise <strong>de</strong> François Hartog é especialmente esclarece<strong>do</strong>ra.<br />

O tempo no oci<strong>de</strong>nte industrializa<strong>do</strong> envolve-se <strong>de</strong> uma autonomia surpreen<strong>de</strong>nte, ditan<strong>do</strong> os<br />

12 Enten<strong>de</strong>mos epistemologia como a própria historiografia, isto é, o processo empreendi<strong>do</strong> na escrita<br />

da história, levan<strong>do</strong> sempre em consi<strong>de</strong>ração um ou vários referenciais teórico-meto<strong>do</strong>lógicos.<br />

13 Sobre o tema, ver: ELIAS, Norbert. O Processo Civiliza<strong>do</strong>r, 2 vols. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar,<br />

1994.<br />

14 CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand,<br />

1990. p. 23<br />

15 Ibid. p. 17

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!