Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...
Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...
Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
4.3 Hipóteses recentes sobre o parentesco alto-xinguano<br />
Segun<strong>do</strong> Souza (1995), apoiada n<strong>os</strong> dad<strong>os</strong> de Basso sobre <strong>os</strong> <strong>Kalapalo</strong>, de Dole sobre<br />
<strong>os</strong> Kuikuro e de Gregor sobre <strong>os</strong> Mehináku, a tarefa de determinar alguma estrutura de <strong>aliança</strong><br />
para <strong>os</strong> grup<strong>os</strong> alto-xinguan<strong>os</strong> seria p<strong>os</strong>sível à luz d<strong>os</strong> desenvolviment<strong>os</strong> da teoria da<br />
afinidade potencial e da noção de Taylor de “sistemas dravidian<strong>os</strong> de fórmula rica”<br />
(reconsideran<strong>do</strong> as relações <strong>entre</strong> as terminologias dravidianas e iroquesas e suas correlações<br />
p<strong>os</strong>síveis com o sistema matrimonial).<br />
De acor<strong>do</strong> com a autora, <strong>os</strong> casament<strong>os</strong> <strong>entre</strong> <strong>os</strong> grup<strong>os</strong> de língua karib (referin<strong>do</strong>-se<br />
exclusivamente a<strong>os</strong> <strong>Kalapalo</strong> e Kuikuro) “efetuam-se na mesma área: a área em que a<br />
distinção categorial <strong>entre</strong> consangüíne<strong>os</strong> e afins é sobredeterminada pela afinidade potencial,<br />
em função da distância social” (SOUZA, 1995, p. 171). Tais casament<strong>os</strong> se realizariam de<br />
acor<strong>do</strong> com duas p<strong>os</strong>sibilidades, como já indica<strong>do</strong>: ou com parentes distantes, ou com não-<br />
parentes. Em tese, seria p<strong>os</strong>sível associar estas p<strong>os</strong>sibilidades às duas formas existentes de<br />
realização <strong>do</strong> casamento: respectivamente, às uniões arranjadas (ou “casament<strong>os</strong> de noiv<strong>os</strong>”)<br />
e às uniões realizadas à escolha d<strong>os</strong> cônjuges (ou “casament<strong>os</strong> de namorad<strong>os</strong>”).<br />
Basso (1973a, 1975) afirma que <strong>os</strong> casament<strong>os</strong> por noiva<strong>do</strong> seriam arranjad<strong>os</strong> <strong>entre</strong> <strong>os</strong><br />
pais <strong>do</strong> noivo e da noiva quan<strong>do</strong> a menina ainda f<strong>os</strong>se impúbere e seriam <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong><br />
casament<strong>os</strong> de duas pessoas, realizan<strong>do</strong>-se normalmente <strong>entre</strong> uma moça recém-saída da<br />
reclusão pubertária e um homem mais velho. Os adult<strong>os</strong> envolvid<strong>os</strong> na negociação c<strong>os</strong>tumam<br />
ser german<strong>os</strong> de sexo op<strong>os</strong>to, e podem tanto ser pessoas que se classificam como “irmã<strong>os</strong> de<br />
longe” ou, como é mais comum, “prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong>”. Desta forma, em qualquer um d<strong>os</strong> cas<strong>os</strong><br />
há uma adequação da união ao ideal de casamento <strong>entre</strong> prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> distantes (pessoas<br />
que se classificam como ihandaõ), e a replicação de uma <strong>aliança</strong> realizada em alguma geração<br />
passada (varian<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com a distância genealógica <strong>entre</strong> <strong>os</strong> prim<strong>os</strong>, quan<strong>do</strong> não for o<br />
caso de prim<strong>os</strong> fictíci<strong>os</strong>).<br />
Consideran<strong>do</strong> que o mais comum nesse tipo de casamento é o noiva<strong>do</strong> de filh<strong>os</strong> de<br />
prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> de sexo op<strong>os</strong>to, mas que se classificam como “german<strong>os</strong>”, Souza sugere que<br />
<strong>os</strong> pais <strong>do</strong>is noiv<strong>os</strong> seriam de fato prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> de primeiro grau, em função da aplicação<br />
de uma classificação havaiana para Ego e seus prim<strong>os</strong> imediat<strong>os</strong>. Por conta disto, a autora<br />
102