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Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...

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antigamente “to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> ficava noivo”) com a prima matrilateral “verdadeira” que teria<br />

(idealmente) existi<strong>do</strong> <strong>entre</strong> <strong>os</strong> antepassad<strong>os</strong> d<strong>os</strong> <strong>Kalapalo</strong> atuais.<br />

Também na mitologia, em todas as histórias nas quais ocorre alguma <strong>aliança</strong><br />

matrimonial estas são vistas como casament<strong>os</strong> de um homem com a filha de alguém<br />

classifica<strong>do</strong> como seu tio materno. Nestes cas<strong>os</strong>, o parentesco <strong>entre</strong> <strong>os</strong> personagens nunca é<br />

real, e tod<strong>os</strong> sempre ressaltam isso, dizen<strong>do</strong> que personagens mític<strong>os</strong> na relação tio-sobrinho<br />

não são parentes de verdade; mas o que chama a atenção nisto é o fato d<strong>os</strong> casament<strong>os</strong> nas<br />

histórias serem sempre pensad<strong>os</strong> como casament<strong>os</strong> matrilaterais, denotan<strong>do</strong> o valor que este<br />

tipo de união tem para o pensamento kalapalo.<br />

Por fim, a marcação ritual <strong>do</strong> tio materno fica muito clara na ocasião da realização de<br />

casament<strong>os</strong> arranjad<strong>os</strong>. Basso (1973a, p. 90) se limita a afirmar que “the marriage prop<strong>os</strong>al is<br />

made m<strong>os</strong>t often by the boy’s parents to the relatives of the girl”, não dan<strong>do</strong> mais detalhes<br />

sobre o arranjo. Entretanto, quan<strong>do</strong> um casamento é arranja<strong>do</strong> normalmente quem o faz são a<br />

mãe <strong>do</strong> noivo e o pai da noiva, que idealmente devem ser “irmã<strong>os</strong> de longe” ou prim<strong>os</strong><br />

cruzad<strong>os</strong>. E, após a realização <strong>do</strong> casamento, o noivo deve presentear seu sogro (seu tio<br />

materno), por intermédio de sua mãe ou de sua esp<strong>os</strong>a, com um colar de placas de concha de<br />

caramujo (inhu aketühügü), considera<strong>do</strong> pagamento (opijü) pela noiva. Ele deveria também<br />

presentear sua sogra com um pente (handa), mas que é um presente men<strong>os</strong> necessário <strong>do</strong> que<br />

o pagamento <strong>do</strong> tio materno-sogro. O pagamento <strong>do</strong> sogro deve ser feito idealmente através<br />

da mãe <strong>do</strong> noivo na hora da mudança de sua rede para a casa <strong>do</strong> pai da noiva, mas, caso o<br />

jovem não disponha de um colar para dar, ele poderá fazê-lo no futuro, pedin<strong>do</strong> então que sua<br />

mulher o <strong>entre</strong>gue a seu pai quan<strong>do</strong> estiver pronto.<br />

Mas, assim como <strong>entre</strong> <strong>os</strong> Aguaruna, a distinção <strong>entre</strong> prim<strong>os</strong> matri e bilaterais<br />

c<strong>os</strong>tuma ser confundida em vári<strong>os</strong> cas<strong>os</strong>. Além disso, há cas<strong>os</strong> n<strong>os</strong> quais o casamento se passa<br />

de fato com uma prima cruzada matrilateral, mas é segui<strong>do</strong> de um casamento subseqüente<br />

(não combina<strong>do</strong> e tampouco obrigatório) de seu cunha<strong>do</strong> com alguma mulher classificada<br />

como sua “irmã” ou “prima” (o que, <strong>do</strong> ponto de vista da produção da afinidade, não faz<br />

diferença para a terminologia kalapalo). Assim, homens que fizeram casament<strong>os</strong> matrilaterais<br />

ficam na p<strong>os</strong>ição de homens que trocaram irmãs ou primas com outr<strong>os</strong> homens (que podem<br />

ter feito qualquer tipo de casamento). Esta é uma situação curi<strong>os</strong>a, pois <strong>do</strong> ponto de vista<br />

inter-geracional (<strong>do</strong> sogro e <strong>do</strong> genro) estas uniões continuam sen<strong>do</strong> relações assimétricas de<br />

<strong>aliança</strong>, enquanto adquirem um caráter “restrito” <strong>do</strong> ponto de vista da mesma geração (na<br />

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