Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...
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Assim, tem-se uma terminologia que sugere a preferência pelo casamento de prim<strong>os</strong><br />
cruzad<strong>os</strong> (se levada em conta somente a estrutura formal da terminologia, seria p<strong>os</strong>sível falar<br />
em uma preferência pelo casamento de prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> bilaterais), mas que pr<strong>os</strong>creve o<br />
casamento de prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> “próxim<strong>os</strong>” (abrin<strong>do</strong> exceção para prim<strong>os</strong> que não vivam há<br />
temp<strong>os</strong> na mesma aldeia). Trata-se de uma terminologia simétrica, dual, mas que na verdade<br />
recobre um ternarismo produzi<strong>do</strong> pela lateralidade das classificações distintivas <strong>entre</strong> parentes<br />
próxim<strong>os</strong> e distantes, assim como vári<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> sistemas amazônic<strong>os</strong> 83 : a op<strong>os</strong>ição <strong>entre</strong><br />
paralel<strong>os</strong> e cruzad<strong>os</strong> recobre a gradação <strong>entre</strong> parentes paralel<strong>os</strong> próxim<strong>os</strong>, parentes cruzad<strong>os</strong><br />
próxim<strong>os</strong> e parentes distantes em geral.<br />
O casamento <strong>entre</strong> prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> “distantes” é preferi<strong>do</strong> em relação ao casamento<br />
<strong>do</strong> filho de uma irmã com a filha de um irmão “verdadeir<strong>os</strong>” (prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> de primeiro<br />
grau). Como tais prim<strong>os</strong> distantes são em sua maioria, como ainda verem<strong>os</strong> n<strong>os</strong> próxim<strong>os</strong><br />
capítul<strong>os</strong>, filh<strong>os</strong> de prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> de sexo op<strong>os</strong>to, isto traz a necessidade de se discutir as<br />
classificações d<strong>os</strong> parentes em G -1 (a geração d<strong>os</strong> filh<strong>os</strong> de german<strong>os</strong> e prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong>). Por<br />
alguma razão, dad<strong>os</strong> sobre este tipo de classificação foram deixad<strong>os</strong> de fora d<strong>os</strong> trabalh<strong>os</strong> de<br />
Basso (1969, 1973a, 1975); <strong>entre</strong>tanto, Souza (1992, p. 39) nota que Dole já havia coleta<strong>do</strong><br />
estas informações <strong>entre</strong> <strong>os</strong> Kuikuro:<br />
(...) tanto no artigo de 1969, em que Dole apresenta a estrutura da terminologia sem <strong>os</strong> term<strong>os</strong>,<br />
quanto em 1983/4, quan<strong>do</strong> ela dá uma lista d<strong>os</strong> term<strong>os</strong> de referência Kuikúru, fica claro que a<br />
distribuição d<strong>os</strong> kintypes nas categorias de G-1 obedece ao cálculo iroquês, e não dravidiano: o<br />
importante na classificação d<strong>os</strong> filh<strong>os</strong> de prim<strong>os</strong> é o sexo relativo de Ego e <strong>do</strong> parente de<br />
ligação (o primo), não o cruzamento; (...) O mo<strong>do</strong> de apresentação de Basso não permite<br />
verificar se o mesmo se aplica a<strong>os</strong> <strong>Kalapalo</strong>.<br />
Conforme observa<strong>do</strong> em campo, o mesmo tipo de cálculo “iroquês” verifica<strong>do</strong> por<br />
Dole <strong>entre</strong> <strong>os</strong> Kuikuro existe <strong>entre</strong> <strong>os</strong> <strong>Kalapalo</strong>: filh<strong>os</strong> de prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> de mesmo sexo<br />
classificam-se como german<strong>os</strong> (ihisuandaõ) e filh<strong>os</strong> de prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> de sexo op<strong>os</strong>to<br />
classificam-se como prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> (ihandaõ). Como conseqüência disto, Ego se refere a<strong>os</strong><br />
filh<strong>os</strong> de seus prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> de mesmo sexo, patri ou matrilaterais, como ulimo (“meus<br />
filh<strong>os</strong>”, sem distinção de gênero) - fato que se observa também <strong>entre</strong> <strong>os</strong> Kuikuro.<br />
83 Ver <strong>os</strong> artig<strong>os</strong> reunid<strong>os</strong> em Viveir<strong>os</strong> de Castro (1995).<br />
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