Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...
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Figura 4.1: representação em diagrama genealógico da forma básica das terminologias de fusão bifurcada em<br />
G +1 e G Ø . G -1 e G ±2 foram excluídas pelo fato de variarem de sistema para sistema. Adapta<strong>do</strong> a partir de<br />
Mur<strong>do</strong>ck (op. cit.)<br />
Sobre o casamento, Oberg afirma que este obedeceria a uma regra prescritiva de<br />
casamento <strong>entre</strong> prim<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong> bilaterais 88 (p. 66), e que, na imp<strong>os</strong>sibilidade de realização<br />
deste tipo de <strong>aliança</strong>, <strong>os</strong> Kamayurá a<strong>do</strong>tariam uma solução “secundária”, de tipo avuncular,<br />
para a realização <strong>do</strong> casamento, e praticariam o casamento com a filha da irmã (ZD). O autor<br />
não apresenta dad<strong>os</strong> empíric<strong>os</strong> sobre <strong>aliança</strong>s matrimoniais, mas, em contradição com a<br />
afirmação sobre a prescrição <strong>do</strong> casamento bilateral, sugere que o casamento de prim<strong>os</strong><br />
ocorreria em senti<strong>do</strong> matrilateral (casamento com a filha <strong>do</strong> irmão da mãe, MBD), por causa<br />
da etimologia <strong>do</strong> termo kamayurá para “casamento” (apitahók, que significaria “ir para a casa<br />
<strong>do</strong> irmão da mãe” - apí, MB, e hok, casa). Oberg afirma ainda que a terminologia kamayurá<br />
indicaria que eles estariam classificatoriamente repartid<strong>os</strong> em <strong>do</strong>is grandes “grup<strong>os</strong>” dispers<strong>os</strong><br />
pel<strong>os</strong> vári<strong>os</strong> grup<strong>os</strong> <strong>do</strong>méstic<strong>os</strong>, sen<strong>do</strong> que um deles é de onde viriam <strong>os</strong> pais e irmã<strong>os</strong> de um<br />
homem e outro ao qual pertenceriam sua mãe e suas esp<strong>os</strong>as, e no qual suas irmãs se<br />
casariam. Independentemente da ausência de unidades sóciocêntricas, o autor fez a<br />
organização social kamayurá se <strong>do</strong>brar a um modelo de “duas seções” que se adequaria<br />
perfeitamente à terminologia cruzada dual e simétrica por ele descrita, apesar da contradição<br />
com a sup<strong>os</strong>ta preferência matrilateral e a alternativa avuncular (além, claro, das próprias<br />
incompatibilidades <strong>entre</strong> semelhante modelo e a realidade etnográfica).<br />
Mas as hipóteses de Oberg não só não se sustentam etnograficamente como a<br />
existência de um tipo de classificação a princípio op<strong>os</strong>ta àquela presente nas terminologias de<br />
fusão bifurcada, bem como uma visão matizada <strong>do</strong> lugar d<strong>os</strong> casament<strong>os</strong> de prim<strong>os</strong> no<br />
sistema, põem em xeque a viabilidade de se realizar, como este autor tentou fazer, uma leitura<br />
dualista “simples” <strong>do</strong> parentesco xinguano.<br />
88 O mesmo seria váli<strong>do</strong> para <strong>os</strong> Kuikuro, que segun<strong>do</strong> Oberg equacionam MBW a FZ e vice-versa (FZH = MB).<br />
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