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Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...

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orienta suas relações, mas sem indicar nem superioridade <strong>do</strong> falante, como uhaumeti ou<br />

uhaumetigü, nem liberdade excessiva, como hehuko ou hehu. A abreviação de kuñatu, por<br />

fim, kuña, seria uma espécie de “equivalente” ao termo uhaumeti, mas forma<strong>do</strong> a partir da<br />

palavra em português – e cuja transformação seguiu as mesmas regras da fonética e da<br />

etiqueta kalapalo para ser aplicada ao uso com <strong>os</strong> afins, sen<strong>do</strong> utilizada por afins em p<strong>os</strong>ição<br />

superior que desejam demonstrar seu status a<strong>os</strong> ouvintes (algo pouco poli<strong>do</strong> <strong>do</strong> ponto de vista<br />

<strong>do</strong> ihütisü que deve existir <strong>entre</strong> cunhad<strong>os</strong>).<br />

Quanto a<strong>os</strong> upahene (relembran<strong>do</strong>, german<strong>os</strong> de mesmo sexo que o cônjuge), eles se<br />

encontram numa p<strong>os</strong>ição que Souza (1992) afirma ser paralela à de primo cruza<strong>do</strong>. É um tipo<br />

de relação que seria bastante sexualizada, livre de to<strong>do</strong> tipo de normatização – livre <strong>do</strong><br />

próprio ihütisü e, conseqüentemente, tanto da “marca” <strong>do</strong> parentesco quanto da afinidade. Os<br />

homens podem ter acesso, caso queiram, às irmãs de sua esp<strong>os</strong>a, o que é um caso bastante<br />

freqüente. Podem se referir a elas livremente, pronunciar seus nomes, criticá-las, solicitar<br />

ajuda e favores, fazer brincadeiras, e a licenci<strong>os</strong>idade é recíproca. Já para as mulheres, apesar<br />

de haver cas<strong>os</strong> de poliandria conhecid<strong>os</strong> no passa<strong>do</strong>, hoje não se verifica nenhum caso desse<br />

tipo em Aiha – que <strong>os</strong> <strong>Kalapalo</strong>, segun<strong>do</strong> Basso (1973a), consideram “amusing” (e cuja<br />

menção, de fato, provoca gargalhadas n<strong>os</strong> informantes e naqueles que estiverem passan<strong>do</strong> por<br />

perto), mas vale a recíproca da ausência de ihütisü, da liberalidade nas relações cotidianas e<br />

<strong>do</strong> acesso sexual (potencial) ao mari<strong>do</strong> da irmã.<br />

Assim como <strong>os</strong> term<strong>os</strong> para afins de G Ø , a terminologia <strong>entre</strong> sogr<strong>os</strong> e genr<strong>os</strong> é<br />

recíproca. Tal reciprocidade terminológica também não significa, assim como <strong>entre</strong> cunhad<strong>os</strong><br />

de mesmo sexo, que a “quantidade” da vergonha e da obrigatoriedade da cooperação que<br />

marcam as relações <strong>entre</strong> sogr<strong>os</strong> e genr<strong>os</strong> ou noras também o sejam. Muito pelo contrário,<br />

trata-se de relações extremamente assimétricas: mais <strong>do</strong> que term<strong>os</strong> de parentesco, uhütisü<br />

(WF, para Ego masculino, e HM, para Ego feminino) e uhütisoho (WM, para Ego masculino,<br />

e HF, para Ego feminino) são expressões que significam respectivamente “minha vergonha” e<br />

“minha grande vergonha”, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> sexo <strong>do</strong> falante e <strong>do</strong> referente (sen<strong>do</strong> que a<br />

vergonha é maior <strong>entre</strong> um genro e sua sogra e <strong>entre</strong> um sogro e sua nora <strong>do</strong> que <strong>entre</strong> <strong>os</strong><br />

pares sogro-genro e sogra-nora). Não devem nunca ser utilizad<strong>os</strong> em público, e as pessoas<br />

nestas p<strong>os</strong>ições jamais devem dirigir-se umas às outras por estes term<strong>os</strong>, uma atitude<br />

considerada extremamente indecor<strong>os</strong>a. Um eventual descui<strong>do</strong> tem um potencial desastr<strong>os</strong>o,<br />

pois o fato provocaria uma enorme vergonha por parte <strong>do</strong> afim em p<strong>os</strong>ição inferior (isto é, o<br />

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