Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...
Parentesco e aliança entre os Kalapalo do Alto Xingu - Comunidade ...
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“prim<strong>os</strong>”, de mo<strong>do</strong> que desta forma talvez até seja p<strong>os</strong>sível retraçar relações de para-<br />
parentesco <strong>entre</strong> um homem e uma mulher não-aparentad<strong>os</strong>, através das mediações de<br />
amig<strong>os</strong>.<br />
Mas, diferentemente <strong>do</strong> que fez Taylor (op. cit.) com <strong>os</strong> dad<strong>os</strong> kand<strong>os</strong>hi, não parece<br />
p<strong>os</strong>sível fazer nenhuma estatística no intuito de procurar “nex<strong>os</strong> endógam<strong>os</strong>” no sistema<br />
kalapalo em relação a<strong>os</strong> casament<strong>os</strong> <strong>entre</strong> pessoas não aparentadas, pois para isto seria<br />
necessário que se dispusesse de dad<strong>os</strong> genealógic<strong>os</strong> de gerações afastadas o suficiente para<br />
determinar se de fato, assim como no caso kand<strong>os</strong>hi, estes “não-parentes” não se tratariam de<br />
fato de parentes muito distantes, ao ponto de se classificarem como pessoas sem relações de<br />
parentesco. Um esforço deste tipo não parece ser muito produtivo, pois a coleta de material<br />
genealógico em Aiha data desde 1999 (CARDOSO, 1999) e dificilmente seria p<strong>os</strong>sível ir<br />
além <strong>do</strong> que já foi feito. Os <strong>Kalapalo</strong> consideram que algumas pessoas com as quais se casam<br />
não são seus parentes e, portanto, não sei se vale a pena insistir em procurar relações de<br />
parentesco <strong>entre</strong> elas. Pois, se determinar estas relações f<strong>os</strong>se mesmo importante, certamente<br />
<strong>os</strong> <strong>Kalapalo</strong> as guardariam de alguma forma, o que não é o caso; esta é uma das facetas<br />
“complexas” <strong>do</strong> sistema kalapalo, que acredito que não deve tentar ser reduzida a nenhuma<br />
fórmula que a atraia para o pólo da elementaridade; esta complexidade, esta capacidade de<br />
incorporação de nov<strong>os</strong> parceir<strong>os</strong> de troca, faz parte das sociedades xinguanas em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong><br />
aspect<strong>os</strong> (FAUSTO, 2005), e no campo <strong>do</strong> parentesco ela deve ser vista como tal e, ao invés<br />
de reduzida, deve ser traduzida em princípi<strong>os</strong> p<strong>os</strong>itiv<strong>os</strong> que permitam compreendê-la – e a<br />
participação d<strong>os</strong> “amig<strong>os</strong>” neste processo sem dúvida merece um tratamento à altura. Talvez<br />
valha mais a pena, em uma pesquisa futura, tentar remontar eventuais relações de parentesco<br />
<strong>entre</strong> as esp<strong>os</strong>as e <strong>os</strong> homens que seus marid<strong>os</strong> classificam como seus “amig<strong>os</strong>”, o que<br />
poderia ter algum rendimento p<strong>os</strong>itivo no estu<strong>do</strong> das redes de relações p<strong>os</strong>tas em movimento<br />
como pano de fun<strong>do</strong> de casament<strong>os</strong> <strong>entre</strong> não-parentes, principalmente de etnias distintas.<br />
Eventualmente, pesquisas futuras mais aprofundadas com mais tempo de campo,<br />
levantament<strong>os</strong> em outras aldeias e o auxílio de ferramentas de informática para a pesquisa de<br />
redes extensas talvez permitam que se reconstruam p<strong>os</strong>síveis laç<strong>os</strong> <strong>entre</strong> estas pessoas que se<br />
dizem não-aparentadas através <strong>do</strong> para-parentesco e seja p<strong>os</strong>sível ter uma noção melhor <strong>do</strong><br />
que estes tip<strong>os</strong> de uniões realmente significam para o sistema de <strong>aliança</strong>; mas, por enquanto,<br />
infelizmente não é p<strong>os</strong>sível abordar o problema da forma que ele merece.<br />
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